Questão 6 do Concurso Prefeitura Municipal de Nova Friburgo - Agente Administrativo - Instituto Consulplan (2023)

Apelo


Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite e eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.

E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada − o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas?

Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando.

Venha para casa, Senhora, por favor.


(TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.)



Quando se constrói uma metáfora, considera-se que houve uma transferência de um termo para um contexto de significação que não lhe é próprio. É possível inferir que há metáfora em: 
  • A “Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.” (2º§)
  • B “Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.” (1º§)
  • C “Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo.” (2º§)
  • D “Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham.” (3º§)