Questão 2 Comentada - Polícia Civil do Estado da Bahia (PC-BA) - Delegado de Polícia - (Reaplicação) (2022)

Texto


  Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã me acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá, e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco. A gente toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse em um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue, e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o possível para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou com uns soldados mandou então que todos saíssem, que só podia ficar ali a polícia e mais ninguém.

  Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários sobre o fato eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia quando ouvira uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira meu pai com o revólver na mão e minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a dona Clarisse!” Por quê? Ninguém sabia compreender.

(REGO, José Lins do. Menino de Engenho. São Paulo: Global Editora, 2020.)



A cena do feminicídio introduz este romance de José Lins do Rego e é marcada:
  • A pela caracterização da precariedade da casa em que se passou o crime e que remete à ideia de abandono.
  • B por uma descrição detalhada do comportamento violento do pai que antecedeu o assassinato.
  • C pela busca incessante de motivos que justificassem a violência do episódio descrito.
  • D pela revolta dos espectadores da cena mostrando a reação da sociedade diante da violência apresentada.
  • E por uma sequência de ações do filho reforçando sua incompreensão do que era por ele observado.