Questão 2 Comentada - Prefeitura de Lapa-2 - Cuidador Social - OBJETIVA (2025)

A grama do vizinho


Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-oquê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude, considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas.

Pra consumo externo, todos são belos, sexy, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz de conta.

Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia.


Fonte: Martha Medeiros. Adaptado


Considerando as informações do texto, assinalar a alternativa INCORRETA.

  • A A autora descreve um sentimento que julga coletivo, relativo a como aproveitamos nossa passagem na vida.
  • B A expressão “a grama do vizinho é mais verde” é usada para demonstrar o contraste mental que fazemos entre nossas situações de vida em relação à dos outros.
  • C Martha Medeiros, ao longo do texto, critica a necessidade de “se aparecer” quando as coisas são positivas, o que impede conexão humana real por meio de nossas faltas.
  • D O relato de sua adolescência é um diferente: ela nunca sentiu sensação similar, o que a impede de compreender o porquê de as pessoas se sentirem assim.
  • E É fácil acharmos que nossas vidas não têm graça quando tudo que nos é apresentado vem da exaltação de estilos de vidas considerados perfeitos.