Texto 1
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
(ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago. In: O rei da vela; Manifesto pau-brasil; Manifesto antropófago. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. p.19)
Texto 2
américa amem
américa amem
me ensinou a ser assim
antropofágico pagão
um fauno de calça lee
américa amem
palavras
palas
palavreados
américa amem
woody woody
voo doo
feijão & arroto
américa amem
nosso desespero
nossa paixão
imensa
(Chacal. América (1975). In: Tudo (e mais um pouco): poesia reunida (1971-2016). São Paulo: Editora 34, 2016. p. 301.)
Na década de 1970, observou-se, no Brasil, uma ampla produção de poesia que ficou conhecida como marginal. No poema “América” (texto 2), a autodeclaração do eu poético como “antropofágico” faz referência ao Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade (texto 1), porém a perspectiva apresentada por Chacal diferencia-se por:
- A assinalar a ambiguidade entre submissão e adesão apaixonada aos modelos.
- B fazer a distinção entre os produtos da cultura de massa e os da alta cultura.
- C escolher a ironia como recurso para elaboração da revisão crítica da tradição.
- D restabelecer o passado da antiguidade clássica como modelo linguístico e cultural.
- E estimular a comercialização e o consumo de produtos culturais industrializados.