Questão 2 Comentada - Prefeitura de Macapá - AP - Assistente Social - FCC (2018)

                     Pensamento crítico de José Saramago


      Brilhante provocador intelectual, consciência insatisfeita, duro polemista e detonador de conformismos, além de refinado analista e observador atento de seu tempo, o escritor português José Saramago assumiu, com visível energia a partir da década de 1990, a função crítica do homem de cultura envolvido pelo pulsar de seu tempo. Concernido pelo mundo e pela natureza do ser humano, empreendeu a tarefa de desestabilizar, mediante o questionamento, uma realidade social que julgou opaca, confusa e injusta.

      Saramago destacava “a necessidade de abrir os olhos” e, como Aristóteles, apegava-se à obrigação de elevar o julgamento ao nível da maior lucidez possível. Essa busca exigente das facetas ocultas da verdade – “as verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global”, garante – o conduziria a explorar o outro lado do visível, circulando por caminhos que escapavam ao costume. Tratava-se, em resumo, de procurar enxergar com clareza, para o que se tornava iniludível a tarefa de revelar e resgatar as omissões. Iluminar e desentranhar o real constituía uma aspiração central de seu pensamento.

      Com base nesses pressupostos, enfrentou o que chamava pensamento único – ou pensamento zero, como também o qualificava – opondo-lhe a resistência de uma autêntica barricada moral e intelectual. Suas visões alternativas foram expressas com a clareza e a autonomia de um livre-pensador que reage contra as deformações dos mitos e as limitações das versões oficiais. Praticou, como o filósofo francês Voltaire, a dúvida sistemática, reagindo com firmeza à indolência da frase que diz “sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo”, defendida pelo poeta Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa.

(Comentário sem indicação autoral ao livro As palavras de Saramago. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 453-454) 



No 3° parágrafo do texto, o filósofo Voltaire e o poeta Ricardo Reis são citados de modo a

  • A apresentar duas posições complementares, no que diz respeito a atitudes a serem tomadas diante do espetáculo do mundo.
  • B valorizar sobremaneira a discrição dos poetas, notadamente mais consequente do que a dúvida dos filósofos.
  • C mostrar como antagônicas a desconfiança filosófica e o sábio prazer de quem se satisfaz com o mundo.
  • D contrastar a restrição do conhecimento que está na dúvida e a inteireza do saber que não teme a indolência.
  • E equiparar a vantagem que está no conformismo com o relativo sucesso de quem cultiva a dúvida como método.