Nossa bactéria interior
Hélio Schwartsman
Se a consciência já parece bastante misteriosa quando tentamos circunscrevêla a um cérebro humano, ela fica ainda mais impenetrável quando se considera que a própria noção de corpo humano pode ser inadequada.
Com efeito, já há alguns anos vem ganhando espaço na biologia e na medicina a ideia de que precisamos pensar o corpo humano não como uma entidade à parte, mas no conjunto de suas relações com o meio ambiente, em especial em relação a sua interação com espécies microscópicas com as quais vivemos em promiscuidade há dezenas de milhares de anos. Aqui, nós perdemos um pouco de nós para nos tornarmos um superorganismo, no qual outros seres vivos, notadamente aqueles que habitam nosso corpo, ganham importância.
Inicialmente, esses modelos foram utilizados para explicar com certo sucesso a obesidade (as floras intestinais de gordos e magros têm composições diferentes), doenças do intestino e moléstias cardíacas. Mas os pesquisadores foram ficando ambiciosos e agora falam no eixo cérebro-intestino, que parece desempenhar um papel em várias doenças mentais, incluindo transtornos de ansiedade, do afeto, autismo e até mesmo surtos psicóticos e Alzheimer. Não é que bactérias causem essas moléstias, mas modulam a manifestação e a severidade dos sintomas.
Particularmente interessante nesses modelos é que a flora intestinal é, em princípio, algo fácil de alterar com o uso de antibióticos, pro e prebióticos e de transplantes fecais. Já há quem fale em psicobióticos. É preciso dar um desconto ao entusiasmo dos pesquisadores, mas não há dúvidas de que é um campo promissor.
Vale destacar quanto de complexidade esse modelo acrescenta a nós mesmos. Deixamos de ser um corpo composto por 10 trilhões de células comandadas por 23 mil genes para nos tornarmos um bioma ao qual se somam 100 trilhões de bactérias e 3 milhões de genes não humanos.
Adaptado de: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwarts-man/2017/12/ 1940148-nossa-bacteria-interior.shtml>
- A Trata-se de um texto de alto nível argumentativo, o qual utiliza estratégias como intertextualidade, paráfrase, citação, ironia e exemplificação para comprovação de tese. A linguagem é predominantemente informal e conotativa.
- B Trata-se de uma sequência injuntiva que compõe um texto instrucional, no qual o autor busca instruir o leitor sobre as novas tendências científicas. Para tanto, utiliza-se de linguagem técnica e verbos no infinitivo.
- C Trata-se de um texto dissertativo, em que o autor apresenta fatos cronologicamente ordenados. Os verbos predominantemente no pretérito dão um tom pessoal ao texto, por meio do qual se apresenta uma tese bem delineada.
- D Trata-se de um texto descritivo que compõe uma resenha, na qual o autor apresenta sua opinião diante de um fato cotidiano. Utilizam-se linguagem informal e verbos no presente para que as informações possam circular em todos os meios de comunicação.
- E Trata-se de um artigo com sequências argumentativas, que traz um fato atual e uma reflexão sobre esse fato. Utilizamse, prioritariamente, verbos no presente, e o uso de primeira pessoa do plural tem a função de aproximar autor e leitor.