Motivo
(Cecília Meireles)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Ao longo do poema, a voz poética oscila entre afirmações de certeza e dúvidas existenciais. Essa oscilação revela:
- A Uma contradição fundamental na visão de mundo do eu lírico.
- B Uma busca por respostas definitivas sobre a vida e a morte.
- C Uma aceitação serena da finitude da existência humana.
- D Uma recusa em se submeter às normas e convenções sociais.