Resumo de Educação Artística - Canção do exílio

Canção do exílio é um dos poemas líricos românticos mais conhecidos de Gonçalves Dias (1823-1864).

O poeta teve a obra publicada no seu livro “Primeiros Cantos” em 1857, sendo, inclusive, um dos poemas mais emblemáticos da primeira fase do Romantismo.

O poema canção do exílio diz o seguinte:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”

No vídeo abaixo, veja a recitação do poema canção do exílio:

Análise do poema canção do exílio

A canção do exílio é um poema composto por cinco estrofes, das quais três são quartetos (quatro versos) e dois são sextetos (seis versos).

A obra foi escrita por Gonçalves Dias no ano de 1843, quando ele ainda estava na Universidade de Coimbra (Portugal), cursando direito.

Em um dos trechos do poema é possível notar a saudade que ele sentia do Brasil. Inclusive, Gonçalves Dias transcreve esse sentimento na última estrofe do poema Canção do Exílio. Observe:

“Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;”.

Canção do exílio como inspiração

Dois versos escritos no poema canção do exílio foram usados na composição do Hino Nacional Brasileiro, feito em 1822. O trecho do hino diz o seguinte:

“Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida, (no teu seio) mais amores”.

Outro trecho do poema de Gonçalves Dias foi usado na Canção do Expedicionário, música simbolo da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Composta por Guilherme de Almeida, a música ficou mais famosa do que o próprio hino da FEB.

A segunda e a terceira estrofe da canção traz os trechos do poema de Gonçalves Dias:

“Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá”

Características do estilo literário de Gonçalves Dias

Além da Canção do Exílio, Gonçalves Dias também escreveu outros poemas e poesias. Com relação à escrita de suas obras literárias, o poeta sempre buscou a perfeição rítmica e formal, os seus poemas são marcados pela presença de rima, musicalidade e métrica, ele soube exaltar as belezas naturais do Brasil, bem como retratar os negros positivamente.

Além disso, Gonçalves Dias procurou abordar em seus poemas a religiosidade de caráter cristão, bem como expor sentimentalismo em suas poesias. Já em outras obras é possível perceber a ligação que ele fez aos valores medievais, porém transportados para o contexto brasileiro.

Quem foi Gonçalves Dias?

O autor do poema Canção do Exílio não foi apenas poeta. Além de escritor, Antônio Gonçalves Dias foi também jornalista e advogado. Nasceu na cidade de Caxias, no Maranhão, no dia 10 de agosto de 1823, e morreu em novembro de 1864 na mesma cidade natal.

Em vida, Gonçalves Dias foi considerado um dos principais representantes do Romantismo durante o século XIX. Ele fez parte da primeira geração desse movimento, popularmente conhecida como geração indianista ou nacionalista.

Recebeu influência da literatura romântica portuguesa, quando ainda cursava direito na Universidade de Coimbra. Os autores que mais o influenciaram foram os poetas: Almeida Garret (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877).

Poemas de Gonçalves Dias

Conheça outros poemas escritos por Gonçalves Dias durante a sua carreira literária.

Recordação

Quando em meu peito as aflições rebentam
Eivadas de sofrer acerbo e duro;
Quando a desgraça o coração me arrocha
Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada,

Bem que afeita a sofrer, sequer não pode
Clamar: Senhor, piedade; — e que os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem
Do mar d´angústias que meu peito oprime:

Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces
Palavras tuas, sôfregos, atentos

Sorvendo meus ouvidos, — nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastara ainda

por que de os ver me saciasse!… O pranto
Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. — Em tal pensando

De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre.

O amor

Amor! enlevo d´alma, arroubo, encanto
Desta existência mísera, onde existes?

Fino sentir ou mágico transporte,
(O quer que seja que nos leva a extremos,
Aos quais não basta a natureza humana;)

Simpática atração d´almas sinceras
Que unidas pelo amor, no amor se apuram,
Por quem suspiro, serás nome apenas?

A inútil chama ressecou meus lábios,
Mirrou-me o coração da vida em meio,
E à terra fez baixar a mente errada

Que entre nuvens, amor, por ti bradava!
Não te pude encontrar! — em vão meus anos
No louco intento esperdicei; gelados,

Uns após outros a cair precípites
Na urna do passado os vi; eu triste,
Amor, por ti clamava; — e o meu deserto
Aos meus acentos reboava embalde.

Em vão meu coração por ti se fina,
Em vão minha alma te compreende e busca,
Em vão meus lábios sôfregos cobiçam

Libar a taça que aos mortais of´reces!
Dizem-na funda, inesgotável, meiga;
Enquanto a vejo rasa, amarga e dura!

Dizem-na bálsamo, eu veneno a sorvo:
Prazer, doçura, — eu dor e fel encontro!

Dobrei-me às duras leis que me impuseste,
Curvei ao jugo teu meu colo humilde,

Feri-me aos teus ardentes passadores,
Prendi-me aos teus grilhões, rojei por terra…

E o lucro?… foram lágrimas perdidas,
Foi roxa cicatriz qu´inda conservo,

Desbotada a ilusão e a vida exausta!
Celeste emanação, gratos eflúvios
Das roseiras do céu; bater macio
Das asas auribrancas dalgum anjo,
Que roça em noite amiga a nossa esfera,


Centelha e luz do sol que nunca morre;
És tudo, e mais qu´isto: — és luz e vida,
Perfume, e vôo d´anjo mal sentido,
Peregrinas essências trescalando!…

Também passas veloz, — breve te apagas,
Como duma ave a sombra fugitiva,
Desgarrada voando à flor de um lago!

Seus olhos

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a frauta
Quebrando a solidão,

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co´um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.

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