Trabalho como realização
Quando me perguntam por que ainda não me aposentei e eu respondo que é porque gosto do meu trabalho, me olham com um misto de incredulidade e indignação. Eu quase tenho que me desculpar pela desfeita: a maioria das pessoas acha que trabalho é castigo e que falar bem dele é pura ostentação, se não for hipocrisia.
Pois bem: entendo perfeitamente que muitos trabalhos possam ser vistos como castigo. Há incontáveis tarefas que podem ser desinteressantes, tediosas, cansativas, que não trazem prazer nenhum para a maioria das pessoas. Mas há outras nas quais nossa personalidade se realiza, que podem perfeitamente constituir-se como nosso meio de expressão, nossa identidade assumida e resolvida como vocação. Exemplo clássico é o de um professor que tenha grande prazer em dar aula: ele verá a aposentadoria não como uma bênção, mas como brusca interrupção de uma atividade vital. Ele vai adiar o quanto puder o “gozo”, o “desfrute” (enganosas palavras) de uma aposentadoria que mais lhe parece um castigo.
Fico imaginando, entre outras utopias, a de um mundo em que houvesse para cada um aquele trabalho que representasse também sua realização pessoal. Acredito mesmo que um dos índices mais seguros para se reconhecer a felicidade de alguém seja o prazer que a pessoa encontre em trabalhar. Quando o trabalho vira sinônimo de criação, e quem o faz se sente como um genuíno criador, temos, é forçoso admitir, uma situação de privilégio, em vez de se constituir uma possibilidade de realização ao alcance de todos.
(Felício Godói, inédito)
Todos os tempos verbais estão adequadamente articulados, acatando ainda as normas de concordância, na frase:
- A A despeito de serem árduos e desafiadores, há trabalhos que trarão muita satisfação àqueles que se propuserem a assumi-los com seriedade.
- B Sempre houve pessoas a quem pareceram inútil buscar prazer num trabalho que venha a exigir delas dedicação plena e grande esforço.
- C Caso desejemos que nossa personalidade viesse a se realizar num trabalho, seria necessário que não se medisse esforços para levá-lo a bom termo.
- D Cabem aos professores que manifestem prazer ao dar aula não deixarem que esse entusiasmo viesse a esmorecer com o passar do tempo.
- E Quando vierem a faltar utopias, por conta do pragmatismo do nosso mundo, que não nos venham pelo menos a faltar a memória das que já houveram.