Questão 4 Comentada - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (AL-SP) - Analista Legislativo - Cirurgião Dentista - FCC (2012)

                             Dialética da mudança


      Certamente porque não é fácil compreender certas questões, as pessoas tendem a aceitar algumas afirmações como verdades indiscutíveis e até mesmo a irritar-se quando alguém insiste em discuti-las. É natural que isso aconteça, quando mais não seja porque as certezas nos dão segurança e tranquilidade. Pô-las em questão equivale a tirar o chão de sob nossos pés.

      No passado distante, quando os valores religiosos se impunham à quase totalidade das pessoas, poucos eram os que os questionavam, mesmo porque, dependendo da ocasião, pagavam com a vida seu inconformismo. Com o desenvolvimento do pensamento objetivo e da ciência, aquelas certezas inquestionáveis passaram a segundo plano, dando lugar a um novo modo de lidar com elas e com os valores. Questioná-los, reavaliá-los, negá-los, propor mudanças às vezes radicais tornouse frequente e inevitável, dando-se início a uma nova época da sociedade humana. Introduziu-se o conceito não só de evolução como o de revolução.

      Naturalmente, essas mudanças não se deram do dia para a noite, nem tampouco se impuseram à maioria da sociedade. O que ocorreu foi um processo difícil e conflituado em que, pouco a pouco, a visão inovadora veio ganhando terreno e, mais do que isso, conquistando posições estratégicas, o que tornou possível influir na formação de novas gerações, menos resistentes a visões questionadoras.

      A certa altura desse processo, os defensores das mudanças acreditavam-se senhores de novas verdades, mais consistentes porque eram fundadas no conhecimento objetivo das leis que governam o mundo material e social. Em outras palavras, bastaria apresentar-se como inovador para estar certo. Será isso verdade? Os fatos demonstram que tanto pode ser sim como não.

      Mas também pode estar errado quem defende os valores consagrados e aceitos. Só que, em muitos casos, não há alternativa senão defendê-los. E sabem por quê? Pela simples razão de que toda sociedade é, por definição, conservadora, uma vez que, sem princípios e valores estabelecidos, seria impossível o convívio social. Uma comunidade cujos princípios e normas mudassem a cada dia seria caótica e, por isso mesmo, inviável.

(Transcrição de trechos do artigo de Ferreira Gullar. Folha de S. Paulo, E10 Ilustrada, 6 de maio de 2012) 



Introduziu-se o conceito não só de evolução como o de revolução. (2° parágrafo)


A afirmativa acima  

  • A aponta para inovações trazidas por pensadores que, ao descobrir as leis da ciência, abandonaram de modo radical os valores religiosos, tendo sofrido condenações à morte.
  • B refere-se a certos defensores das mudanças que conseguiram sobrepor algumas certezas inquestionáveis aos valores religiosos, até então predominantes na sociedade.
  • C aborda a dificuldade, em todos os tempos, de compreender certas questões que causam transtornos à sociedade, ao comprometer a segurança e a tranquilidade dos seus componentes.
  • D conclui reafirmando a transformação propiciada pelo questionamento de parâmetros estabelecidos e, por vezes, o radicalismo necessário ao novo modo de lidar com as certezas e os valores.
  • E considera o inevitável predomínio do conhecimento objetivo das leis que governam o mundo material e social sobre valores religiosos do passado distante.