Prova da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC - SP) (2010) - Questões Comentadas

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O romance O Cortiço , escrito por Aluísio de Azevedo, integra a estética naturalista da literatura brasileira. A respeito dele, indique, nas alternativas abaixo, a que foge a uma identificação com os fatos e as situações narradas na obra.

  • A O romance revela a oposição e o contraste entre os dois espaços da narrativa, o cortiço e o sobrado, e a disputa gananciosa que se estabelece entre João Romão e Miranda.
  • B No cortiço há uma infinidade de tipos, espécie de sínteses sociais com que o autor procurou estabelecer a ponte entre os seres de ficção e a realidade. Por isso, o romance trata dominantemente da historia de personagens, em sua individualidade, em detrimento da coletividade.
  • C Todos os acontecimentos notáveis do cortiço contam com a participação do grupo de lavadeiras, que desempenha papel simultâneo de espectador e agente dos acontecimentos.
  • D João Romão se desdobra para enriquecer e o dinheiro é a mola propulsora que o conduz, que o força unicamente para o acumular, ainda que para isso seja necessário roubar, escravizar, mentir, sofrer as maiores agruras.
  • E A relação de Bertoleza com João Romão começa com um engano e termina em tragédia. João Romão a restitui ao dono e à escravidão. Entre o retorno à escravidão e a morte, Bertoleza não tem dúvida: de um só golpe, certeiro e fundo, rasga o ventre de lado a lado.
Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto e estimei a coincidência. (...) O último ato mostrou- me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

O trecho acima é do romance Dom Casmurro de Machado de Assis. A personagem, na trama de Otelo, Desdêmona, leva o narrador do romance a estabelecer comparações com Capitu. Assim, indique nas alternativas abaixo, a que contém afirmação que as aproxima e as identifica.

  • A Tanto Desdêmona quanto Capitu eram inocentes mas acabaram tendo o mesmo destino trágico.
  • B Capitu era inocente, enquanto Desdêmona era culpada por ter traído Otelo e mereceu a morte que teve.
  • C Desdêmona era inocente e foi alvo de calúnia, enquanto Capitu era sabidamente culpada por delito reconhecido.
  • D Bentinho e Otelo tinham motivos claros e suficientes para vingarem- se do ultraje sofrido.
  • E Tanto Desdêmona quanto Capitu foram alvos de ciúmes e tiveram seus destinos traçados pelos maridos.
Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez- se a espuma
E das mãos espalmadas fez- se o espanto
.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
.

De repente, não mais que de repente
Fez- se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
.

Fez- se do amigo próximo o distante
Fez- se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
.

Do poema acima, de Vinicius de Moraes, é INCORRETO afirmar que

  • A apresenta, entre os procedimentos de construção, o uso de anáforas que dão o tom de cadência melódica e de repetição.
  • B apresenta uma métrica que imprime a todos os versos um ritmo cadenciado e forte, constituída, exclusivamente, por decassílabos.
  • C utiliza rimas que, quanto à posição, classificam- se, em todas as estrofes, como cruzadas ou alternadas.
  • D emprega recursos de antítese para caracterizar mudanças bruscas e emoções fortes.
  • E usa a expressão “de repente” como indicação de ruptura temporal e de mudança de estados anímicos.
Vidas Secas, apesar da objetividade de linguagem e secura de estilo, reveste- se, com frequência, de fina poesia e revela sensível lirismo. Assim, indique, dos trechos abaixo, o que apresenta a função dominantemente poética, como resultado do processo de seleção e de combinação das palavras e gerador de efeito estético.

  • A Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado amarelo. Os soldados amarelos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o soldado amarelo e os que mandam nele.
  • B As contas do patrão eram diferentes, arranjadas a tinta e contra o vaqueiro, mas Fabiano sabia que elas estavam erradas e o patrão queria enganá- lo. Enganava. Que remédio?
  • C Como era que sinhá Vitória tinha dito? A frase dela tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apareceu. As arribações bebiam a água. Bem. O gado curtia sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas sinhá Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano percebia o que ela queria dizer.
  • D De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs e a vermelhidão sinistra das tardes.
  • E Os três pares de alpercatas batiam na lama rachada, seca e branca por cima, preta e mole por baixo. A lama da beira do rio, calçada pelas alpercatas, balançava.
Grita, xinga nomes. Ninguém o atende, ninguém o vê, ninguém o ouve. Assim deve ser o inferno. Pirulito tem razão de ter medo do inferno. É por demais terrível. Sofrer sede e escuridão. (...) Seu pai morrera para mudar o destino dos doqueiros. Quando ele sair será doqueiro também, lutar pela liberdade, pelo sol, por água e de comer para todos. Cospe um cuspo grosso. A sede aperta sua garganta. Pirulito quer ser padre para fugir daquele inferno.

O trecho acima integra o romance Capitães de Areia , de Jorge Amado. Descreve a situação de Pedro Bala, preso no reformatório, confinado num cubículo escuro, com fome, sede e humilhação de não poder ficar de pé. A propósito deste trecho, pode- se afirmar que

  • A simboliza, na narrativa, a descida aos infernos da história romanesca. Na dor dessa prova definitiva, o herói retempera o seu amor à liberdade com nova disposição para a luta social.
  • B a palavra inferno, repetida no texto, é apenas um desabafo do protagonista e não projeta nenhuma analogia com a situação geral das crianças e da sociedade.
  • C o estilo quase telegráfico do texto, quebra o ritmo da narrativa e impede a possibilidade de criação e de efeitos estéticos.
  • D desprovido de recursos estilísticos, limita-se a informar a situação do protagonista, mediante a utilização de uma linguagem objetiva e direta., marcadamente referencial.
  • E dá a chave para compreender o mundo interior do personagem, aflorado no texto pelo intenso uso do discurso direto.