As reticências são um dos sinais de pontuação que indica a interrupção intencional de um pensamento ou encadeamento de ideias expressas na oração.
Dito de outra forma, na linguagem escrita o mecanismo gramatical utilizado pelos autores para indicar um pensamento que ele não preferiu concluir são as reticências.
Mas, o sentido da oração não é prejudicado.
E as reticências apresentam-se na língua escrita graficamente com três pontos, normalmente no final das orações. Leia abaixo um trecho da obra do romancista brasileiro Graciliano Ramos:
“Lembrei-me do nome e do tipo: era João Francisco Gregório, caboclo robusto, desconfiado…” (grifo nosso)
Sabemos o quanto é importante os sinais de pontuação para a produção textual. Há alguns deles que são empregados com mais rigidez gramatical, como o dois-ponto.
Mas, há outros que o uso fica a critério do autor do texto, como é o caso das reticências e do ponto de exclamação.
No trecho de Graciliano Ramos é possível perceber justamente isso. As reticências foram usadas no final da oração e partiu da intenção do locutor do discurso textual.
Existem ainda outras situações gramaticais de aplicabilidade das reticências. Continue lendo esse artigo e as conheça aqui no site do Guia Estudo.
Uso das reticências
As reticências são usadas entre parênteses (…) ou entre colchetes […] para indicar que houve supressão de partes do texto original. Nesse caso, o sentido do parágrafo ou da oração também não pode ser prejudicado.
Normalmente, a ideia em suprimir partes do texto original é deixar para o leitor apenas as informações principais. Por isso, o conteúdo deve apresentar-se claro e objetivo.
Esses usos gráficos podem ocorrer em vários tipos de gêneros textuais. Inicialmente, podemos exemplificar com um trecho de texto acadêmico que é muito usado.
Trata-se do artigo “O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar” das pesquisadoras Sandra Dallabona e Sueli Maria Mendes. Leia abaixo:
[…] A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, eu se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações constantes com o pensamento coletivo. […] (ALMEIDA, 1995, p.11)
Observe que o uso dos colchetes entre as reticências no início e no final do parágrafo está indicando que houve um “corte” do texto original de Almeida. E em nada a significação textual foi prejudicada conforme dito anteriormente.
Agora, leia abaixo a reprodução do discurso da ex-presidente Dilma Rousseff na abertura da septuagésima Assembleia Geral da das Nações Unidas (ONU) no dia 28 de setembro de 2015:
A ONU ampliou suas iniciativas, incorporando a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (…) ao fim da pobreza, ao desenvolvimento social e econômico e ao acesso a serviços de qualidade.
Temas, como os desafios urbanos, a questão de gênero – das mulheres e das meninas –, as questões de raça ganharam prioridade.
Não conseguiu o mesmo êxito ao tratar da segurança coletiva, questão que esteve na origem da Organização e no centro de suas preocupações.
(…) a expansão do terrorismo que mata homens, mulheres e crianças, destrói patrimônio da humanidade, expulsa de suas comunidades seculares milhões de pessoas, mostram que a ONU está diante de um grande desafio.
Não se pode ter complacência com tais atos de barbárie (…).
Da mesma forma que o exemplo anterior, o sentido textual é coerente e o uso das reticências entre parênteses tem a mesma finalidade.
Uso de letra maiúscula e minúscula após as reticências
Após o uso das reticências existe uma especificidade gramatical quanto ao emprego de letra maiúscula e minúscula. Então, ocorrem casos da oração ou do parágrafo seguir na progressão das ideias.
Se o autor do texto mencionar informações novas à continuidade textual, inicia-se com a letra maiúscula.
Leia abaixo alguns exemplos:
Exemplo 1: Estou muito preocupado com tudo isso… Todos os professores estão esperando por mim na escola.
Exemplo 2: Lázaro fez durante a tarde os trabalhos de TI da empresa… No dia seguinte preferiu ver o mar.
Exemplo 3: Joana foi à praia muito animada… À noite continuou a leitura de Augusto Cury.
Por outro lado, se o autor apenas interrompeu o pensamento e deu continuidade com a mesma linha de raciocínio, a continuidade textual inicia-se com a letra minúscula.
Leia abaixo as orações:
Exemplo 4: Douglas sorriu… perguntou sobre sua filha.
Exemplo 5: O pai pensou, pensou, pensou, … mas continuou sem saber que atitude tomar.
Exemplo 6: Como eu estava dizendo… bem… lamentavelmente, a senhora não foi a escolhida para assumir o cargo de gerência da empresa.
Reticências na literatura
O uso das reticências na literatura funciona como um recurso gráfico. E, normalmente, os escritores a utilizam para marcar um tom emocional, reflexivo, contemplativo, etc.
Leia abaixo o poema “Os cortejos” de Mário de Andrade, um importante escritor do Modernismo no Brasil que colocou sua cidade amada de São Paulo como temática principal:
Monotonias das minhas retinas…
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…
Todos os sempres das minhas visões! “Bom Giorno, caro.”
Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades…
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! Os tumultuários das ausências!
Pauliceia – a grande boca de mil dentes;
E os jorros dentre a língua trissulca
de pus e de mais pus de distinção…
Giram homens francos, baixos, magros…
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…
Estes homens de São Paulo,
todos iguais e desiguais,
quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
parecem-me uns macacos, uns macacos.” (grifos nossos)
Mário de Andrade não somente interrompe o pensamento em muitos versos como também sugere para o leitor outras sensações subjetivas
, como no verso “de pus e de mais pus de distinção…”.