As características do Arcadismo surgiram em meio ao período que o Iluminismo estava em alta. O maior marco dessa época foi o desenvolvimento tecnológico, científico e social na Europa.
Mais propriamente em Portugal, onde essa escola literária teve início, a fase era de transformação e renovação, afinal, o país tinha acabado de passar pela Guerra da Restauração. Esse embate aconteceu para que Portugal se tornasse independente da Espanha.
As características do Arcadismo foram totalmente influenciadas pela reestruturação econômica, política e social do novo estado. A educação automaticamente sofreu muitas alterações, o que impulsionou o cientificismo.
Exatamente nesse período, o Arcadismo se originou em Portugal, questionando a religiosidade e dando amplitude à razão.
As características do Arcadismo surgiram logo após o fim da escola literária Barroco, que valorizava a religiosidade. O Arcadismo apresentou proposta contrária, dando importância para a razão e para o estudo.
O Arcadismo teve início em Portugal em 1756, com a Arcádia Lusitânia em Lisboa. Esse movimento artístico surgiu inspirado na Arcádia Italiana, para confrontar o Barroco. A Arcádia era uma academia literária que além de analisar as características do Arcadismo como todo, criou uma nova linguagem e roupagem para o momento.
Partindo desse princípio, de ser uma contraproposta de estilo, o Arcadismo tem como base uma linguagem simplificada, o que difere totalmente do Barroco, que era extremamente rebuscado.
Manuel Maria Barbosa, conhecido como Bocage, foi o principal poeta do Arcadismo na Europa.
O que foi o Arcadismo
Arcadismo conhecido também como Neoclassicismo ou Setecentismo, propôs um estilo de vida simples, longe do conturbado centro urbano, valorizando assim a vida mansa no campo.
Entre as principais características do Arcadismo estão respectivamente à busca do equilíbrio e do retorno ao que é clássico, como a família campestre por exemplo. Esses ideais tiveram como base as seguintes correntes filosóficas:
- Fugere Urbem: fugir do urbano
- Locus Amoenus: lugar ameno, o gozo da natureza
- Aurea Mediocritas: equilíbrio do ouro
- Inutilia Truncat: abolir o inútil da vida e conviver com o essencial
- Carpe Diem: aproveite o momento, tenha uma vida leve, aproveite o simples como uma caminhada com pastores no campo
Principais características do Arcadismo em Portugal
O Arcadismo se inspira no Neoclassicismo no que diz respeito à fuga da cidade para o campo. As principais características do Arcadismo em Portugal, algumas resgatadas e adaptadas ao contexto histórico são:
- Objetividade e racionalismo
- Linguagem simples
- Bucolismo (vida no campo) e pastoralismo
- Simplicidade e exaltação da natureza
- Crítica à burguesia e aos centros urbanos
- Uso de pseudônimos – os poetas do período costumavam escrever suas obras e assinar com outro nome
Principais autores do Arcadismo em Portugal
- Manuel Maria Barbosa du Bocage
- Antônio Dinis da Cruz e Silva
- Pedro Antônio Correia Garção
- Marquesa de Alorna
- Francisco José Freire
- Domingos dos Reis Quita
- Nicolau Tolentino de Almeida
- Filinto Elísio
Características do Arcadismo no Brasil
O Arcadismo chegou ao Brasil durante o período de colonização, quando o minério estava em alta, principalmente no estado de Minas Gerais.
Essa escola literária foi trazida ao Brasil através dos filhos burgueses de pais que tinham muito ouro, que foram estudar em Lisboa e acabaram influenciados pelas características do Arcadismo na Europa.
As característica do Arcadismo trazidas de Portugal para o Brasil foram muito semelhantes, porém divergiram em alguns aspectos.
No Brasil, o Barroco ainda predominava, o que desdobrou em um grande choque de cultura quando “os filhos da elite” chegaram ao Brasil. Enquanto no Brasil a linguagem continuava rebuscada, a arquitetura exagerada e as roupas extravagantes, esse modelo lá fora era tido como exagerado ou popularmente chamado de brega.
As obras traziam a simplicidade do Arcadismo, mas misturavam um pouco do drama do Barroco. Alguns traços das obras eram:
- Uso de pseudônimos
- Poesia como construção artística
- Fingimento poético: por exemplo, autores que se intitulavam em uma realidade fictícia. Um autor comum, assinava como camponês ou como um pastor de ovelhas
- Marcas neoclássicas – referências em Latim, valorização do clássico
Principais autores arcadistas brasileiros
Cláudio Manuel da Costa – responsável por inaugurar o Arcadismo no Brasil com o livro Obras. Apesar de valorizar traços do Arcadismo em suas obras, Costa difundiu ainda algumas ideias do Barroco. Outros artistas que se destacaram no movimento foram: Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Frei Santa Rita Durão.
Obras de destaque
Para compreender melhor como funcionava essa linguagem, seguem trechos de duas obras que se destacaram durante o período.
O primeiro é “O Uraguai”, escrito por Basílio Gama.Esse é um poema épico que conta a conturbada história entre jesuítas, índios (liderados por Sepé Tiarayú) e europeus (espanhóis e portugueses) nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul.
Trecho:
Ergue de jaspe um globo alvo e rotundo, E em cima a estátua de um Herói perfeito; Mas não lhe lavres nome em campo estreito, Que o seu nome enche a terra e o mar profundo. Mostra na jaspe, artífice facundo, Em muda história tanto ilustre feito, Paz, Justiça, Abundância e firme peito, Isto nos basta a nós e ao nosso mundo. Mas porque pode em século futuro, Peregrino, que o mar de nós afasta, Duvidar quem anima o jaspe duro, Mostra-lhe mais Lisboa rica e vasta, E o Comércio, e em lugar remoto e escuro, Chorando a Hipocrisia. Isto lhe basta.
O outro destaque é “O Caramuru”, escrito por Santa Rita Durão. O poema épico que retrata o descobrimento da Bahia, conta a história de Diogo Álvares Correia “O Caramuru”.
Trecho:
De um varão em mil casos agitado, Que as praias discorrendo do Ocidente, Descobriu o Recôncavo afamado Da capital brasílica potente: Do Filho do Trovão denominado, Que o peito domar soube à fera gente; O valor cantarei na adversa sorte, Pois só conheço herói quem nela é forte. Ao seio intacto de uma Virgem bela; Se da enchente de luzes Soberanas Tudo dispensas pela Mãe Donzela; Rompendo as sombras de ilusões humanas, Tu do grão caso! a pura luz revela Faze que em ti comece, e em ti conclua Esta grande Obra, que por fim foi tua.