As características do Quinhentismo, primeira manifestação literária do Brasil, estão relacionadas com a chegada das primeiras embarcações portuguesas no Brasil.
Nas cartas endereçadas aos parentes que ficaram em Portugal, padres, escritores e poetas descreviam a viagem pelo mar, a situação dos navios e, principalmente, a paisagem que encontraram no “Novo Mundo”.
Nesse período a literatura não era genuinamente brasileira. Os padres jesuítas e os portugueses que se aventuraram pelo país escreviam a respeito do Brasil sob um ponto de vista europeu.
Enquanto o primeiro grupo se interessava em catequizar os nativos, o segundo tinha interesse em explorar os recursos naturais, como o pau-brasil. De um modo geral, a visão do homem europeu sobre o Brasil era uma das principais características do quinhentismo.
A produção literária no Brasil do século XVI era constituída basicamente de informação e formação, principais características do quinhentismo no Brasil.
Relatos de viagem, descrição de cultura, hábitos alimentares, padrão de higiene, contexto político e econômico, desenvolvimento e ensinamentos religiosos. Todos com o objetivo de informar portugueses ou instruir os nativos de acordo com a perspectiva de Portugal.
Pode-se dizer que essas duas formas de produção foram características do quinhentismo. Elas ficam divididas assim:
Informação – Cartas e documentos. Na literatura da informação, há predominância de um texto descritivo sobre o descobrimento do país e as grandes navegações. A principal função dessa produção era a de descrever como os portugueses atuavam para conquistar o território brasileiro.
O principal escritor desse modelo literário é Pero Vaz de Caminha. A carta de Caminha é um dos documentos históricos mais importantes do período colonial. A narrativa em primeira pessoa do escrivão português, retrata com detalhes a cultura da sociedade indígena que vivia no Brasil, e o choque de cultura gerado pela chegada dos portugueses.
Abaixo, um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha destinada ao Rei Dom Manuel:
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças — ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si.
Formação – Literatura religiosa, encenação de peças de teatro e literatura pedagógica. O objetivo dessa produção era o de converter os indígenas ao catolicismo e adequá-los ao modelo social europeu. As conquistas espirituais também eram características do quinhentismo.
A literatura de formação também era conhecida como literatura de catequese. Os padres jesuítas escreviam cartas, poemas, sermões e peças de teatro para demonstrar aos indígenas como eles deveriam se comportar e, principalmente, para validar a fé religiosa.
Assim como a colonização tinha o objetivo de transformar em colônia e “tomar conta” de vários territórios, a catequização buscava adquirir o domínio religioso.
Por isso, as divindades indígenas e as formas de cultuar a natureza, foram demonizados. Assim que o Estado Português conquistou o território do Brasil, o catolicismo se tornou a religião oficial.
Principais características do Quinhentismo
O Quinhentismo recebeu esse nome por ter iniciado no ano de 1500. Todas as manifestações artísticas e literárias que aconteceram no período, são basicamente sobre a descrição do território, a flora, a fauna, o hábito dos indígenas que era considerado “exótico” e as missões realizadas pelos padres.
Temáticas características do quinhentismo.
A escrita desse movimento teve pouco valor literário, mas foi muito importante para a história do Brasil.
As características do quinhentismo no Brasil ficam evidentes nos textos que mostram:
- A preocupação com a expansão do território;
- A exploração dos recursos e o enriquecimento dos portugueses;
- E ao mesmo tempo, atenção às questões religiosas.
Os aspectos que mais representam as características do quinhetismo são:
- Produção literária com linguagem simples (é preciso levar em consideração o período);
- Excesso de adjetivos nos textos – utilizados principalmente para caracterizar a população nativa;
- Textos informativos/descritivos – como crônicas de viagens e incursões no território brasileiro;
- Textos formativos – produções de cunho educativo, social e religioso.
Autores do Quinhetismo
Entre os principais autores do Quinhentismo, destacam-se:
- Pero Vaz de Caminha
Pero Vaz de Caminha foi escritor e vereador. Ele nasceu em 1450 e faleceu em 1500. O autor era o principal escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Caminha foi o primeiro a descrever a paisagem das terras brasileiras.
Sua carta, “Achamento do Brasil”, datada em 1º de Maio de 1500, até hoje é uma das produções históricas mais importantes.
A carta que foi enviada ao Rei de Portugal D. Manuel é considerada o marco inicial da literatura no Brasil.
- Hans Staden
Hans Staden foi um mercenário alemão. O viajante esteve duas vezes no Brasil no século XVI. No seu relato sobre a América, escrito em 1548, Staden narra o período em que se tornou prisioneiro dos tupinambás durante nove meses.
Os relatos do viajante contam com detalhes da prática da antropofagia, comum naquele período, e todas as atividades culturais dos tupinambás. Católico, a narrativa de Hans Staden parte de uma perspectiva religiosa e moral europeia.
- Padre José de Anchieta
O nome de José de Anchieta figura como um dos mais importantes do Quinhentismo. Além de padre, Anchieta foi poeta, gramático, historiador e teatrólogo, sendo a dramaturgia, uma das características do Quinhetismo mais importantes para o ensinamento da fé católica.
José de Anchieta era um padre jesuíta espanhol que veio ao Brasil com a missão de catequizar nativos do grupo tupi. O padre aprendeu a língua nativa e criou a primeira gramática indígena.
Anchieta também desenvolveu um papel importante na defesa dos indígenas contra os colonizadores e foi fundamental para fundar as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Outros autores também despontam como essenciais para a literatura da época, como o Padre Manuel da Nóbrega e o historiador Pero de Magalhães Gândavo.