Questão 3 Comentada - Tribunal Regional Eleitoral do Amapá - Técnico - Administrativo - FCC (2015)

Recém-chegado a Roma em 1505, Michelangelo Buonarroti foi contratado para fazer aquela que vislumbrava como a obra de sua vida. O jovem que acabara de se consagrar como escultor do Davi recebeu a incumbência de criar o futuro túmulo do papa Júlio II. O projeto consistia no maior conjunto de esculturas desde a antiguidade. Mas Júlio II mudou de ideia: antes de fazer o túmulo, resolveu reconstruir a Catedral de São Pedro. Com o adiamento, Michelangelo recebeu um prêmio de consolação: pintar o teto de uma capela de uso reservado que se encontrava em estado deplorável.


Michelangelo resistiu a pintar a capela não apenas por julgar que seria um projeto menor. Relatos indicam que, na raiz disso, havia uma forte insegurança. O artista, que se considerava um escultor, cortava de forma peremptória quando lhe pediam uma pintura: “não é minha profissão”. Hoje, é curioso imaginar que o criador do teto da Capela Sistina possa ter resistido a seu destino.


Michelangelo fez fortuna servindo a sete papas e a outros tantos notáveis, como o clã florentino dos Medici. Nem sempre, porém, entregava o que prometia. Para sobreviver, enfim, Michelangelo teve de enfrentar questões que afligem os seres humanos em qualquer tempo. Como no caso de sua resistência a trocar a escultura pela pintura, quem nunca tremeu nas bases ao ser forçado a sair de sua zona de conforto? Em matéria de pressão competitiva, a arte renascentista não diferia tanto do ambiente de busca pelo alto desempenho das corporações modernas. O jovem Michelangelo penou para demonstrar o valor de seu gênio numa Florença dominada por estrelas veteranas como Leonardo da Vinci.


O corpo humano foi o campo de batalha artística de Michelangelo. Como definiu o pintor futurista Umberto Boccioni (1882-1916), essa era sua “matéria arquitetônica para a construção dos sonhos”. Michelangelo criou corpos perfeitos, mas irreais: o Davi tem musculatura de homem adulto, mas compleição de menino. Com isso, o artista resgatava a imagem juvenil dos deuses gregos.

(Adaptado de Revista VEJA. Edição 2445, 30/09/2015)



Está gramaticalmente correta, de acordo com a norma culta, a redação do comentário que se encontra em:

  • A Quando trabalhava as pressas ou sem motivação, até um artista como Michelangelo não conseguia superar as realizações médias de seu tempo; por vezes parava e retomava seus projetos, conforme se revezava no poder os seus clientes.
  • B O espírito indomável de Michelangelo causava temor: diante de dissabores como um bloco de mármore defeituoso, presenciava-se ataques de fúria.
  • C A concorrência com outros artistas, ativaram os motores da superação criativa de Michelangelo, que com o também florentino Leonardo da Vinci, envolveram-se numa disputa célebre sobre qual forma de arte era mais elevada.
  • D A bela Pietá de Florença, da fase tardia de Michelangelo, foi salva por pouco da destruição, uma vez que conservam às marcas de golpes do artista, que estava descontente com a obra.
  • E A noção de que Michelangelo conferia uma graça genial a tudo o que tocava é falsa. Embora respeitáveis, as imagens que fez para a Catedral de Siena revelam-se aquém de seus melhores trabalhos.