A função gramatical garante a harmonia nas orações
O uso do paralelismo serve para tornar a leitura mais agradável. Embora não seja perceptível, essa função está presente em todas as orações. Na construção textual, desde a mais complexa até a mais simples, é preciso manter um certo padrão. Elementos como coesão e coerência, clareza, precisão, objetividade.
Todas essas ferramentas fazem com que as ideias que vão surgindo na cabeça, sejam transpostas para o papel de forma ordenada, organizada, para que assim, quem está lendo consiga entender.
Para construir uma narrativa ou elaborar um discurso compreensível, o interlocutor precisa dominar algumas competências, é aí que entra o uso do paralelismo. Mas o que é o paralelismo?
De acordo com o dicionário, o significado do termo paralelo é “que se mantém ou continua em uma mesma direção.” Aplicando esse conceito na língua portuguesa, o paralelismo pode ser entendido como a relação de semelhança ou contraste entre palavras e expressões, ou seja, uso de palavras e expressões que estão na mesma direção, que seguem a mesma lógica.
O uso do paralelismo também é perceptível quando as orações repetem a mesma estrutura. Geralmente, a estratégia é utilizada na literatura ou em textos publicitários para reforçar uma ideia, como por exemplo:
“Sinta-se luminosa. Sinta-se Luz” – Cada período da oração começa com o mesmo verbo no imperativo, “sinta-se”, aqui está o paralelismo, na correlação. No caso dessa peça publicitária, a expressão é repetida para reforçar uma ideia.
Como explicado acima, o uso do paralelismo serve para trazer sentido a oração. Observe o exemplo abaixo:
“Maria é preguiçosa e veterinária.”
Bom, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Absolutamente nada. O nome disso é “quebra de paralelismo”. Isso ocorre quando as duas palavras não têm relação entre si, o que torna o discurso extremamente confuso.
No exemplo acima, o paralelismo estava no campo semântico, mas ele ainda pode estar no morfológico, sintático, e rítmico. Vamos conhecer cada um deles.
Identificando o uso do paralelismo
Como abordado, o paralelismo é uma sucessão de expressões que mantém a mesma simetria, ou seja, uma estrutura paralela. Sendo assim, ao analisar uma frase é possível identificar o uso do paralelismo quando há uma correspondência lógica entre as diferentes partes de um texto ou da oração.
Isso quer dizer que, os paralelismos só ocorrem quando há semelhança entre duas ou mais palavras, termos ou ideias que possam ser comparadas entre si. Agora, vamos observar como seu uso aparece em cada campo.
- Paralelismo sintático
Também conhecido por paralelismo gramatical, o paralelismo sintático ocorre quando há simetria entre as estruturas sintáticas presentes na oração. O uso do paralelismo sintático confere clareza e precisão, como por exemplo:
- Sem paralelismo sintático:
Peguei todas as respostas da prova no site e da apostila.
Maria sempre foi educada, obediente e teve compreensão.
- Com paralelismo sintático:
Peguei todas as respostas da prova no site e na apostila.
Maria sempre foi educada, obediente e compreensiva.
- Paralelismo semântico
O uso do paralelismo semântico é perceptível quando as ideias presentes na oração apresentam uma afinidade.
- Sem paralelismo semântico:
Gosto de café, sucos e música.
- Com paralelismo semântico:
Gosto de café, sucos e vitaminas.
Dá para perceber que os assuntos estão em conformidade, certo?
Agora observe o exemplo abaixo:
"Na fase de grupos, a seleção brasileira vai enfrentar Portugal."
Embora a frase acima seja muito utilizada e até aceita, a oração não tem paralelismo semântico, já que a seleção brasileira não jogará contra o país, mas contra a seleção portuguesa. Se fôssemos estruturar a frase novamente, ficaria:
"Na fase de grupos, a seleção brasileira vai enfrentar a seleção portuguesa."
Para identificar o uso do paralelismo, os tempos verbais também devem ser analisados. Veja o exemplo:
"Se eles buscassem as crianças, ficaremos aliviados."
A incoerência aqui pode ser observado pelos verbos “buscassem e ficaremos” que não estão no mesmo tempo. Para conferir à frase a mesma ideia, seria preciso corrigi-la para:
"Se eles buscassem as crianças, ficaríamos aliviados."
O uso do paralelismo também pode ser observado através da utilização de outros recursos, como:
"O preço da gasolina não só aumentou na região metropolitana de Salvador, mas em todo o estado da Bahia." O recurso “não só, mas (como) também” foi usado para dar a ideia de adição, pois compara a situação vivenciada em todas as regiões.
Outras situações:
"Quanto mais estudo, mais chances tenho de passar no vestibular" – “quanto mais, (tanto) mais” dá a ideia de progressão, o que também reflete o uso do paralelismo.
"É preciso manter o foco, ora estudando, ora ouvindo palestras. Não dá para perder o objetivo de vista." – Nesse exemplo, o paralelismo está no uso do “ora... ora”, conferindo a ideia de alternância. Ele também tem o mesmo sentido se usado com “seja... seja ou quer... quer):
“Quer estudando, quer ouvindo palestras”
“Seja estudando, seja ouvindo palestras”
“Não podemos contar com a ajuda do Governo Federal, nem do Estadual”. – “Não e não/nem”. Uso do paralelismo para imprimir uma sequência negativa.
O “tanto quanto” também faz parte da estrutura paralelística, quando se quer atribuir a ideia de adição e equivalência: "O valor da bonificação é igual, tanto para os que trabalham há um ano, quanto para os que já completaram dois anos."
Por um lado/por outro: "Se por um lado o Governo Federal não adotou medidas de prevenção, por outro, o Estadual determinou vários planos de ação." O uso do paralelismo aqui serve para fazer referência aos aspectos negativos e positivos relacionados a um mesmo acontecimento.
- Paralelismo morfológico
Observa-se o uso do paralelismo morfológico quando as palavras utilizadas na oração pertencem a mesma classe gramatical.
- Sem paralelismo morfológico:
Proibido caçar e animais.
- Com paralelismo morfológico:
Proibido caçar. Proibido animais.
Ou
Proibido caçar e entrar com animais.
- Paralelismo rítmico
O paralelismo rítmico ocorre quando a frase é construída sob um ritmo harmonioso e constante, de mesma classe gramatical. A oração tem a mesma cadência ou mesmo número de sílabas. O uso do paralelismo rítmico é frequente na música e literatura.
- Sem paralelismo rítmico:
Vi o pássaro cantar, o pinto piar e a vaca.
- Com paralelismo rítmico:
Vi o pássaro cantar, o pinto piar e a vaca mugir.