MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos! Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol-posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando, formando, anunciando -o dia da humanidade.
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
- A „outras gentes‟ se refere aos descendentes dos colonizadores, já que estes foram mal recebidos na terra.
- B „outras gentes‟ são as mulheres da terra que, submissas no contexto da dominação, serviam aos filhos de seus dominadores.
- C „outras gentes‟ são os exploradores que se fixaram naquelas terras e lá passaram a viver das riquezas a que tiveram acesso a partir da colonização da terra.
- D „senhores‟ e „alimentados‟ referem-se à postura servil com que os africanos receberam seus invasores.
- E "alimentados‟ são os habitantes nativos que, não produzindo nada, tinham que ser mantidos pelo colonizador.