Questão 2 Comentada - Companhia de Desenvolvimento de Maricá - Rio de Janeiro (CODEMAR) - Técnico - Informática - CS-UFG (2017)

                                   Texto 1


                              Dois velhinhos

                                                                                         Dalton Trevisan


Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo. Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro:

— Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde:

— Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda:

— Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela. Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo. Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.

                     Mistérios de Curitiba, Rio de Janeiro: Record, 1979. P. 110.



No trecho “Bem desconfiava que o outro não revelava tudo”, a palavra tudo

  • A refere-se tanto às invenções do amigo que morreu quanto à realidade vazia do quarto do asilo.
  • B retoma as três cenas descritas anteriormente, ou seja, a do cachorro, a da menina e a do enterro.
  • C demonstra que o idoso sobrevivente ouvia as narrativas inventadas pelo colega com desconfiança.
  • D estabelece um paralelismo semântico entre a cena real de muros em ruínas, lixo e asilo.