O Arcadismo em Portugal caracterizou-se por ser uma das escolas literárias mais influentes da Europa no século XVIII, o famoso “século das luzes”. Teve início na Itália, mas foi disseminada em Portugal por autores que queriam desacreditar os ideais do Barroco, movimento anterior.
O arcadismo era tido como uma escola de linguagem mais simples e direta, que enfatizava a racionalidade e as paisagens bucólicas e campestres, tendo foco no homem como o centro de tudo.
A exaltação da natureza, o afastamento dos conceitos religiosos e a reaproximação com as tendências clássicas eram destaques que marcaram o arcadismo em Portugal. Os temas pastoris, naturais e o equilíbrio eram traços evidentes nas obras árcades
.
Teve como autor proeminente o português Manuel Maria Barbosa Du Bocage, que produzia poesias transitórias com tendências do arcadismo e do romantismo, escola posterior.
Entenda o Arcadismo em Portugal
Escola influenciada por ideias do iluminismo, o Arcadismo em Portugal expressava uma linguagem mais denotativa e racional, com destaque para o antropocentrismo.
A Arcádia Lusitânia foi uma academia árcade fundada, em 1756, em Lisboa, que reunia os autores que buscavam inovar o cenário literário europeu da época e discutir ideias de movimentos artísticos.
Também conhecido como neoclassicismo ou setecentismo, o arcadismo trouxe alguns conceitos clássicos que abominavam a questão da religiosidade exacerbada, o foco da escola anterior. Os artistas árcades argumentavam que o Barroco em Portugal já era um modelo ultrapassado que precisava ser ignorado
.
Para eles, a literatura portuguesa, para ser uma arte de qualidade, deveria ser inspirada no Renascimento e nos padrões mais clássicos.
A linguagem do arcadismo em Portugal pregava uma vida simples, com valorização do meio ambiente e exaltação da natureza.
No entanto, a burguesia, que criticava o modo de vida urbano e luxuoso dos nobres, continuava em busca de poder.
A burguesia, inclusive, foi precursora de muitas transformações sociais e inovadoras para a conjuntura do continente europeu.
No mesmo período em que o arcadismo em Portugal ganhava força, a Revolução Francesa acontecia trazendo modificações para outros países da Europa.
Estudiosos acreditam que o arcadismo surgiu para atuar como um balanço de equilíbrio, pois o barroco, escola literária anterior, tinha como característica marcante o exagero e a dualidade
em suas vertentes.
Acompanhando o arcadismo vem o romantismo e o realismo, que traziam novas maneiras de enxergar a vida, com mais possibilidades de crescimento e evolução.
Como principais mudanças que o arcadismo em Portugal influenciou, destaca-se a reforma na educação. Os jesuítas, por exemplo, foram afastados da educação escolar pelo fato de serem religiosos.
A partir dessa realidade, o cientificismo se firmou, pois tudo era mais racional, e isso proporcionou o desenvolvimento científico e tecnológico do período.
Principais características do Arcadismo em Portugal
A busca da razão e equilíbrio tomou conta das obras e estilos de vida que marcaram o arcadismo em Portugal.
Existem alguns conceitos que explicam cada singularidade do arcadismo, como o Bucolismo que prega a fuga da cidade (ou fugere urbem). Os poemas do arcadismo em Portugal geralmente retratam um lugar ameno (ou locus amoenus), que geralmente eram paisagens campestres, com muito verde, animais e outros elementos da natureza.
A vida na natureza implicava em equilíbrio e racionalidade. Os autores arcadistas se inspiravam nas ideias do filósofo Jean-Jacques Rousseau. Ele pregava que a sociedade corrompia o homem e apenas era possível viver puramente por meio do contato fiel com a natureza.
A arte clássica greco-romana era considerada pelos poetas árcades como o maior símbolo de beleza e austeridade
. Os autores buscavam uma simplicidade perfeita que, de acordo com eles, podia ser vista em pastoris, daí surgiu a ideia dos pseudônimos de pastores gregos
na assinatura dos poemas.
A linguagem utilizada era objetiva. Afastavam-se da subjetividade pois acreditavam que poderia atrapalhar na construção da arte simples. Carpe Diem (ou aproveite o dia) é um dos conceitos mais conhecidos provenientes do arcadismo em Portugal, que expressou exatamente a importância de aproveitar o dia como ele se apresenta, na natureza, com simplicidade, de forma leve.
A materialidade da vida urbana era muito criticada. O valorizado era a ideia de vida pacata, feliz e pobre materialmente no campo, porém com alta elevação espiritual. O amor romântico idealizado também estava presente nos poemas arcadistas.
Outros nomes fortes que representavam o arcadismo em Portugal: Pedro Antonio Correa Garção, António Diniz Cruz e Silva, Marquesa de Alorna e Francisco José Freire.
Com caráter conservador, o arcadismo mostrava em meio aos poemas, pinturas e arte em geral que a verdadeira felicidade só era conquistada por meio da contemplação da natureza.
Exemplos e Interpretação – poemas árcades
Nada se pode comparar contigo – Bocage
O ledo passarinho, que gorjeia
D’alma exprimindo a cândida ternura
O rio transparente, que murmura,
E por entre pedrinhas serpenteia;
O Sol, que o céu diáfano passeia,
A Lua, que lhe deve a formosura
O sorriso da Aurora, alegre e pura,
A rosa, que entre os Zéfiros ondeia
A serena, amorosa primavera
O doce autor das glórias que consigo,
A deusa das paixões e de Citera;
Quando digo, meu bem, quando não digo,
Tudo em tua presença degenera.
Nada se pode comparar contigo.
A Rosa – Bocage
Tu, flor de vênus,
Corada rosa,
Leda, fragrante
Pura, mimosa,
Tu, que envergonhas
As outras flores
Tens menos graça
Que os meus amores
Tanto ao diurno
Sol coruscante
Cede a noturna
Lua inconstante
Quanto a Marília
Té na pureza
Tu, que és o mimo
Da natureza.
O buliçoso
Cândido amor
Pôs-lhe nas faces
Mais viva cor.
Tu tens agudos
Cruéis espinhos
Ela suaves
Brandos carinhos.
Ao observar os dois poemas, pode-se notar a clara presença de elementos da natureza, descrição e imaginação, emprego de linguagem objetiva, denotativa direta e simples e expressão do amor romântico idealizado.