A ararinha azul, com nome científico de Cyanopsitta spixii, que vem do grego: kuanos “azul-piscina ou ciano” com a junção do latim: psitta, “papagaio”; e spixii, em homenagem a Johann Baptist von Spix, é uma espécie de ave completamente azul, endêmica da Região Nordeste, ou seja, só pode ser encontrada de forma natural neste local.
O problema é que a ave já é considerada um dos animais extintos na natureza, restando cerca de 160 espécimes no mundo, todas criadas em cativeiro. Antes, elas habitavam matas de galeria com predominância de árvores de caraibeiras, aliadas a riachos sazonais no extremo norte do estado da Bahia, nos municípios de Juazeiro e Curaçá.
Também existem relatos não confirmados do aparecimento da ararinha azul nos estados de Pernambuco e Piauí.
Descobrimento
A primeira descrição da ararinha azul foi realizada em 1824 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, com o nome de Arara hyacinthinus. Contudo, este epiteto, designação dada para a palavra latinizada que se refere ao nome do gênero na nomenclatura binominal de uma espécie, estava pré-ocupado pelo Psittacus hyacinthinus, descrito em 1790 pelo naturalista britânico John Latham.
Então, em 1832, o assistente de von Spix na publicação do livro de 1824, Johann Georg Wagler, substituiu o nome científico da espécie para Sittace spixii.
Já em 1854, o zoólogo francês Charles Lucien Bonaparte descreveu Cyanopsitta como o novo gênero da espécie, reformulando o nome científico para Cyanopsitta spixii.
Por acaso, a espécie foi inserida no gênero Ara, onde se classificam quinze espécies de araras e maracanãs que habitam zonas de floresta tropical e subtropical da América do Sul, e América do Norte.
Porém, o ornitólogo e naturalista alemão Helmut Sick não considerava a espécie uma arara, por acreditar que ela tivesse uma aproximação maior com as jandaias.
Análises moleculares foram capazes de provar que a Cyanopsitta está mais próxima dos gêneros Primolius, Ara e Orthopsittaca.
Características da ararinha azul
A ararinha azul pode chegar até 60 centímetros de comprimento, com uma envergadura de 1,20 metros e podendo chegar a pesar entre 286 e 410 gramas.
Sua plumagem possui vários tons de azul, contudo a região do ventre tem um tom pálido a esverdeado, enquanto a cauda, dorso e asas possuem tons mais vivos. As asas e caudas também possuem as extremidades pretas.
As bochechas, fronte e a região do ouvido são azul-acinzentados. O anel perioftálmico e o loro, região entre os olhos e as narinas, são nus e, quando adultos, a pele é de coloração cinza-escura.
A cauda é mais longa, de forma proporcional, e as asas mais longas e estreitas que as outras araras, como a arara azul. Seu bico é todo preto e os pés vão desde marrom-escuros a pretos.
A ararinha azul jovem se diferencia da adulta por ter a cauda mais curta, a íris acinzentada, a faixa nua no rosto mais clara e uma faixa branca na frente do bico.
Comportamento
As pesquisas sobre comportamento da ararinha azul são escassas, pois começaram somente na década de 1980, quando existiam apenas três indivíduos na natureza. Contudo, os dados obtidos com os estudos das últimas três espécimes foram suficientes para deduzir informações confiáveis sobre seu habitat natural e suas necessidades biológicas.
A alimentação dos três indivíduos era baseada em flores, frutos, seiva, polpa e sementes. Na dieta do último indivíduo observado na natureza foram identificados 13 espécies de plantas.
Sementes de pinhão-bravo (Jatropha mollissima) e faveleira (Cnidoscolus quercifolius) representavam cerca de 81% da dieta da ararinha azul. Vagens da caraibeira e da baraúna, e os frutos do joazeiro, do pau-de-colher e de facheiros e outras cactáceas também faziam parte da sua alimentação.
A época das chuvas, entre outubro e novembro, era quando as espécimes entravam na estação reprodutiva. A ararinha azul era dependente de árvores da espécie Tabebuia aurea, local que construíam seus ninhos.
Entre dois e três ovos eram colocados no ninho, que eram feitos em espaços ocos naturais da árvore ou construídos por pica-paus. A observação feita com a última espécime revelou que a ararinha azul pernoitava em facheiros para proteção do ninho.
Dentro do cativeiro, uma ararinha azul registrou longevidade máxima de 27 anos.
Conservação
A ararinha azul é considerada extinta na natureza desde 2002 pelo Ministério do Meio Ambiente. Já a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) a classifica como “em perigo crítico” (possivelmente extinta na natureza).
A perda do habitat natural, competição com abelhas africanizadas por ninhos, caça e tráfico ilegal de filhotes são os responsáveis pela extinção da espécie na natureza.
Em 2010, restavam apenas 73 espécimes de ararinha azul no mundo, distribuídas em cinco instituições. Deste número, somente seis estavam no Brasil, sendo um casal que nunca reproduziu, no zoológico de São Paulo.
Sete ovos foram fertilizados artificialmente e dois deles desenvolveram filhotes, em 2013. Em 2014, em um feito inédito, os três mantenedores produziram filhotes no mesmo ano e dois filhotes nasceram por incubação natural no Brasil.
Já em 2016, dois mantenedores produziram as primeiras espécimes de ararinha azul criadas pelos pais. Somente em 2017 que a espécie voltou a alcançar estabilidade.
No total, em 2017 somava-se cerca de 152 espécimes, sendo 20 filhotes produzidos em 2015, 23 em 2016 e 26 em 2017. Desses, 11 estão no Brasil.
Em agosto de 2018, 146 espécimes viviam na Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados, em Rüdersdorf, na Alemanha. Cerca de 120 vieram do Catar, que foram transferidas por conta da morte do mantenedor da Instituição Preservação da Vida Selvagem Al Wabra.
O criatório possui uma meta de produzir 20 ariranhas por ano.