Questão 55 Comentada - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Taquígrafo Especialista (2018)

A questão  refere-se ao trecho a seguir. 

   De todos os fenômenos da cultura humana, o mito e a religião são os mais refratários a uma análise meramente lógica. O mito, à primeira vista, parece apenas caos − uma massa disforme de ideias incoerentes. Procurar as “razões” para tais ideias parece fútil e vão. Se existe alguma coisa que seja característica do mito, é o fato de que ele “não tem pé, nem cabeça”. Quanto ao pensamento religioso, não está de modo algum em oposição, necessariamente, ao pensamento racional ou filosófico. Determinar a verdadeira relação entre esses dois modos de pensamento foi uma das principais tarefas da filosofia medieval. Nos sistemas do alto escolasticismo, o problema parecia ter sido solucionado. Segundo Tomás de Aquino, a verdade religiosa é supranatural e suprarracional; mas não é “irracional”. Com base apenas na razão, não podemos penetrar os mistérios da fé. No entanto, esses mistérios não contradizem, mas completam e aperfeiçoam a razão. 

(CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem: introdução a uma filosofia da cultura. Trad. Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 1994, Coleção Tópicos, p. 121) 



A alternativa que apresenta os pontos mais relevantes do trecho acima, de modo claro, conciso e em conformidade com a norma-padrão da língua é:

  • A O pensamento não é sempre detentor das verdades, sejam filosóficas, religiosas ou míticas. Inerentemente “sem pé, nem cabeça”, o mito torna fútil tentativas de entendê-lo. Sobre o pensamento religioso: não é obrigatório ser oposto à razão e à filosofia. Tomás de Aquino, escolástico, diz que a religião não é irracional, mesmo sendo supranatural e suprarracional. E os mistérios aperfeiçoam a razão.
  • B Fenômenos que parecem caóticos, incompreensíveis, não quer dizer que sejam refratários a uma análise lógica ou filosófica. Se fossem, seria futilidade lidar com eles. O mito e o pensamento religioso foram grandes desafios enfrentados pelos sistemas do alto escolasticismo, solucionados, por breve tempo, por Tomás de Aquino, ao defender que as verdades desses fenômenos não são irracionais.
  • C Ser refratário a uma análise fundada na razão não é mérito só do mito, mas também da religião. Ambos se aproximam, por ser fútil tentar desvendá-los. A filosofia, com Tomás de Aquino, tentou resolver o impasse, vendo a verdade religiosa como impenetrável, mas não por ser “irracional”; sendo supranatural e suprarracional, tem mistérios, que, compreendidos, reforçam a razão.
  • D Uma tarefa central da filosofia medieval foi entender a relação da religião com a racionalidade. Segundo o escolástico Tomás de Aquino, a verdade religiosa é supranatural e suprarracional, mas não “irracional”. Seus mistérios são imunes à razão pura, mas eles não a contradizem: a completam e aprimoram. Como a religião, o mito, por sua aparente incoerência, desafia também a razão.
  • E A cultura humana tem como o maior desafio entender o mito e a religião; o primeiro, por sua incoerência, a segunda, por ser, às vezes, avessa ao pensamento racional ou filosófico. Parece inócuo buscar as razões desses fenômenos. Segundo Tomás de Aquino, ser supranatural e suprarracional não é ser “irracional”, o que soluciona a questão, pois os mistérios, ao invés de contrariar a razão, a confirmam.