Em pleno século XXI os povos e as sociedades continuam convivendo com intolerâncias de toda ordem. As religiões não escapam aos comportamentos de intolerâncias individuais e coletivos. Em “Ciências das religiões: uma análise transdisciplinar” (vol. 3), lê-se: “No final do século XX as ideias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, sexual, política, religiosa, étnico-racial, comportamental, econômica, já que temos que conviver de alguma maneira (CANDAU, 2011; SILVA, 2011). [...] O multiculturalismo, enquanto movimento teórico, é um meio de compreender os movimentos culturais que colocam em choque algumas bases da sociedade ocidental, como a religião cristã e o casamento heterossexual. Falar em multiculturalismo é falar em diferenças, identidades, grupos historicamente oprimidos que lutam pelo reconhecimento de direitos e pelo combate à discriminação” (HANNA, 2015, grifo nosso). Partindo dessas visões e concepções acerca das intolerâncias e do multiculturalismo como condição de compreensão dos movimentos culturais na contemporaneidade, considera-se pertinente a declaração de Candau (2011, p. 54) ao escrever que “O multiculturalismo intercultural, portanto, a nosso ver, é um ótimo percurso teórico para orientar as práticas de Ensino Religioso uma vez que não propõe uma submissão a cultura/religião dominante e nem, muito menos, criar guetos curriculares, ou seja, ensinar determinada religião apenas para o grupo que acredita nela, mas buscando a boa convivência com a diversidade religiosa presente no ambiente escolar”. O autor da obra “Ciências das religiões: uma análise transdisciplinar” faz as seguintes considerações em relação à instituição escolar, a saber:
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A A resistência de muitos professores em trabalhar com a história e a cultura africana e indígena, com as questões de gênero e orientação sexual e com a diversidade religiosa são exemplos de que a instituição escolar tem um caráter homogeneizador e monocultural.
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B A escola, na linha de pensamento Borges e Medeiros (2019), em vez de preservar uma tradição monocultural, está sendo chamada a lidar com a pluralidade de culturas, reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, abrir espaços para a manifestação e a valorização das diferenças.
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C O currículo oficial da escola não aborda as questões de diversidade, mas o currículo oculto se encarrega disso ao serem aprendidas as relações entre professores e alunos, entre a administração e os alunos, entre alunos e alunos, objetivando a formação de pessoas de acordo com os valores vigentes na sociedade; portanto, os estudantes estão constantemente em aprendizagem dessas questões na escola.
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D O pensamento sobre o Ensino Religioso no multiculturalismo intercultural é fundamental para inserir a dimensão da alteridade, do outro, para construir uma relação de respeito à diversidade religiosa no espaço escolar; dessa forma, o outro não precisa ser um adversário, mas um sujeito que contribui para o crescimento da consciência cidadã e do apreço pela pessoa humana.
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E A escola, enquanto instituição social reflete a sociedade que a forma, ou seja, de acordo com Canen (2017 p.138), “a educação escolarizada é um conjunto de práticas indissoluvelmente ligada às demais práticas sociais”; dessa forma, o racismo, machismo, homofobia, preconceitos religiosos, dentre outras formas de segregação e preconceitos, não são manifestados na escola.