Leia o texto para responder à questão.
Ser cronista
Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto.
Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos.
E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para o jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme. Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que não viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isso é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente.
(Clarice Lispector, A descoberta do mundo)
No texto, a autora deixa evidente que escrever crônicas é
- A melancólico, porque a manifestação dos sentimentos pessoais reforça seus medos e suas angústias.
- B alentador, porque consegue capturar a essência do público leitor e falar com ele sem medo de se mostrar.
- C paradoxal, porque estabelece uma relação profunda com o leitor e, ao mesmo tempo, a leitura é breve.
- D incômodo, porque a relação com o público leitor é superficial e, além disso, a escrita pessoal desagrada.
- E inspirador, porque a intimidade com o leitor é muito maior do que com os leitores de romances e contos.