Leia o texto a seguir para responder à questão.
A eterna imprecisão da linguagem
—Que pão!
Doce? de mel? de açúcar? de ló? de ló de mico? de trigo? de milho? de mistura? de rapa? de saruga? de soborralho? do céu? dos anjos? brasileiro? francês? italiano? alemão? do chile? de forma? de bugio? de porco? de galinha? de pássaros? de minuto? ázimo? bento? branco? dormido? duro? sabido? saloio? seco? segundo? nosso de cada dia? ganho com o suor do rosto? que o diabo amassou?
Branca? preta? tinta? moscatel? isabel? maçã? japonesa? ursina? brava? bastarda? rara? de galo? de cão? de cão menor? do monte? da serra? do mato? de mato grosso? de facho? de gentio? de João Pais? do nascimento? do inverno? do inferno? de praia? de rei? de obó? da promissão? da promissão roxa? verde da fábula de La Fontaine? espim? do diabo?
—O diabo!
Lúcifer? Belzebu? Azazel? Exu? marinho? alma? azul? coxo? canhoto? beiçudo? rabudo? careca? tinhoso? pé de pato? pé de cabra? capa verde? romãozinho? bute? cafute? Pedro Botelho? temba? mafarrico? dubá? louro? a quatro?
—É uma flor.
Da noite? de um dia? do ar? da paixão? do besouro? da quaresma? das almas? de abril? de maio? do imperador? da imperatriz? de cera? de coral? de enxofre? de lã? de lis? de pau? de natal? de São Miguel? de São Benedito? da santa cruz? de sapo? do cardeal? do general? de noiva? de viúva? da cachoeira? de baile? de vaca? de chagas? de sangue? de Jesus? do espírito santo? dos formigueiros? dos amores? dos macaquinhos? dos rapazinhos? de pelicano? de papagaio? de mel? de merenda? de 11 horas? de trombeta? de mariposa? de veludo? do norte? do paraíso? de retórica? neutra? macha? estrelada? radiada? santa? que não se cheira?
—É uma bomba.
De sucção? de roda? de parede? premente? aspirante-premente? de incêndio? real? transvaliana? vulcânica? atômica? de hidrogênio? de chocolate? suja? de vestibular de medicina? de anarquista? de São João e São Pedro? de fabricação caseira? de aumento do preço do dólar? enfeitada? de zoncho? de efeito psicológico?
—É um amor.
Perfeito? perfeito da China? perfeito do mato? perfeito azul? perfeito bravo? próprio? materno? filial? incestuoso? livre? platônico? socrático? de vaqueiro? de carnaval? de cigano de perdição? de hortelão? de deus? do próximo? sem olho? à pátria? bruxo? que não ousa dizer seu nome?
—Vá em paz.
Armada? otaviana? romana? podre? dos pântanos? de Varsóvia? de requiescat? e terra?
—Vá com Deus. Qual?
ANDRADE, C. D. A eterna imprecisão da linguagem. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 1968. Disponível em <https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/17404/a-eternaimprecisao-de-linguagem>. (Adaptado).
O texto apresentado provoca a reflexão de que:
- A não é possível que uma mesma expressão signifique uma série de coisas, considerando-se a ausência de um contexto de uso.
- B é possível atribuir a uma mesma expressão uma série de significados, que variam conforme os contextos de uso.
- C expressões como “é uma flor” são empregadas invariavelmente, com um significado único e de conhecimento popular.
- D expressões como “é uma bomba” são empregadas de forma esporádica, mas com o mesmo significado independentemente do contexto de uso.
- E o contexto de uso é irrelevante, porque não determina o sentido de uma expressão como “que pão” e “uma uva”.