Resumo de Português - Sinestesia

A sinestesia consiste em uma figura de linguagem que funciona como um recurso estilístico na língua escrita.

Na gramática da língua portuguesa o estudo sobre figura de linguagem a categoriza em quatro aspectos. E são eles: figuras de sintaxe, figuras sonoras, figuras de pensamento e figuras de palavras.

A sinestesia se enquadra no grupo das figuras de palavras, que estabelece relações com os sentidos sensoriais. Assim, o autor de quaisquer gêneros textuais, como a poesia, pode por meio das palavras fazer referências aos cinco sentidos – tato, audição, olfato, paladar e visão.

A significação da palavra sinestesia é “junção de sentidos”, pois a origem vocabular vem da língua grega synaísthesis e quer dizer “sentir ao mesmo tempo”.

Desse modo, em um texto que em uma mesma frase ou oração se remeter aos diferentes sentidos utiliza-se, especificamente, dessa figura de palavra. Leia o exemplo abaixo e observe as palavras em negrito:

Ex: Olha que cheirinho bom, disse Joana no restaurante.

Nesta oração a palavra “olha” refere-se ao sentido visão e a palavra “cheirinho” está relacionada ao sentido “olfato”.

No sentido literal ou real das palavras não é possível “olhar para o cheiro”, entretanto na linguagem figurada é perfeitamente possível e adequado esse tipo de construção sintática.

Então, houve uma junção semântica de sentidos em uma mesma oração e consequentemente o uso da sinestesia.

Sinestesia na literatura

A linguagem do movimento literário simbolista no Brasil foi bastante peculiar. Pois, os escritores escreviam de modo subjetivo, criativo, com musicalidade e ainda com o uso da sinestesia, além de outras características linguísticas.

O marco do simbolismo do país foi após as publicações dos livros “Broquéis e Missal” do poeta brasileiro João da Cruz e Souza, em 1893. Segundo os estudos literários, os recursos sinestésicos, principalmente as sinestesias visuais, estão presentes na poética cruzesouseana.

Leia abaixo trechos de poemas de João da Cruz e Souza e observe as palavras em negrito:

Poema 1: “Tortura eterna”

Que tu não possas, Sentimento ardente,
Viver, vibrar nos brilhos do ar fremente,
Por entre as chamas, os clarões supernos.

Ó Sons intraduzíveis, Formas, Cores!…
Ah! que eu não possa eternizar as dores
Nos bronzes e nos mármores eternos! [grifos nossos]

Poema 2: “Cristais”

Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.

Filtros sutis de melodias, de ondas
de cantos volutuosos como rondas
de silfos leves, sensuais, lascivos…

Como que anseios invisíveis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos. [grifos nossos]

O eu-lírico fez uma interação dos sentidos audição e visão através das palavras “sons” e “cores” no poema 1. E dessa feita, atribuiu expressividade a poesia simbolista. Já no poema 2, na primeira estrofe ocorre a mistura dos sentidos audição e paladar através das palavras “som” e deliciava”.

Sinestesia visual

A sinestesia visual é outro recurso estilístico que utiliza-se das cores nos textos literários para atribuir composição imagística.

No poema “Braços” de João da Cruz e Souza, por exemplo, é possível identificar a presença recorrente da cor branca. Dessa forma, o poeta faz construção de imagens. Leia poema abaixo:

Braços nervosos, brancas opulências,
brumais brancuras, fúlgidas brancuras,
alvuras castas, virginais alvuras,
latescências das raras latescências.

As fascinantes, mórbidas dormências
dos teus abraços de letais flexuras,
produzem sensações de agres torturas,
dos desejos as mornas florescências.

Braços nervosos, tentadoras serpes
que prendem, tetanizam como os herpes,
dos delírios na trêmula coorte …

Pompa de carnes tépidas e flóreas,
braços de estranhas correções marmóreas
abertos para o Amor e para a Morte! [grifos nossos]

Leia abaixo outros exemplos e as explicações dos recursos sinestésicos usados nos trechos literários de autores da literatura brasileira:

Exemplo 1: Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema. (Mário de Andrade)

No exemplo 1 ocorre a junção dos sentidos visão e paladar. Na oração “a chuva tem gosto de mato”, novamente uma construção sintática possível somente na linguagem figurativa.

Exemplo 2: “As falas sentidas, que os olhos falavam/ Não quero, não posso, não devo contar.” (Casimiro de Abreu)

No exemplo 2 ocorre a junção dos sentidos audição e tato através das palavras “falas sentidas”. E a junção dos sentidos visão e audição nas palavras “olhos falavam”.

Exemplo 3: “Por uma única janela envidraçada, (…) entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras.” (Clarice Lispector)

No exemplo 3 a escritora Clarice Lispector juntou os sentidos visão e audição nas palavras “claridade” e “surdas”.

Sinestesia versus cinestesia

Conforme já estudado a sinestesia refere-se aos planos sensoriais. Entretanto, existe outra palavra homófona que pode causar confusão.

O termo cinestesia nada tem a ver com a linguagem escrita. Pois, trata-se do equilíbrio, posição e movimento dos músculos de uma das partes do corpo humano.

É importante destacar que na medicina também existe o conceito de sinestesia para designar um distúrbio neurológico, que provoca uma confusão entre os sentidos. Assim, o cérebro de uma pessoa com esse distúrbio não processa os estímulos externos corretamente e ocorre uma interação “defeituosa” dos sentidos.

Dessa forma, no cérebro das pessoas sinestetas ocorrem percepções sensoriais confusas no sistema nervoso central.

Pode-se citar como exemplo um indivíduo que ao ingerir uma taça de vinho começa a sentir frio, da mesmo forma como se estivesse exposto a uma forte ventania.