Prova da Prefeitura Municipal de Unaí - Professor - Ensino Religioso - COTEC (2023) - Questões Comentadas

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A espécie humana, a priori, é a única na natureza que se relaciona com divindades. Essa relação estabelecida se funda na necessidade de identidade de si do homem com o infinito, dado que a finitude o coloca diante da morte. Nessa perspectiva, vê-se que desde os tempos mais remotos a humanidade busca constituir o sagrado concebendo deuses e deusas, do mesmo modo concebendo espaços metafísicos, o que exigiu ao longo da sua história a instituição de religiões e de seus rituais como forma de ligação da natureza humana com a “natureza” divina. Juan Antônio Estrada, em sua obra “Deus nas tradições filosóficas: aporia e problemas da teologia natural” (vol. 1), escreve que “[...] na realidade, a visão do divino está determinada pela consideração do mundano e do empírico, que se nega e se supera desde o paradigma da compreensão do ser proposto por Parmênides [...]” e segue “Surge, aqui, uma metafísica da necessidade que encerra em seu sistema Deus, ao mundo e ao homem com grandes consequências para a posteridade da cultura ocidental. Por um lado, a imagem da divindade se define, em termos de necessidade, imutabilidade e impassibilidade. Chega-se a Deus em conexão com o mundo”. Na sequência da sua narrativa sobre os problemas da teologia natural, Estrada, em relação a Deus, argumenta que se trata de um

  • A Deus ao qual não se pode rezar, conforme famosa afirmação de Pascal.
  • B Deus atingido pela história e pelo mundo, determinado pelo necessário.
  • C Deus transcendente ao mundo e infinitamente separado dele.
  • D Deus que não pode ser afetado pelo cosmo e pelo devir da história.
  • E Deus considerado na comunhão religiosa como princípio explicativo do mundo, primeira causa.

Em pleno século XXI os povos e as sociedades continuam convivendo com intolerâncias de toda ordem. As religiões não escapam aos comportamentos de intolerâncias individuais e coletivos. Em “Ciências das religiões: uma análise transdisciplinar” (vol. 3), lê-se: “No final do século XX as ideias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, sexual, política, religiosa, étnico-racial, comportamental, econômica, já que temos que conviver de alguma maneira (CANDAU, 2011; SILVA, 2011). [...] O multiculturalismo, enquanto movimento teórico, é um meio de compreender os movimentos culturais que colocam em choque algumas bases da sociedade ocidental, como a religião cristã e o casamento heterossexual. Falar em multiculturalismo é falar em diferenças, identidades, grupos historicamente oprimidos que lutam pelo reconhecimento de direitos e pelo combate à discriminação” (HANNA, 2015, grifo nosso). Partindo dessas visões e concepções acerca das intolerâncias e do multiculturalismo como condição de compreensão dos movimentos culturais na contemporaneidade, considera-se pertinente a declaração de Candau (2011, p. 54) ao escrever que “O multiculturalismo intercultural, portanto, a nosso ver, é um ótimo percurso teórico para orientar as práticas de Ensino Religioso uma vez que não propõe uma submissão a cultura/religião dominante e nem, muito menos, criar guetos curriculares, ou seja, ensinar determinada religião apenas para o grupo que acredita nela, mas buscando a boa convivência com a diversidade religiosa presente no ambiente escolar”. O autor da obra “Ciências das religiões: uma análise transdisciplinar” faz as seguintes considerações em relação à instituição escolar, a saber:

  • A A resistência de muitos professores em trabalhar com a história e a cultura africana e indígena, com as questões de gênero e orientação sexual e com a diversidade religiosa são exemplos de que a instituição escolar tem um caráter homogeneizador e monocultural.
  • B A escola, na linha de pensamento Borges e Medeiros (2019), em vez de preservar uma tradição monocultural, está sendo chamada a lidar com a pluralidade de culturas, reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, abrir espaços para a manifestação e a valorização das diferenças.
  • C O currículo oficial da escola não aborda as questões de diversidade, mas o currículo oculto se encarrega disso ao serem aprendidas as relações entre professores e alunos, entre a administração e os alunos, entre alunos e alunos, objetivando a formação de pessoas de acordo com os valores vigentes na sociedade; portanto, os estudantes estão constantemente em aprendizagem dessas questões na escola.
  • D O pensamento sobre o Ensino Religioso no multiculturalismo intercultural é fundamental para inserir a dimensão da alteridade, do outro, para construir uma relação de respeito à diversidade religiosa no espaço escolar; dessa forma, o outro não precisa ser um adversário, mas um sujeito que contribui para o crescimento da consciência cidadã e do apreço pela pessoa humana.
  • E A escola, enquanto instituição social reflete a sociedade que a forma, ou seja, de acordo com Canen (2017 p.138), “a educação escolarizada é um conjunto de práticas indissoluvelmente ligada às demais práticas sociais”; dessa forma, o racismo, machismo, homofobia, preconceitos religiosos, dentre outras formas de segregação e preconceitos, não são manifestados na escola.

A teologia e os teólogos ainda afirmam que o começo de tudo e o princípio de todas as coisas está com e em Deus. Na Grécia Antiga Clássica, encontramos o “primeiro motor imóvel” de Aristóteles como causa de todo princípio e de toda a natureza. Diferentemente não foi com a “ideia absoluta” de Platão, no seu construto de um “mundo das ideias perfeitas”, como não fora com o ápeiron que seria a causa originária de todos os seres materiais: esse termo grego que indica o ilimitado, o infinito, uma realidade originária e indiferenciada, sem limites e sem fronteiras, “de onde provêm todos os céus e os mundos neles contidos”. Hans Küng, constatando a preocupação de filósofos e teólogos com o problema da origem desde a Antiguidade, afirma que “Um início que ultrapassa tempo e espaço pode ser expresso pela palavra ‘origem’ (em latim, ‘origo’). Esta palavra lembra inicialmente a fonte ‘nascendo’ do chão, ou o astro subindo do horizonte, mas logo ela se amplia para significar todo e qualquer ponto de partida, também no sentido intelectual. É verdade que ‘origem’ não pode de antemão ser identificada com ‘criação’ nem com ‘criador’. Nesse sentido, teólogos facilmente estão expostos a um curto-circuito. Seja como for, o pensamento filosófico moderno, ao contrário do pensamento medieval ou reformador, já não pode simplesmente começar com Deus: ele precisa começar ‘de baixo’. Para o pensamento moderno, o começo do conhecimento está na experiência do homem”. Como, pois, provar a existência de Deus?. Assinale a alternativa que apresenta respostas apontadas por Küng, em sua obra “O princípio de todas as coisas: ciências naturais e religião”, sobre esse questionamento.

  • A A ideia de Deus é uma contradição em si, e os que querem provar que Deus não existe incorrem num erro maior ainda, pois, segundo Kant, “as mesmas provas” que demonstram a incapacidade da razão para provar a existência são suficientes “para demonstrar que toda afirmação em contrário também é adequada”.
  • B Kant está plenamente convencido de que é em vão que a razão estende as suas asas, buscando pela força do pensamento ultrapassar o mundo dos fenômenos e chegar às “coisas em si”, como conclusão necessária do pensamento, e não pela contemplação, ou procurando mesmo chegar ao Deus real.
  • C Kant está convencido de que a ideia de Deus não é um limite teórico necessário, que, qual uma estrela distante, não pode ser atingido pelo processo do conhecimento, mas que de qualquer modo pode ser visado como um ideal a ser atingido.
  • D O homem não pode erguer torres que cheguem até o céu, mas somente casas apenas com a altura e o espaço necessários para nossas atividades ao nível da experiência, por isso não existe nenhuma prova da existência de Deus que não possa ser universalmente aceita, mesmo pelos crentes.
  • E As provas e as demonstrações dos grandes ateus são suficientes para tornar questionável a existência de Deus, ou seja, para provar cabalmente que Deus não existe. Ainda hoje o ateísmo tem alguns profetas entre os cientistas da natureza.

Tratando da existência de Deus em seu “Compêndio de teologia”, Tomás de Aquino segue o pensamento filosófico de Aristóteles ao afirmar que “Deus é imóvel”, assim posto: “Daqui se infere ser necessário que o Deus que põe em movimento todas as coisas é imóvel. Com efeito, por ser a primeira causa motora, se ele mesmo fosse movido, sê-lo-ia ou por si mesmo ou por outro. Deus não pode ser posto em movimento por outra causa motora, pois neste caso haveria outra causa anterior a Ele, com o que já não seria Ele a primeira causa motora”.
Nessa perspectiva, São Tomás, alinhado ao pensamento aristotélico, reconhece, teologicamente, uma natureza criada que tem um princípio causador de todo efeito e a imobilidade de Deus como “perfeição”. Fundamentando a sua teologia, Aquino afirma, na sequência:

  • A Conclui-se que Deus existe necessariamente, portanto, Deus existe sempre.
  • B Inexiste em Deus qualquer sucessão temporal. A sucessão temporal ocorre exclusivamente nas coisas que de um modo ou de outro estão sujeitas ao movimento.
  • C É necessário que se demonstre, na mutabilidade de Deus, que Ele existe, necessariamente por si mesmo.
  • D Segue também que a causa primeira motora é necessariamente simples, pois, em tudo quanto é composto há dois elementos [...]. Deus é simples.
  • E É impossível que Deus seja um gênero. Tampouco é possível que Deus seja como que uma espécie predicável de uma pluralidade de indivíduos.

Considerando as definições das citações em relação à religiosidade, qual das conclusões de Valle a seguir corresponde a um processo pedagógico formal do ensino religioso?

  • A A atitude religiosa se expressa por meio de palavras, gestos e símbolos no meio de cada cultura social. A religiosidade não pode ser reduzida apenas a uma ideia ou sistema de crenças e práticas adotado por alguém.
  • B A religiosidade não é resultante de pulsões biológicas ou processos neuropsíquicos com vida própria, embora tais elementos sejam indissociáveis e nela estão presentes e atuantes; em geral, em nível inconsciente.
  • C A religiosidade comporta sempre um encontro com o outro, seja qual for o entendimento que dele tenha a pessoa ou o grupo religioso no qual ela é socializada.
  • D A religiosidade deve ser vista como uma resposta aprendida na convivência socializada, por meio de múltiplas mediações, tais como costumes, valores, normas, crenças, rituais, mitos e – como mediação de fundo – pessoas.
  • E A religiosidade fundamenta-se nas primeiras relações da criança com as pessoas que a circundam e evoluem em direção a formas elaboradas, exclusivas de seres humanos psicologicamente amadurecidos.