Disputa já dura mais de 70 anos
O conflito na Caxemira consiste em uma disputa territorial e religiosa que começou antes mesmo da Índia e o Paquistão tornarem-se independentes do Reino Unido, em agosto de 1947. Essa região, que também faz fronteira com a China, tem aproximadamente 220 mil quilômetros quadrados e abrange as nascentes dos rios Ganges e Indo.
Embora grande parte da sua extensão esteja situada entre as montanhas do Himalaia – possibilitando que apenas 20% das terras possam ser cultivadas, em virtude da seca durante quase todo o ano – as áreas que são banhadas pelos rios têm sido capazes de desenvolver a agricultura, com grandes colheitas de arroz, frutas e legumes, além da produção têxtil.
O conflito na Caxemira
Em 1947, o Reino Unido perdeu o poder diante dos movimentos – liderados por Mahatma Gandhi e a Liga Muçulmana – que reivindicava a independência da Índia. Até esse momento, dois territórios eram controlados pelos britânicos: a União Indiana e a República Islâmica do Paquistão.
Antes da independência e fragmentação da Índia, as áreas de Jammu, Caxemira, Ladakh, Aksai Chin, Gilgit e Baltisan Partition eram governadas pelo marajá Hari Singh. Com as lutas pela emancipação, o parlamento britânico elaborou um plano de divisão territorial que deixava a Caxemira livre para adesão da Índia ou Paquistão.
O marajá Singh não realizou de imediato a anexação a um dos dois países, mas os guerrilheiros paquistaneses tentaram assumir o controle, o que deu início ao primeiro conflito na Caxemira. Esse embate resultou na divisão de terras ao longo da chamada Linha de Controle: o Paquistão assumiu o controle de Gilgit, Baltisan e a parte ocidental da Caxemira (Aksai Chin), já a Índia ficou com o estado formado por Jammu, Ladakh e a a maior porção da Caxemira.
A China, que durante anos contestou os seus limites com o território indiano, fechou uma aliança com o Paquistão e assumiu o poder de Aksai Chin. A Índia, por sua vez, tentou recuperar esse trecho, estimulando ainda mais as desavenças com os paquistaneses.
No segundo e terceiro conflito na Caxemira, em 1965 e 1971, o governo indiano recuperou as áreas mais produtivas e populosas – com mais de 12,5 milhões de habitantes – dessa região. Em 1972, sob intervenção da ONU, houve o Acordo de Simla, que, entre outras medidas, permitiu a libertação de prisioneiros de guerra paquistaneses e uma nova limitação para Linha de Controle.
Essas negociações permaneceram ativas até o fim dos anos de 1990, quando atentados e ameaças de retaliação entre Índia e Paquistão foram retomados.
Por que há tanta instabilidade na região?
A população de Jammu e Caxemira, que pertence à Índia, é de maioria muçulmana, sendo o único Estado indiano em que os hindus estão em maior proporção. Além disso, muitas dessas pessoas preferem a independência desses territórios ou a adesão por parte do Paquistão, pois cultuava-se a crença de que o país deveria ser o ‘lar’ dos muçulmanos no sul da Ásia.
A instabilidade econômica e os altos índices de desemprego também agravaram os conflitos na Caxemira. As crises sociais, políticas e religiosas foram atenuadas desde 1989, uma vez que a área indiana passou a sofrer atentados de militares muçulmanos e práticas violentas do seu próprio exército. Por vezes, os soldados islâmicos paquistaneses atravessam as fronteiras para lutar contra o governo da Índia na Caxemira.
O Paquistão ainda acusa os indianos de recorrerem à tortura e assassinatos para retirar o direito da população escolher, através de plebiscito, qual o país deveria anexar a região da Caxemira ao seu território. Em contrapartida, a Índia afirma que os paquistaneses são os culpados pelas disputas, pois patrocinaram a criação de campos de treinamento terrorista e perderam o controle sobre o tráfico de armas no seu trecho de domínio, o que fortalece as ações de grupos extremistas.
Além da troca de acusações e ataques, outra questão que preocupa os chefes de Estado de diferentes nações é o fato dos dois países apresentarem programas nucleares. Em maio de 1998, a Índia realizou cinco testes nucleares no deserto da província de Rajasthan. O Paquistão, utilizando-se da justificativa de defesa, também realizou uma série de testes nesse mesmo ano.
Na tentativa de conter uma possível guerra nuclear, os Estados Unidos denunciaram os testes indianos e pressionaram para os paquistaneses não dessem respostas. Como não houve uma pausa de ambos os lados, tanto os norte-americanos quanto chineses impuseram sanções econômicas aos países.
Em razão dos atentados de 11 de setembro, essas políticas foram flexibilizadas, especialmente porque os EUA precisavam do apoio paquistanês para captura de Osama bin Laden e combate à Al Qaeda.
Contexto atual
Em 2003, após diversas brigas e mortes na Linha de Controle – que separa a Caxemira paquistanesa da indiana – os representantes de cada lado concordaram com um cessar-fogo. Tempos depois, o Paquistão ainda prometeu suspender os financiamentos aos opositores do governo indiano, enquanto a Índia ofereceu anistia a quem deixasse a luta armada.
Contudo, em 2015, um ataque à base aérea indiana em Pathankot, ao norte da cidade de Punjab, reacendeu as disputas. E, desde então, não houve mais tentativas de paz entre os países.
Em 2019, a Índia voltou a culpar grupos paquistaneses pela morte de mais de 40 soldados indianos – ataque considerado por especialistas e veículos de comunicação ao redor do mundo como um dos mais violentos desde o começo do conflito na Caxemira. E, em retaliação, autorizou ataques aéreos contra bases militares em áreas paquistanesas.