O substituto da vida
Quando meu instrumento de trabalho era a máquina de escrever, eu me sentava a ela, escrevia o que tinha de escrever, relia para ver se era aquilo mesmo, fechava a máquina, entregava a matéria e ia à vida.
Se trabalhasse num jornal, isso incluiria discutir futebol com o pessoal da editoria de esporte, ir à esquina comer um pastel ou dar uma fugida ao cinema.
Se já trabalhasse em casa, ao terminar de escrever eu fechava a máquina e abria um livro, escutava um disco ou dava um pulo rapidinho à praia. Só reabria a máquina no dia seguinte.
Hoje, diante do computador, termino de produzir um texto, vou à lista de mensagens para saber quem me escreveu, deleto mensagens inúteis, respondo às que precisam de resposta, eu próprio mando mensagens inúteis. Quando me dou conta, já é noite lá fora e não saí da frente da tela.
Com o smartphone seria pior ainda. Ele substituiu a caneta, o bloco, a agenda, o telefone, a banca de jornais, a máquina fotográfica, o álbum de fotos, a câmera de cinema, o DVD, o correio, a secretária eletrônica, o relógio de pulso, o despertador, o gravador, o rádio, a TV, o CD, a bússola, os mapas, a vida. É por isso que nem lhe chego perto – temo que ele me substitua também.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. 02.01.2016. Adaptado)
O título, O substituto da vida, resume de maneira bastante adequada a ideia apresentada sobre o smartphone, na medida em que, no texto, o autor considera que essa tecnologia pode
- A facilitar a vida dos usuários, ao desempenhar o mesmo papel de outras ferramentas na realização de tarefas diversas, e em menor tempo.
- B substituir diversas ferramentas, vindo a tornar-se a única realidade reconhecida por seus usuários e, no extremo, substituir o próprio usuário.
- C quebrar barreiras até então existentes para a comunicação por meio de outras tecnologias, diminuindo as distâncias entre seus usuários.
- D ser determinante para ultrapassar barreiras de comunicação da vida real, melhorando a qualidade das relações entre seus usuários.
- E ser usada para realizar uma infinidade de tarefas incômodas, liberando seus usuários para ocuparem seu tempo com atividades prazerosas.