Prova da Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG) - Médico - UFU-MG (2024) - Questões Comentadas

Limpar Busca
   Como muitos adolescentes, ele tinha uma banda. E, como muitos adolescentes, tinha de aceitar a dura realidade: nem todas as bandas são reconhecidas, nem todas fazem sucesso. E, como muitos adolescentes, fez o que podia fazer: pediu licença ao pai para usar a garagem da casa como estúdio.     O pai concordou. Em primeiro lugar, porque queria ajudar o filho e seus talentosos companheiros. Depois, porque seria muito melhor que tocassem na garagem, isolada da casa, do que no quarto, de onde infernizavam a vida dos familiares e dos vizinhos. E, por último, porque a garagem estava vazia. O homem não tinha carro; possuía habilitação, mas não gostava de dirigir, e não dirigia.           Comprara uma casa com garagem, claro, porque todas as casas têm garagem, mas por muito tempo usara-a apenas como depósito para umas poucas malas e para jornais velhos.    Ceder a garagem, portanto, parecia-lhe uma boa solução, mesmo porque provavelmente era coisa para pouco tempo. Ou a banda se tornaria profissional, o que era improvável, ou os jovens cansariam daquilo.     O que nem ele nem ninguém poderia imaginar era a surpresa que a sorte lhes preparava. Um colega de trabalho ofereceu-lhe uma rifa de automóvel. Ele não estava interessado, mas para ajudar uma boa causa (a rifa beneficiaria um asilo de idosos), comprou um número. Veio o sorteio e ele, que nunca ganhava nada, foi contemplado: foi-lhe entregue um novo e reluzente automóvel.     A primeira coisa que pensou foi em vender o veículo. Mas o chefe tinha uma proposta: se você dirigir, disse, eu posso lhe encarregar das vendas de nossa empresa em várias cidades, e você vai ganhar muito mais.     E aí estava criado o dilema. Porque o uso do automóvel seria esporádico, alguns dias por mês. O resto do tempo ficaria parado. Na garagem da casa, naturalmente. Quando anunciou a novidade ao filho, esse ficou furioso. Perderia então o seu lugar de ensaios? Justamente no momento em que a banda estava engrenando? Não, não podia concordar com isso. A discussão azedou, a mãe e outros irmãos entraram na briga.    Por fim, e milagrosamente (graças a um tio que tinha fama de conciliador) chegaram a uma solução: os rapazes da banda continuariam ensaiando na garagem. O carro permaneceria lá, o que tornava a situação um pouco incômoda, mas seria melhor do que procurar um outro lugar para fazer música.     Um dia, quando os rapazes estavam tocando, o homem entrou na garagem e ligou o carro para sair. Aquilo foi, para o filho, uma súbita inspiração: por que não combinar o som do motor com os instrumentos musicais? Experimentaram isso, acelerando e desacelerando a máquina, fazendo soar a buzina de vez em quando, e o resultado foi surpreendente. Tão surpreendente que muita gente veio ouvi-los; foram até convidados para um show numa tevê local. São considerados os pioneiros em um novo movimento, o da música motorizada.     O carro, agora, é da banda. O pai está pensando em comprar outro automóvel. Só não sabe onde vai guardá-lo.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0103201002. Acesso em: 26 fev. 2024

O texto se estabelece por meio de uma sequência textual predominantemente narrativa, que se caracteriza por
  • A combinar uma sequência de eventos em ordem cronológica com trechos descritivos, enfatizando tanto o desenvolvimento da trama quanto a evolução dos personagens.
  • B desenvolver-se em uma estrutura linear, focando em descrever as ações e o cenário, mas sem delinear profundamente os sentimentos ou pensamentos dos personagens.
  • C dar ênfase ao diálogo entre personagens como o principal meio para progredir na trama e no desenvolvimento das relações e conflitos.
  • D apresentar a jornada dos protagonistas enquanto incorpora visões de personagens secundários, oferecendo uma visão multifacetada dos eventos.

[...] 18 DE JULHO - Levantei as 7 horas. Alegre e contente. Depois que veio os aborrecimentos. Fui no deposito receber... 60 cruzeiros. Passei no Arnaldo. Comprei pão, leite, paguei o que devia e reservei dinheiro para comprar Licor de Cacau para Vera Eunice. Cheguei no inferno. Abri a porta e pus os meninos para fora. A D. Rosa, assim que viu o meu filho José Carlos começou impricar com ele. Não queria que o menino passasse perto do barracão dela. Saiu com um pau para espancá-lo. Uma mulher de 48 anos brigar com criança! As vezes eu saio, ela vem até a minha janela e joga o vaso de fezes nas crianças. Quando eu retorno, encontro os travesseiros sujos e as crianças fétidas. Ela odeia-me. Diz que sou preferida pelos homens bonitos e distintos. E ganho mais dinheiro do que ela.      Surgio a D. Cecilia. Veio repreender os meus filhos. Lhe joguei uma direta, ela retirou-se. Eu disse: —Tem mulher que diz saber criar os filhos, mas algumas tem filhos na cadeia classificado como mau elemento.       Ela retirou-se. Veio a indolente Maria dos Anjos. Eu disse: — Eu estava discutindo com a nota, já começou chegar os trocos. Os centavos. Eu não vou na porta de ninguém. E vocês quem vem na minha porta aborrecer-me. Eu nunca chinguei filhos de ninguém, nunca fui na porta de vocês reclamar contra seus filhos. Não pensa que eles são santos. É que eu tolero crianças. [...]
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014.

A escolha de uma variedade linguística socialmente estigmatizada, apresentada no trecho acima, influencia o estilo da narrativa de Carolina Maria de Jesus, na medida em que

  • A a linguagem informal e cotidiana, permeada por desvios ortográficos, manifesta-se predominantemente na descrição objetiva dos eventos, minimizando a expressão particular da narradora.
  • B o texto se caracteriza por utilizar uma linguagem informal e cotidiana, com a presença de desvios ortográficos, enfocando na narração direta dos eventos, embora mantenha uma postura de imparcialidade e distanciamento.
  • C a linguagem do texto é informal, cotidiana e inclui desvios ortográficos, refletindo as vivências pessoais da narradora de maneira expressiva e imediata.
  • D a narrativa utiliza uma linguagem informal, cotidiana e inclui desvios ortográficos que, ao construir uma estrutura complexa e estilizada, afasta o leitor da realidade da narradora.

Se a história da fotografia manipulada de Catherine Middleton, a princesa de Gales, parece material para sites de fofoca, não é. Vivemos o tempo dos deepfakes, das imagens falsificadas, da desinformação. Se a Coroa britânica às vezes engana, tem cara de reportagem para tabloides e não coisa para gente séria, ela segue sendo uma instituição do Estado britânico. Uma instituição que dá seu retorno em sedução diplomática, dinheiro de turismo e habilidade de mobilização civil. A família Windsor é paga pelo Estado para botar roupas bacanas, emanar fantasia e ser fotografada por onde anda, enquanto compõe a ideia do que é ser britânico. É muito poderosa essa ferramenta de representar a essência de um país. Esse é o papel dos Windsors e, aos trancos e barrancos, eles o exercem.        A princesa não é vista em público desde o Natal oficial, no dia 25 de dezembro. Em meados de janeiro, deu entrada num hospital para uma “cirurgia abdominal” que disseram ser planejada. Nunca mais apareceu até que, na sexta-feira da semana passada, foi divulgada uma fotografia sua com os três filhos atribuída ao príncipe William, seu marido e herdeiro do trono. Como se tivesse sacado o iPhone, clicado e mandado distribuir. As agências de notícias fizeram seu trabalho disparando o registro para jornais, revistas e sites em todo o mundo. Algumas horas depois, a retiraram. [...]
Disponível em: https://oglobo.globo.com/opiniao/pedro-doria/coluna/2024/03/a-mentira-de-kate.ghtml. Acesso em: 16 mar. 2024.

No trecho acima, os termos destacados contribuem para a estrutura argumentativa ao

  • A indicar uma progressão temática na qual cada termo serve para construir um panorama mais amplo sobre equivalentes facetas da monarquia britânica.
  • B estabelecer conexões coesivas entre os diversos aspectos da monarquia, fortalecendo a crítica à maneira como a instituição e a família real são percebidas.
  • C evidenciar a contraposição entre a natureza pública da "Coroa britânica" e o lado pessoal da "família Windsor", realçando as complexidades dessa relação.
  • D reiterar o referente para enfatizar a controvérsia em torno da Coroa, mas sem desenvolver uma argumentação consistente sobre seu papel na sociedade.

Imagem relacionada à questão do Questões Estratégicas
Peça da campanha publicitária do Carnaval de Belo Horizonte 2024 - Foto: Secretaria de Estado de Cultura e Turismo/Divulgação

Considerando o anúncio publicitário que promove o Carnaval de Belo Horizonte, é correto afirmar que a figura de linguagem utilizada no slogan, além da metáfora, é a(o)
  • A antítese, pois confronta a vivacidade do carnaval de rua com a sensação de conforto e pertencimento, como se estivesse em casa.
  • B eufemismo, atenuando o conceito de festividade agitada do carnaval, sugerindo um ambiente mais acolhedor e tranquilo.
  • C metonímia, empregando o elemento da alegria do carnaval para representar a totalidade da experiência carnavalesca em BH.
  • D hipérbole, amplificando a ideia de que a experiência do carnaval em BH pode ser tão acolhedora quanto estar em casa.

Um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (14) revela que o sistema nervoso humano está naturalmente programado para sentir medo — como quando ouvimos ruídos estranhos no escuro ou quando um animal que está rosnando se aproxima.       A resposta ao medo serve como um aviso para que a pessoa permaneça em alerta, servindo como mecanismo de defesa para evitar situações perigosas. Entretanto, se o indivíduo sentir medo sem estar diante de situações ameaçadoras, seu bem-estar pode ser prejudicado.      Pessoas que vivenciaram incidentes de risco de vida ou estresse grave podem ter medo em episódios que não apresentam uma real ameaça. E isso pode gerar danos psicológicos a longo prazo, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).      A nova pesquisa foi realizada por neurobiólogos da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA. A equipe identificou quais mudanças ocorrem na bioquímica do cérebro e mapeou os circuitos neurais que causam o medo generalizado.
Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/sociedade/comportamento/noticia/2024/03/voce-tem-medo-estudoidentifica-rota-cerebral-que-leva-a-esse-sentimento.ghtml. Acesso em: 16 mar. 2024. De acordo com o trecho, o estudo publicado na revista Science sugere que

De acordo com o trecho, o estudo publicado na revista Science sugere que

  • A a resposta ao medo é sempre benéfica para o ser humano, pois serve como um mecanismo de defesa essencial para evitar perigos reais.
  • B o medo generalizado, causado por situações que não apresentam ameaça real, pode ser benéfico a longo prazo, melhorando a resiliência do indivíduo.
  • C medos infundados não têm impactos negativos na saúde mental, pois o ser humano é capaz de distinguir entre perigos reais e imaginários de maneira eficiente.
  • D pesquisas em neurobiologia podem ajudar a desenvolver tratamentos eficazes para pessoas com transtorno de estresse pós-traumático, que vivenciam medo em situações não ameaçadoras.