Resumo de Português - Catacrese

Recurso que nomeia uma palavra ou expressão sem definição própria dentro da língua

A catacrese integra um dos quatro grupos que formam as chamadas figuras de linguagem. Originada da palavra grega , que significa “mau uso ou emprego de palavras”, consiste na aplicação de um termo no seu sentido figurado pela falta de outro que o defina de forma mais adequada. 
Comum na linguagem oral, funciona como uma espécie de comparação, no qual as palavras substituídas apresentam conceitos semelhantes. Além disso, costuma atribuir características de seres animados (nomes de pessoas, animais, insetos, etc.) a inanimados (objetos, estados, qualidades). 
Apesar da predominância na oralidade, também está presente na escrita, principalmente na literatura e música. Muitas vezes é usada no lugar de uma expressão formal ou técnica. Alguns estudiosos acreditam que a catacrese é um tipo de metáfora estereotipada e viciada, uma vez que já foi incorporada pelos nativos da língua e supre uma necessidade de utilização em virtude da ausência de outra palavra com significado original. 

Exemplos de catacrese

A catacrese tornou-se popular e utilizada frequentemente no dia a dia pela semelhança de sentido com as propriedades existentes entre os seres vivos. Atua como se fosse um “empréstimo”, pois na falta ou distanciamento do sentido real de um termo acaba correspondendo aquilo que se deseja nomear. Confira alguns exemplos:
  • Ana embarcou no avião das 20 horas para Fortaleza. 

O verbo “embarcar” tem seu significado ligado ao ato de entrar no barco. No entanto, também remete à entrada em vários transportes, pois não há uma palavra específica que faça referência ao momento. 

  • João quebrou o da mesa.
O “pé” é uma estrutura que serve de suporte apenas para o corpo humano, mas é utilizado na comparação de determinada parte da mesa.
 
  • Cuidado com a asa da xícara, ela está com defeito! 
Sabe-se que a “asa” é um membro que possibilita o voo de aves, borboletas, insetos, entre outros animais. Mas como não existe um nome apropriado para essa parte do objeto, acabou sendo incorporado pela língua. 
  • Paula sujou a manga da camisa
A palavra “manga”, no seu sentido real, refere-se à fruta. Entretanto, não existe outro termo que possa definir essa parte da roupa. 
Observa-se que as expressões utilizadas nas frases acima já ficaram enraizadas ao longo do tempo. O “empréstimo” das palavras acontece em tantos momentos que já não percebemos mais as suas origens. Conheça mais exemplos:
  • O dente de alho;
  • A batata da perna;
  • O salto de pico fino;
  • A pele do tomate;
  • O fio de azeite;
  • A boca da garrafa;
  • O braço do sofá;
  • As maçãs do rosto;
  • Os dentes do serrote;
  • A cabeça do prego;
  • O pé da página;
  • O céu da boca;
  • A coroa do abacaxi;
  • A raiz da questão. 



Diferenças entre catacrese, metáfora e personificação

A catacrese também é considerada uma metáfora obrigatória. A definição metafórica se deve ao seu princípio comparativo, já a parte “obrigatória” é por suprir uma necessidade em virtude de uma falta, mas sem objetivo de expressividade. Apesar da associação, existem diferenças entre essas figuras de linguagem que precisam ser memorizadas. 

A metáfora, do grego (mudança; transposição; transformação), utiliza uma palavra fora do seu contexto convencional, dando a ela um novo significado através de uma relação de semelhança. Ela estabelece comparações e o uso de um termo com sentido de outro. 
A catacrese, por sua vez, atende uma demanda de uso dentro do idioma. É um tipo de adaptação em consequência da falta de um termo próprio para certo objeto ou coisa, sendo desprovida de intenção poética
Entenda melhor nos exemplos a seguir:
  • O brilho dos seus olhos é como raios de luz.
  • Ana Paula foi colocada no olho da rua. 
Na primeira frase, a metáfora aparece por meio da comparação do brilho dos olhos aos raios de luz. Já na segunda, o termo “olho” remete à determinada área de uma localidade, caracterizando uma catacrese.
Em outros casos, é confundida com a figura chamada de personificação ou prosopopeia. A expressão “costas da cadeira”, por exemplo, muitas vezes levanta tal dúvida. 
No entanto, ao contrário da catacrese, a personificação atribui sentimentos humanos a coisas ou seres irracionais para transmitir uma ideia, deixando de lado a necessidade de nomeação para algo. 
Nesse sentido, “costas da cadeira” é uma catacrese porque faz referência a uma região do objeto que não tem outra nomenclatura. Para ser identificada como prosopopeia, que aproveita de atributos humanos para passar a mensagem, o exemplo deveria ser elaborado da seguinte forma: 
  • A cadeira estava tão velha que pedia socorro. 

O que são figuras de linguagem?

As figuras de linguagem, também conhecidas como figuras de estilo, são recursos linguísticos que proporcionam novos sentidos às palavras ou expressões. Servem para intensificar a conotação (significado figurado) da linguagem escrita ou oral e estão divididas em quatro categorias. 
Figuras de palavras
As figuras de palavras, semânticas ou tropos trabalham intensamente com o significado dos termos através da substituição, comparação ou associação. A sua lista inclui metáfora, catacrese, símile ou comparação, analogia, perífrase, metonímia, sinestesia, ambiguidade ou anfibologia, antonomásia, alegoria e simbologia. 



Figuras de construção
Também chamadas de figuras sintáticas, ocorrem quando há mudanças intencionais na organização dos termos em uma frase. O objetivo é provocar inversões, omissões e repetições para dar ênfase aos significados. Elas são classificadas em: anacoluto, anáfora, anástrofe ou inversão, hipérbato, sínquise, assíndeto, polissíndeto, elipse, zeugma, silepse, hipálage, pleonasmo ou redundância. 
Figuras de pensamento
São elementos que alteram a parte semântica – os sentidos que uma única palavra pode assumir quando colocada em variados contextos. Além disso, mantêm relações entre o real significado dos termos e o figurativo, simbólico. Essas figuras são antítese, apóstrofe, eufemismo, gradação ou clímax, hipérbole, ironia, paradoxo ou oxímoro, prosopopeia ou personificação.
Figuras de som
Como o nome já sugere, destacam o âmbito fonológico das palavras por meio da repetição, reprodução ou imitação de sons. Elas evidenciam a expressividade com atributos ligados à sonoridade. São separadas em quatro grupos: aliteração, assonância, onomatopeia e paronomásia.