Questão 3 Comentada - Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte (AL-RN) - Assessor Técnico - Controle Interno - FCC (2013)

      A Gazeta comentou hoje, com fina malícia, uma publicação do Diário Oficial, contendo a lista de todas as patentes de invenção que caíram em caducidade. É realmente interessante a relação dessas “invenções”, que os inventores, desenganados ou desprotegidos, não quiseram ou não puderam explorar: máquinas de beneficiar café, instrumentos de música, selins, carvão, mobílias, dentaduras, carros, tintas, caixões para defuntos, acendedores instantâneos, e que sei mais? não houve ramo de indústria em que o gênio dos “inventores” não se exercitasse.

      A mania de inventar é uma das mais espalhadas. [...]

      Ah! pobre alma humana, sempre devorada por sonhos torturantes, sempre incendida em desejos e ambições ardentes! “Inventar” é a grande e fúlgida Quimera... Inventar é criar: quem inventa é, mais ou menos, o rival de Deus, o êmulo das forças vivas da natureza. Inventar é reproduzir a aventura arrojada de Prometeu: é roubar ao céu um pouco do seu segredo, é entrar em competência com a Divindade, é afrontar a força criadora e misteriosa que rege o universo ... Ousado e rútilo sonho!...

      Desses pobres inventores, desses infelizes filhos e continuadores do Prometeu antigo, quantos acabam desiludidos ou loucos no catre do hospital ou na cela do manicômio! Mas quem haverá que ouse rir dessa loucura ou dessa miséria? A mania da “invenção” é a prova palpável, a demonstração cabal e irrecusável da força da alma humana – dessa mártir encarcerada que vive a bracejar no duro cárcere, querendo partir os liames que a cativam, querendo libertar-se de sua penúria moral, querendo voar e devassar os segredos da vida. Essa doença é o Ideal!

      Confesso que, lendo a relação de patentes publicada pelo Diário Oficial, não tenho a coragem de sorrir. O sentimento, que essa leitura me inspira, é uma mistura de tristeza e de admiração: tristeza pela inanidade dos nossos sonhos, e admiração pelo incansável aspirar, pela ânsia infinita, pela sagrada e perpétua revolta da alma humana contra a sua miséria, e pelo seu eterno desejo de saber, de compreender, de criar, de caminhar para a luz...

                (Olavo Bilac. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 490)



A afirmativa correta, considerando-se o emprego de sinais de pontuação no texto, é:

  • A A presença dos sinais de interrogação no 1° e no 4° parágrafos reafirma a surpresa expressa pelo autor em relação à listagem de invenções e ao destino irremediável de seus inventores, não pressupondo resposta alguma.
  • B Os dois-pontos que aparecem, respectivamente, no 1° e em dois momentos do 3° parágrafo introduzem segmentos de igual valor semântico e estrutural.
  • C As vírgulas que isolam a oração que essa leitura me inspira (último parágrafo) podem ser retiradas, sem prejuízo para a correção.
  • D O uso dos sinais de exclamação no 3° e no 4° parágrafos indica interrupção intencional do pensamento, permitindo a interferência do leitor na interpretação dos fatos.
  • E As aspas que demarcam algumas palavras relacionadas pelo sentido, como “invenção”, “inventores” e “Inventar”, indicam o sentido especial e diferenciado que o autor lhes imprime, como novidades sem sentido, que caíram em desuso.