Questão 4 Comentada - Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJ-CE) - Oficial de Justiça (2022)

Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo. 


[Religiões e progresso]

É conhecida a tese de que nas sociedades pré-modernas, como o medievo europeu ou as culturas ameríndias e africanas tradicionais, a religião não tem uma existência à parte das demais esferas da vida, não é um nicho compartimentalizado de devoção e celebração ritual demarcado no tempo e no espaço, mas está integrada à textura do cotidiano comum e permeia todas as instâncias da existência.  

A separação radical entre o profano e o sagrado – entre o mundo secular regido pela razão, de um lado, e o mundo da fé, regido por opções e afinidades estritamente pessoais, de outro – seria um traço distintivo da moderna cultura ocidental. Mas será isso mesmo verdade? Até que ponto o mundo moderno teria de fato banido a emoção religiosa da vida prática e confinado a esfera do sagrado ao gueto das preces, contrições e liturgias dominantes? Ou não seria essa compartimentalização, antes, um meio de apaziguar as antigas formas de religiosidade e ajustar contas com elas ao mesmo tempo em que se abre e se desobstrui o terreno visando a liberação da vida prática para o culto de outros deuses e de outra fé?

Não se trata, é claro, de negar o valor desses outros deuses: a ciência, a técnica, o conforto material, a sede de acumulação de riquezas. O equívoco está em absolutizar esses novos deuses em relação a outros valores, e esperar deles mais do que podem oferecer. A ciência jamais decifrará o enigma de existir; a tecnologia não substitui a ética; e o aumento indefinido de renda e riqueza não nos conduz a vidas mais livres, plenas e dignas de serem vividas, além de pôr em risco o equilíbrio mesmo da bioesfera.

(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 152-153)



As normas de concordância verbal estão plenamente respeitadas na frase:

  • A Às manifestações de sacralidade das sociedades pré-modernas sucederam, em nossos dias, o culto de deuses profanos.
  • B O culto de valores profanos, tal como muitos sustentam, consagram-se hoje à valorização da técnica pela técnica, acima da ética.
  • C Já não se revestem de uma sacralização autêntica os hábitos que nos levam a adorar os deuses profanos de nossa época.
  • D Tudo o que se imaginava levar a uma vida de valores mais autênticos acabaram por se converter em práticas materialistas.
  • E Os equívocos ligados ao endeusamento pragmático da vida material não faz senão crescer a desilusão quanto ao nosso futuro.