Questão 4 Comentada - Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes - Educador Social - CONSULPLAN (2023)

E tinha a cabeça cheia deles


  Todos os dias, ao primeiro sol da manhã, mãe e filha sentavam-se na soleira da porta. E deitada a cabeça da filha no colo da mãe, começava esta a catar-lhe piolhos.

   Os dedos ágeis conheciam sua tarefa. Como se vissem, patrulhavam a cabeleira separando mechas, esquadrinhando entre os fios, expondo o claro azulado do couro. E na alternância ritmada de suas pontas macias, procuravam os minúsculos inimigos, levemente arranhando com as unhas, em carícia de cafuné.

   Com o rosto metido no escuro pano da saia da mãe, vertidos os cabelos sobre a testa, a filha deixava-se ficar enlanguescida, enquanto a massagem tamborilada daqueles dedos parecia penetrar-lhe a cabeça, e o calor crescente da manhã lhe entrefechava os olhos.

    Foi talvez devido à modorra que a invadia, entrega prazerosa de quem se submete a outros dedos, que nada percebeu naquela manhã – a não ser, talvez, uma leve pontada – quando a mãe, devassando gulosa o secreto reduto da nuca, segurou seu achado entre polegar e indicador e, puxando-o ao longo do fio negro e lustroso em gesto de vitória, extraiu-lhe o primeiro pensamento.


(COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.)



O termo em destaque tem sua relação semântica indevidamente identificada em:
  • AOs dedos ágeis conheciam sua tarefa.” (2º§) – propriedade
  • BFoi talvez devido à modorra que a invadia, [...]” (4º§) – possibilidade
  • C “[...] mãe e filha sentavam-se na soleira da porta.” (1º§) – acrescentamento
  • D “[...] levemente arranhando com as unhas, em carícia de cafuné.” (2º§) – finalidade
  • E “[...] quando a mãe, devassando gulosa o secreto reduto da nuca, [...]” (4º§) – temporalidade