Questão 5 Comentada - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ) - Técnico Administrativo - NCE-UFRJ (2007)

TEXTO I

Pronto para outra?
Ricardo Freire

Para muita gente, esta é a semana mais difícil do ano.
Você volta das férias, tenta se adaptar de novo à rotina e
já pressente as surpresas que vai ter ao receber a conta do
cartão de crédito. Quando se dá conta, é mais uma vítima
da depressão pós-viagem. Eu só conheço uma maneira de
sair dessa: começar a pensar já na próxima. Não, não é
cedo demais. Nem sintoma de descaso pelo trabalho.
Acalentar uma viagem é uma maneira segura de manter
aceso o interesse pelo fato gerador de suas férias: seu
emprego.
Além do que, planejar uma viagem com antecedência
é o melhor jeito de rentabilizar seu investimento. Por que
se contentar em aproveitar apenas os dias que você passa
longe de casa, quando dá para começar a viajar muito
antes de embarcar - e sem pagar nada mais por isso?
Eu gosto de comparar o planejamento de uma grande
viagem ao preparo de um desfile de escola de samba no
Carnaval. Assim como as férias, o Carnaval em si dura
pouco - mas é o grand finale de um ano inteiro de
divertida preparação.
É fácil trazer o know how do samba para suas férias.
Use os três primeiros meses depois da volta para definir o
"enredo" de sua próxima viagem.
Tire os meses seguintes para encomendar guias e
colecionar as informações que caírem em sua mão -
revistas, jornais, dicas de quem já foi. Vá montando o
itinerário mais consistente, descobrindo os meios de
transporte mais adequados, decidindo quais são os hotéis
imperdíveis. Quando faltarem quatro meses para a
partida, tome coragem e reserve a passagem e os hotéis.
Passe os últimos três meses fazendo a sintonia fina:
escolhendo restaurantes, decidindo o que merece e o que
não merece ser visto.
Depois de tudo isso não tem erro: é partir direto para
a apoteose.

Revista Época, 29/01/2007, p. 112 (fragmento).



Essa frase que começa com a dupla negativa se relaciona com a frase nominal seguinte, a única do primeiro parágrafo. Quanto ao emprego do ponto que as separa, podese dizer que sua presença configura:

  • A uma prática viciosa, pois os dois trechos deveriam ter sido escritos numa única frase tendo em vista o fato de haver uma correlação sintática;
  • B uma opção redacional, que se baseia no fato de o uso do ponto marcar uma pausa potencial enfática, mais prolongada do que a da vírgula;
  • C uma obrigatoriedade no uso do ponto simples, conquanto a segunda frase de fato se refira sintática e semanticamente à primeira;
  • D um recurso de estilo próprio do jargão jornalístico, que leva em conta a supremacia do fato referencial sobre a argumentatividade;
  • E uma intervenção retórica do redator na estrutura sintática do parágrafo para reduzir a dimensão das frases e privilegiar o fato jornalístico.