Crítica à homogeneização das produções culturais para as massas
Indústria cultural é um conceito criado pelos intelectuais da Escola de Frankfurt. Ele expressa uma crítica marxista à padronização dos produtos culturais para difusão em grande escala. De acordo com os intelectuais que estruturaram esse conceito, a produção cultural estaria submetida às lógicas de produção que são próprias do contexto fabril. Ainda segundo os fankfurtianos, essa estrutura seria um mecanismo de alienação dos consumidores dos produtos culturais por parte das classes dominantes.
Desse modo, o conceito de indústria cultural se constitui como uma importante ferramenta para reflexão crítica da produção cultural dentro do contexto do capitalismo. Contudo, essa indústria também contribui para a popularização das produções artísticas e culturais. Neste artigo, vamos discutir um pouco mais acerca das contribuições que os frankfurtianos apresentam a partir desse conceito. Confira!
A origem do conceito
O conceito de indústria cultural foi desenvolvido pelos teóricos Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969) no livro “Dialética do Esclarecimento”. Nessa obra, eles organizam algumas das principais ideias integrantes da Teoria Crítica. O livro foi escrito durante o período em que os autores estavam exilados por conta do nazismo. Vale lembrar que maior parte dos intelectuais da escola de pensamento em que o conceito de indústria cultural é estruturado era judeu. Por isso, precisaram fugir da Alemanha, onde ocorria a ascensão do regime totalitário.
Nesse momento, eles dedicam parte de sua reflexão a entender como os meios de comunicação de massa podem ser utilizados para difundir e fortalecer estruturas de pensamento adotadas pela classe dominante. Aqui é importante relembrar que a propaganda nazista foi um dos principais meios de propagação das ideias de Adolf Hitler acerca da superioridade da raça ariana e de como os judeus e outras minorias étnicas, políticas, linguísticas e religiosas eram um problema para a economia da Alemanha já fragilizada pela Primeira Guerra Mundial.
Com o conceito de indústria cultural, os intelectuais explicam como a padronização possibilitada pelas mudanças ocorridas nas formas de trabalho e ascensão dos meios de comunicação serviam a um propósito ideológico. Segundo eles, além de reforçar os valores da classe dominante, essas produções tinham como objetivo a geração do lucro e, desse modo, servem aos ideais capitalistas. Outro ponto evidenciado é a padronização dos gostos que é executada pela homogeneização dos produtos ofertados.
Os produtos da indústria cultural eram produzidos para suprir a lacuna de entretenimento e lazer da população operária. Contudo, diferente das classes de maior poder aquisitivo, a eles eram ofertados produtos artísticos de baixa complexidade, baixa qualidade e fácil compreensão, pois seus criadores tinham internalizado que se tratava de consumidores com pouca capacidade intelectual. Os espaços de apreciação da dita cultura erudita continuavam restritos à classe dominante.
Os intelectuais por trás do conceito da indústria cultural
Como já adiantamos, Horkheimer e Adorno são os responsáveis por estruturar o conceito de indústria cultural. O livro no qual o termo é usado pela primeira vez foi escrito no ano de 1942, mas só publicado 30 anos depois. Ambos os escritores fizeram parte da Escola de Frankfurt, uma instituição formada por pensadores marxistas que surge na Alemanha no início do século XX. O pensamento estruturado por esses pensadores possui relevância até os dias atuais, em especial, para os pesquisadores que estudam as relações entre os meios de comunicação e consumo.
Max Horkheimer
Horkheimer foi um filósofo e sociólogo judeu. Ele desenvolveu o conceito de Razão Instrumental que diz respeito às formas tradicionais de pensar a ciência baseadas nos ideais positivos de que o avanço intelectual caminharia lado a lado com o avanço moral. Contudo, as experiências por ele vividas, em especial, as guerras e o nazismo, evidenciavam como a tecnologia era usada para fazer o mal. E, por conseguinte, evidenciava a incoerência da premissa. Além de “Dialética do Esclarecimento”, ele é autor de “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, “Eclipse da Razão”,
Theodor Adorno
Adorno foi um dos fundadores da Escola de Frankfurt. Em seus primeiros trabalhos, ele discute música e teoria da arte. Mas, logo passa a interessar-se sobre o impacto do capitalismo na produção artística e intelectual. Para ele, a cultura e a produção intelectual eram os meios possíveis de modificação da sociedade. Contudo, ele afirma que aqueles que se dedicam à produção intelectual devem ter em mente a sua incapacidade de dar conta da compreensão de todos os fenômenos. Entre as obras publicadas por esse filósofo, sociólogo e musicólogo estão “Filosofia da Nova Música”, “Crítica Cultural e Sociedade”, “Tempo Livre” e “A Indústria Cultural - o Iluminismo como Mistificação das Massas”.