Questão 77 do Concurso Polícia Militar do Estado de São Paulo (PM-SP) - Tecnólogo de Administração Policial Militar - VUNESP (2014)

Leia o trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos, para responder à questão.

Fabiano tinha ido à feira da cidade comprar mantimentos. Precisava sal, farinha, feijão e rapaduras. Sinhá Vitória pedira além disso uma garrafa de querosene e um corte de chita vermelha. Mas o querosene de seu Inácio estava misturado com água, e a chita da amostra era cara demais.

Fabiano percorreu as lojas, escolhendo o pano, regateando um tostão em côvado, receoso de ser enganado. Andava irresoluto, uma longa desconfiança dava-­lhe gestos oblíquos. À tarde puxou o dinheiro, meio tentado, e logo se arrependeu, certo de que todos os caixeiros furtavam no preço e na medida: amarrou as notas na ponta do lenço, meteu­-as na algibeira, dirigiu-­se à bodega de seu Inácio.

Aí certificou-­se novamente de que o querosene estava batizado e decidiu beber uma pinga, pois sentia calor. Seu Inácio trouxe a garrafa de aguardente. Fabiano virou o copo de um trago, cuspiu, limpou os beiços à manga, contraiu o rosto. Ia jurar que a cachaça tinha água. Por que seria que seu Inácio botava água em tudo? perguntou mentalmente. Animou-­se e interrogou o bodegueiro:

- Por que é que vossemecê bota água em tudo?

Seu Inácio fingiu não ouvir. E Fabiano foi sentar-­se na calçada, resolvido a conversar. O vocabulário dele era pequeno, mas em horas de comunicabilidade enriquecia­-se com algumas expressões de seu Tomás da bolandeira. Pobre de seu Tomás. Um homem tão direito andar por este mundo de trouxa nas costas. Seu Tomás era pessoa de consideração e votava. Quem diria?

(Graciliano Ramos. Vidas secas. 118. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2012, p. 27­28. Adaptado)



Leia o trecho de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, para responder à questão.
Vejo que o Capibaribe, como os rios lá de cima, é tão pobre que nem sempre pode cumprir sua sina e no verão também corta, com pernas que não caminham. Tenho de saber agora qual a verdadeira via entre essas que escancaradas frente a mim se multiplicam. Mas não vejo almas aqui, nem almas mortas nem vivas; ouço somente à distância o que parece cantoria. Será novena de santo, será algum mês-de-Maria; quem sabe até se uma festa
(João Cabral de Melo Neto. Morte e vida Severina e outros poemas para vozes. 34 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994, p. 33­35) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, apresentam em comum o fato de

  • A tematizarem a situação de abandono dos escravos recém-­libertos no final do século XIX na capital da Re­pública.
  • B apresentarem as dificuldades enfrentadas por famílias nordestinas que se veem obrigadas a migrar por causa da seca.
  • C discutirem a condição de operários que vivem como miseráveis nas grandes cidades no início do século XX.
  • D retratarem os costumes de regiões pobres do Brasil por um viés cômico e fantasioso, assim como fez Mário de Andrade em Macunaíma.
  • E denunciarem as más condições de trabalho dos imigrantes europeus que chegaram às cidades brasileiras no início do século XX.