TEXTO 1
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.
Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.
EVARISTO, Conceição. Da calma e do silêncio. In: Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.
Assinale a alternativa correta acerca do texto 1:
- A O título do poema é uma síntese dos elementos que o eu lírico considera necessários para desenvolver seu trabalho artístico: a introspecção proporcionada pelo silêncio, a lentidão e a calma.
- B Nos versos “quero mascar, / rasgar entre os dentes, / a pele, os ossos, o tutano / do verbo”, o eu lírico compara o fazer poético ao ato de lutar contra um animal selvagem, pois o que deseja é destruir a palavra e a poesia.
- C O eu lírico por meio da metáfora “rasgar entre os dentes, / a pele, os ossos, o tutano / do verbo” atenua a intensidade da palavra no fazer poético, tirando de cena seu caráter visceral e humano.
- D No verso “não me despertem” o eu lírico deseja renegar o estado de contemplação que a impede de ver a realidade o que compromete seu processo de criação.
- E Apesar das constantes referências ao fazer poético, não podemos afirmar que o texto 1 é um metapoema.