Questão 2 Comentada - Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina (CBM-SC) - Oficial Bombeiro Militar - Instituto Consulplan (2023)

Sem medo de errar

    A atmosfera política do mês passado não foi a de um spa nas montanhas. Era abrir o celular e vinha artilharia pesada, agressões que abalavam o sistema nervoso. Cada um defendeu sua saúde mental como pôde. A leitura sempre me salva nessa hora, mas, ao invés de buscar algum livro inquietante, como gosto, me socorri com Buda, já que Deus estava sobrecarregado. Atravessei os diaslendo “Eu posso estar errado”, de Björn Natthiko Lindeblad, um monge sueco que faleceu recentemente, aos 60 anos.

     Aos 26, ele era um economista bem-sucedido, com muitos ternos no armário e voos em classe executiva. Até que se fez a pergunta de um milhão: É isso que eu quero mesmo? A fim de buscar um sentido espiritual para sua vida, largou tudo e aterrissou com sua mochila num mosteiro na Tailândia. Ao se apresentar a um abade, escutou: “Pode ir para o dormitório. Se ainda estiver aqui daqui a três dias, raspe a cabeça”.

    Foi uma experiência radical de desapego, isolamento e dúvidas – benditas dúvidas, que geram reflexões como a que dá título ao livro: “Eu posso estar errado”. Quantas vezes a gente diz isso para si mesmo? Duas a cada 100 anos.

    Ele aconselha usar a frase como mantra para momentos de tensão, situações de enfrentamento, discussões virulentas. Pense: “eu posso estar errado”. A paz, subitamente, cai do céu. Fui criada para acertar, para nunca me desviar do que é correto. O que é ótimo, mas lá pelas tantas o acerto ganhou um status exagerado, a coisa foi ficando militarizada, reprimiu a espontaneidade. Ora, errar faz parte do crescimento. As pessoas se enganam, brigam, falam sem pensar, magoam, pedem desculpas, e assim, aos tropeços, vai se construindo uma identidade mais verdadeira, que se reconhece complexa, não perfeita.

    Ninguém sabe tudo, ninguém acerta o tempo todo – os fortes são os primeiros a reconhecer. Já os fracos se apegam a discursos laudatórios autorreferentes e a uma rigidez cuja única função é disfarçar sua vulnerabilidade. Se declaram acima dos mortais e ficam lá no topo, sozinhos. Este é o isolamento fatal.

    Não sou rigorosa com os outros, mas comigo sempre fui tirana, não me permitia falhar. Ainda me permito pouco: sou exemplar cumpridora de tarefas, atenta, educada e tudo o mais que se preza. Mas erro feio – comigo – ao não relaxar diante de eventuais vacilos e por me exigir o que não exijo de ninguém. Lidar com o erro de forma tranquila nos torna pessoas menos obsessivas, portanto, menos chatas, o que é uma contribuição para a paz mundial.

    Então, vamos em frente buscando a eficiência possível, mas aceitando que a perfeição é um delírio e que a nossa verdade nem sempre bate com a verdade do outro. Fazer o quê? Respirar fundo. Aqui mesmo, que a Tailândia é muito longe.

(MEDEIROS, Martha. Sem medo de errar. Jornal O Globo, 2022. Disponível em https://oglobo.globo.com/ela/martha-medeiros/ coluna/2022/11/sem-medo-de-errar.ghtml. Acesso em: 31/12/22.)


Observe esta passagem: “Ao se apresentar a um abade, escutou: ‘Pode ir para o dormitório. Se ainda estiver aqui daqui a três dias, raspe a cabeça’.” (2º§). Ao transpô-la para o discurso indireto, a construção que apresenta coesão, coerência e correção gramatical é:
  • A “Ao se apresentar a um abade, escutou que poderia ir para o dormitório. Se ainda estivesse ali daqui a três dias, rasparia a cabeça.”
  • B ) “Ao se apresentar a um abade, escutou que podia ir para o dormitório. Se ainda estiver lá dali há três dias, que raspasse a cabeça.
  • C “Ao se apresentar a um abade, escutou que pôde ir pro dormitório, que se ainda estiver aqui após três dias, que raspava a cabeça.”
  • D “Ao se apresentar a um abade, escutou que podia ir para o dormitório e que se ainda estivesse lá dali a três dias, que raspasse a cabeça.”
  • E “Ao se apresentar a um abade, escutou que pudera ir para o dormitório. Que se ainda estivesse aqui depois de três dias, que raspara a cabeça.”

Gabarito comentado da Questão 2 - Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina (CBM-SC) - Oficial Bombeiro Militar - Instituto Consulplan (2023)

Vamos analisar a transformação do discurso direto para o indireto, aplicando as regras gramaticais: Discurso Direto: “Ao se apresentar a um abade, escutou: 'Pode ir para o dormitório. Se ainda estiver aqui daqui a três dias, raspe a cabeça'." Regras de Transposição: Verbos no presente do indicativo no discurso direto passam para o pretérito imperfeito do indicativo no discurso indireto. Verbos no imperativo, presente ou futuro do subjuntivo no discurso direto passam para o pretéri...

Somente usuários Premium podem acessar aos comentários dos nossos especialistas...

Que tal assinar um dos nossos planos e ter acesso ilimitado a todas as resoluções de questões e ainda resolver a todas as questões de forma ilimitada?

São milhares de questões resolvidas!

Assine qualquer plano e tenha acesso a todas as vantagens de ser Premium