Questão 3 do Concurso Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais - Assistente Administrativo - FUNDEP (Gestão de Concursos) (2014)

TRINTA ANOS DE UMA FRASE INFELIZ

Ele não podia ter arrumado outra frase? Vá lá que haja perpetrado grande feito indo à Lua, embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver. Mas Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na Lua, precisava ter dito: “Este é um passo pequeno para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”? Não podia ter-se contentado com algo mais natural (“Quanta poeira” por exemplo), menos pedante (“Quem diria, conseguimos”), mais útil como informação (“Andar aqui é fácil/difícil; gostoso/dói a perna”) ou mais realista (“Estou preocupado com a volta”)?

Não podia. Convencionou-se que eventos solenes pedem frases solenes. Era preciso forjar para a ocasião uma frase “histórica”. Não histórica no sentido de que fica guardada para a posteridade – a posteridade guarda também frases debochadas, como “Se eles não têm pão, comam brioches”. Histórica, no caso, equivale à frase edificante. É a história em sua versão, velhusca e fraudulenta, de “Mestra da Vida”, a História rebaixada a ramo da educação moral e cívica. À luz desse entendimento do que é “histórico”, Armstrong escolheu sua frase. Armstrong teve tanto tempo para pensar, no longo período de preparativos, ou outros tiveram tempo de pensar por ele, no caso de a frase lhe ter sido oferecida de bandeja, junto com a roupa e os instrumentos para a missão, e foi sair-se com um exemplar do primeiro gênero. Se era para dizer algo bonito, por que não recitou Shakespeare? Se queria algo inteligente, por que não encomendou a Gore Vidal ou Woody Allen?

(Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 2000)



Leia o trecho: “... embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver.”

O autor, com essa frase, expressa

  • A certa desilusão com o passar dos anos, quanto à ida do homem à Lua.
  • B a importância capital que o evento teve para a humanidade.
  • C certa incredulidade quanto à ida do homem à Lua.
  • D o encantamento com que a ida do homem à Lua é vista até hoje.