Questão 44 Comentada - Tribunal Regional Federal da 4ª Região - Analista Judiciário - Taquigrafia - FCC (2010)

A mulher pobre que chega ao caixa de um banco e não
consegue fazer entender sua situação - ela deve pagar uma
fatura de cartão de crédito que lhe foi enviado sem que pedisse,
e que jamais utilizou - é um exemplo corriqueiro do poder das
palavras e da fragilidade de quem não as domina. A mulher
acabará sendo despachada, sem resolver seu problema, pela
impaciência do bancário e de todos os que estão na fila. Duas
carências na mesma pessoa: a de recursos econômicos e a de
linguagem. Nem o conforto de um status prestigiado, nem a
desenvoltura argumentativa de um discurso.
Graciliano Ramos, no romance Vidas secas, tratou a
fundo dessa questão: suas personagens, desamparados retirantes
nordestinos, lutam contra as privações básicas: a de água, a
de comida... e a de linguagem. O narrador desse romance é um
escritor ultraconsciente de seu ofício: sabe que muito da nossa
identidade profunda e da nossa identificação social guarda uma
relação direta com o domínio que temos ou deixamos de ter das
palavras. Não há, para Graciliano, neutralidade em qualquer
discurso: um falante carrega consigo o prestígio ou a humilhação
do que é ou não é capaz de articular.
Nas escolas, o ensino da língua não pode deixar de
considerar essa intersecção entre linguagem e poder. O professor,
bem armado com sua refinada metalinguagem, pode,
evidentemente, reconhecer que há uma específica suficiência
na comunicação que os alunos já trazem consigo; mas terá ele
o direito de não prepará-los para um máximo de competência,
que inclui não apenas uma plena exploração funcional da
língua, mas também o acesso à sua mais alta representação,
que está na literatura?
(Juvenal Mesquita, inédito)



O emprego de travessões no primeiro parágrafo justificase porque o autor do texto pretendeu, com eles,

  • A aludir a uma fala que já não é a sua, tratando-se de uma indicação de discurso direto.
  • B realçar uma informação oportuna, que suspende uma sequência sintática, mas não impede sua retomada.
  • C antecipar a conclusão para a qual a argumentação discursiva já se estava encaminhando.
  • D destacar um segmento que representa uma contradição em relação ao que afirma em segmento imediatamente anterior.
  • E reforçar o aspecto essencial de uma informação sem a qual a consecução lógica e sintática da frase seria prejudicada.