Medo do que é diferente ou desconhecido
Xenofobia é o termo que faz referência ao comportamento de aversão, medo ou ódio diante de pessoas consideradas estrangeiras. É um fenômeno social que está atrelado a própria história da humanidade, mas tornou-se evidente em razão dos conflitos geopolíticos pelo mundo e aumento nos fluxos migratórios.
No Brasil, esse tipo de preconceito atinge não só estrangeiros, mas também negros e nordestinos. E vem sendo intensificado pelas redes sociais. Segundo a ONG Safernet – criadora da central de denúncias de crimes cibernéticos, em parceria com a SDH (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República) –, mais de 600 páginas com conteúdos xenofóbicos foram encontradas na internet no ano de 2019. A maioria dos sites tinha hospedagem fora do país, mas eram gerenciadas por brasileiros.
O que significa xenofobia?
Xenofobia é o resultado da junção das palavras gregas (estrangeiro, estranho) e (medo). Então, de forma simplificada, significa “medo do estrangeiro” ou “medo do estranho”. Embora existam discordâncias entre teóricos no que diz respeito ao conceito, esse termo geralmente é usado para retratar o conjunto de ações ou práticas motivadas pelas diferenças geográficas, linguísticas ou étnicas de uma pessoa ou grupo.
Para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a xenofobia pode ser definida como:
Atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e frequentemente difamam pessoas, com base na percepção de que eles são estranhos ou estrangeiros à comunidade, sociedade ou identidade nacional.
É importante ressaltar que a palavra “estrangeiro” também é direcionada para pessoas que vivem no mesmo país, uma vez que os atos e comportamentos discriminatórios também ocorrem em relação a costumes e culturas que não são característicos de determinado local. Um exemplo são os estereótipos dados aos nordestinos e como são perpetuados nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Por que existe?
O ódio ou repulsa ao que é estranho é estimulado por diversos fatores, a exemplo da posição do indivíduo na hierarquia social, as informações transmitidas nos meios de comunicação e o contato com discursos políticos.
Os contextos socioeconômicos também intensificam a xenofobia, principalmente em momentos de crise. Diante da escassez de emprego, deficiências na saúde e educação, a população local passa a defender a ideia de restrição ou expulsão. A presença de forasteiros é mais aceita quando os recursos do Estado são restabelecidos e há uma demanda dos chamados subempregos. Ou seja, situações que não trazem a sensação de ameaça aos nativos.
Por se tratar de um ato discriminatório, também está diretamente vinculada a atitudes violentas e exposição do ódio. Segundo relatório da Secretaria Especial de Direitos Humanos, publicado em 2018, houve um crescimento de 633% das denúncias de xenofobia no Brasil em comparação com 2014. Esse aumento foi em consequência das ações contra os imigrantes venezuelanos que entraram no país pela fronteira em Roraima.
Além dessas circunstâncias, alguns estudos apontam que o medo e a hostilidade aos estrangeiros são impulsionados pelas seguintes questões:
- Sentimento de superioridade;
- Receio de perder o status social;
- Concepção de que os imigrantes representam uma ameaça ao desenvolvimento econômico;
- Defesa da identidade nacional e dos direitos, especialmente em períodos de crise;
- Aceitação de uma verdade única (o desconhecimento diante do estranho e a absorção de comentários generalizantes leva a construção de crenças, como a que todo muçulmano é terrorista e que na África existe apenas pobreza).
Influência do etnocentrismo
A aversão ao que é estranho ainda está ligado a outro fenômeno social: o etnocentrismo. Esse termo remete à visão de que um certo grupo étnico é superior aos demais, desconsiderando os elementos culturais, religiosos, linguísticos e sociais de todos aqueles que não se adequem aos seus modelos e valores.
A cultura etnocêntrica é sempre colocada como referencial e, por isso, estabelece uma qualificação e julgamento sobre os modos de vida. Foi justamente essa ideia de superioridade, da própria cultura como ponto de partida, que respaldou os movimentos de colonização e escravidão dos africanos.
Outro exemplo que marcou a história foi a ideologia de superioridade racial disseminada por Adolf Hitler. O regime nazista propagava um discurso de segregação, antissemitismo e extermínio dos que não pertenciam aos moldes da cultura germânica, fatores que levaram ao holocausto e a Segunda Guerra Mundial.
Vale lembrar que o pensamento etnocêntrico estimulou diversos movimentos xenófobos contra negros, porém, apesar de interligados, o racismo e a xenofobia não são sinônimos. Enquanto o primeiro prega uma superioridade em termos étnicos, o segundo tem ligação com o estranhamento envolvendo a nacionalidade.