Questão 2 Comentada - Câmara Municipal de Tatuí - São Paulo - Contador - VUNESP (2019)

Por quê?


“Correlação não é causa” é um mantra que todos aqueles que já entraram numa aula de estatística ou de metodologia científica ouviram. E de fato não é. O canto do galo e o nascer do sol estão fortemente correlacionados, mas ninguém deve achar que é o som emitido pelo galináceo que provoca o surgimento do astro todas as manhãs.

O problema é que, durante muito tempo, estatísticos e cientistas se deixaram cegar pelo mantra e renunciaram a investigar melhor a causalidade e desenvolver ferramentas matemáticas para lidar com ela, o que é perfeitamente possível. Essa pelo menos é a visão do cientista da computação Judea Pearl, exposta em “The Book of Why” (O livro do porquê), obra que escreveu com o matemático e jornalista científico Dana Mackenzie.

Os prejuízos foram grandes. Muitas vidas se perderam porque, por várias décadas, a ciência julgou não ter meios para estabelecer com segurança se o cigarro causava ou não câncer, incerteza que a indústria do tabaco foi hábil em explorar.

Em “The Book of Why”, Pearl e Mackenzie explicam de forma razoavelmente didática quais são as novas técnicas que permitem responder a perguntas causais como “qual a probabilidade de esta onda de calor ter sido provocada pelo efeito estufa?” ou “foi a droga X que curou a doença Y?”. Mais até, os autores falam em usar a estatística para destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais1 .

Uma advertência importante que os autores fazem a entusiastas do “big data”2 é que não podemos nos furtar a entender as questões estudadas e formular teorias. Não se chega a lugar nenhum só com dados e sem hipóteses.

Minha sensação, pela retórica empregada (não tenho competência para avaliar tecnicamente), é que Pearl exagera um pouco. Ele faz um uso pouco comedido de termos como “revolução” e “milagre”. Mas é um cientista de primeira linha e, mesmo que ele esteja aumentando as coisas em até 30%, ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro.

(Hélio Schwartsman. 19.08.2018. www.folha.uol.com.br. Adaptado)


1contrafactual: simulação (sentido aproximado)

2big data: grande banco de dados



Assinale a alternativa em que a reescrita do trecho não prejudica o sentido original do texto.

  • A Os prejuízos foram grandes. (3° parágrafo) Foram grandes os prejuízos.
  • B ... destrinchar o obscuro mundo dos contrafactuais. (4° parágrafo) ... destrinchar o mundo dos contrafactuais obscuros.
  • C Não se chega a lugar nenhum só com dados e sem hipóteses. (5° parágrafo) Não se chega a lugar nenhum só, com dados e sem hipóteses.
  • D Ele faz um uso pouco comedido de termos... (6° parágrafo) Ele faz um uso comedido de poucos termos...
  • E ... ainda sobram muitas ideias fascinantes no livro. (6° parágrafo) ... ainda sobram ideias muito fascinantes no livro.