Resolver o Simulado Psicólogo - IBAM - Nível Superior

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Conhecimentos Gerais

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O termo sustentabilidade em conformidade com o site Brasil Escola do UOL é “a busca pelo equilíbrio entre o suprimento das necessidades humanas e a preservação dos recursos naturais, não comprometendo as próximas gerações”. O meio empresarial vem usando uma forma de medir o seu desempenho no tocante à sustentabilidade através de três princípios básicos: a Governança, o Social e Meio ambiente, sendo esse o conceito de:

  • A ODS.
  • B ESG.
  • C ODM.
  • D Agenda 2030.
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Analise os dois episódios que Jokura (2023) descreve a seguir:
2015 − Rompimento de barragem da Samarco em Mariana (MG)
84,5% das vítimas imediatas do acidente eram negras; Povo indígena krenak teve sua subsistência comprometida pela poluição do Rio Doce decorrente do acidente.
2019 − Rompimento de barragem da Vale em Brumadinho (MG)
58,8% dos mortos não se declaravam como brancos e tinham renda média abaixo de dois salários mínimos;
70,3% dos desaparecidos também não se declaravam como brancos e tinham renda média abaixo de dois salários mínimos.
Povo indígena pataxó foi prejudicado pelo acidente.
Ao encontro dos episódios descritos, Carvalho apud Fuentes (2021) elucida que a história do termo está intrinsecamente ligada ao movimento dos direitos civis americanos, que ocorreram entre as décadas de 50 e 60. A sua criação foi atribuída ao ativista afro-americano Benjamin Franklin Chavis Jr, que chegou a atuar como secretário de Martin Luther King Jr., um dos líderes do movimento dos direitos civis.
Isso posto, Jokura (2021) e Carvalho (2021) usaram o seguinte termo para explicar o ocorrido:

  • A Racismo estrutural
  • B Racismo ambiental
  • C Racismo arquitetônico
  • D Racismo infraestrutural
  • E Racismo civil
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Em 19/07/2023, foi apresentado um documento pela ministra Rosa Weber, que proferiu as seguintes palavras: "Estamos aqui para vivenciar um momento de restauração, de promover escuta e debate intercultural, porque a Constituição não é meramente um texto escrito, mas, sim, um sentimento, enquanto alicerce da nossa democracia constitucional" (Agência Brasil e STF, 2023). O documento apresentado foi a tradução da Constituição brasileira. Isso posto, assinale a alternativa que indique corretamente a língua para a qual a Constituição foi traduzida e a explicação sobre a iniciativa:

  • A Língua indígena Tuparí. A iniciativa faz parte das atividades da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), marco criado pelo Ministério dos Povos Indígenas.
  • B Língua indígena Nheengatu. A iniciativa faz parte das atividades da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), marco criado pela Organização das Nações Unidas.
  • C Língua indígena Wayampí. A iniciativa faz parte das atividades da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), marco criado pela Associação Nacional de Ação Indigenista.
  • D Língua indígena Xetá. A iniciativa faz parte das atividades da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), marco criado pelo Instituto de Formação e Pesquisa em Educação Indígena.
  • E Língua indígena Kuruáya. A iniciativa faz parte das atividades da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), marco criado pela Organização dos Estados Americanos.
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As projeções sobre a dinâmica populacional no Brasil indicam que nas próximas duas décadas o Brasil terá aumento da população, mas em ritmo cada vez mais lento. Com menores taxas de fecundidade, a base da pirâmide etária vai diminuir e haverá um aumento do envelhecimento populacional, o que causará problemas sérios na saúde pública e na previdência social. A pandemia da covid-19, por outro lado, afetou a dinâmica demográfica brasileira.
A esse respeito, analise as afirmativas a seguir.
I. O número de óbitos por covid-19 em 2020 (195.725) e 2021 (423.380) superou o de nascimentos. II. Os óbitos por Covid-19 foram mais frequentes, em termos percentuais, em pessoas com mais de 60 anos de idade. III. Em 2021, o Brasil registrou a maior taxa de óbitos e o número de nascimentos foi o menor da série histórica iniciada em 2003.
Está correto o que se afirma em

  • A I, II, III.
  • B II e III, apenas.
  • C I e III, apenas.
  • D II, apenas.
  • E III, apenas.
5

As violências e causas externas são a terceira principal causa de óbitos e internações no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo o Ministério da Saúde. As agressões são o tipo de violência mais frequente, seguidas por acidentes de trânsito, lesões acidentais e lesões autoprovocadas.
Sobre o fenômeno da violência no Brasil, avalie se as afirmativas a seguir estão corretas. I. O Brasil alcançou em 2020 a meta da Organização das Nações Unidas (ONU), lançada em 2010, de redução de 50% das mortes no trânsito em uma década nos países-membros. II. Quanto à mortalidade por suicídio entre as unidades da Federação, observa-se que todos os estados da Região Sul do País apresentaram taxas de suicídio superiores à média nacional. III. Desde a alteração do Código Penal Brasileiro, em 2015, incluindo a Lei nº 13.104/15, que tipifica o feminicídio como homicídio, o número de assassinatos de mulheres em função de gênero diminuiu no país. IV. Homens e mulheres negros, pela primeira vez em 2022, passaram a representar menos de 50% das vítimas de homicídios no Brasil.
Está correto o que se afirma em

  • A I e III, apenas.
  • B II e IV, apenas.
  • C II e III, apenas.
  • D II, apenas.
  • E I, III e IV, apenas.
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No início do século XIX, na Inglaterra, o movimento ludista consistiu a primeira reação popular à introdução das máquinas na produção fabril. Destruindo as máquinas, os ludistas queriam salvar seus empregos e seu modo de vida. Desde aquela época longínqua, cada onda de inovação tecnológica deflagra reações de temor ou pânico baseadas em profecias catastróficas sobre o fim dos empregos. A revolução tecnológica em andamento atualiza essa preocupação. Sobre a revolução tecnológica desencadeada pelo processo de globalização e sua influência nos empregos, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) As ondas de inovação tecnológica destruíram, em pouco tempo, milhões de empregos.

( ) A automação não repercutiu sobre o projeto e o design dos automóveis, uma vez que não contribuiu para simplificação e padronização, inviabilizando, assim, a flexibilidade na utilização das máquinas.

( ) A automação da produção industrial elimina postos de empregos tanto direta quanto indiretamente.

( ) A revolução tecnológica combina com a globalização econômica e reorganiza a paisagem industrial do planeta.

A sequência está correta em
  • A V, V, V, V.
  • B V, V, F, V.
  • C V, F, V, V.
  • D F, V, V, F.

Biologia

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O comércio internacional se dá pela compra de bens ou produtos para dentro e fora do país, quando vendedor e comprador estão situados em nações diferentes. Nessas operações comerciais, estão envolvidas questões tributárias, financeiras, administrativas, comerciais e aduaneiras. Sobre os benefícios possibilitados pelo comércio internacional, analise as afirmativas a seguir.

I. Troca intelectual e tecnológica. II. Ganhos de escala e aumento da produtividade. III. Acesso a novos fornecedores de insumos e matérias-primas. IV. Conflitos comerciais.

Está correto o que se afirma em
  • A I, II, III e IV.
  • B I e II, apenas.
  • C I, II e III, apenas.
  • D II, III e IV, apenas.

Administração Pública

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Lançada em 2011, quando oito países (África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Filipinas, Indonésia, México, Noruega e Reino Unido) assinaram a Declaração de Governo Aberto e hoje com cerca de 80 países participantes, a Open Government Partnership (Parceria para Governo Aberto) tem como um dos seus focos:

  • A estimular a recepção da corrente migratória.
  • B reduzir a taxação de impostos alfandegários.
  • C aumentar a transparência dos governos.
  • D definir novos paradigmas de mobilidade urbana.

Conhecimentos Gerais

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Leia o texto a seguir.

Também mediante o uso de IA, imagens de satélite de pastagens de gado espalhadas pelo território brasileiro têm sido analisadas em projeto desenvolvido desde 2008 por um grupo de pesquisadores do MapBiomas, rede colaborativa formada por organizações não governamentais (ONG), universidades e startups de tecnologia. Doutor em sensoriamento remoto, Laerte Guimaraes Ferreira, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e atual diretor de Programas e Bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), afirma que a área de pastagem, que ocupa hoje cerca de 20% do território nacional, pode contribuir para que o país dobre a produção de alimentos sem aumentar o desmatamento.
FIOCRUZ. Ciência propõe olhar abrangente para sanar a fome no Brasil. Disponível em: <https://dssbr.ensp.fiocruz.br/ciencia-propoe-olhar-abrangentepara-sanar-a-fome-no-brasil/>. Acesso em: 05 out. 2023.


De que forma as universidades podem contribuir com a proposta apresentada pelo cientista?

  • A Observando o desempenho do agricultor.
  • B Aprimorando técnicas de recuperação do solo.
  • C Evitando gargalos na distribuição de alimentos.
  • D Impondo modelos de produção alimentar.

Atualidades

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Leia o texto a seguir.

Com o desdobramento dos ataques à Ucrânia, poderiam ser enumerados outros fatores importantes como a perda de acesso aos mercados financeiros, a desconexão da Rússia em relação às principais redes mundiais de investigação, como, por exemplo, o CERN, a fuga de cérebros em massa das elites russas, com milhares de profissionais altamente qualificados a abandonar o país. Os efeitos desses desenvolvimentos não são imediatamente visíveis. No entanto, o isolamento científico, econômico e tecnológico da Rússia representa uma perda importante para o país a médio prazo.
UNIÃO EUROPEIA. As sanções contra a Rússia estão a resultar. Disponível em: <https://www.eeas.europa.eu/delegations/ukraine/sanções-contra-rússiaestão-resultar_pti>. Acesso em: 06 out. 2023. [Adaptado].


As perdas mencionadas no texto podem atingir de que forma a economia russa?

  • A Aumentando o superávit de recursos humanos.
  • B Reduzindo as dimensões territoriais russas.
  • C Aproximando a Rússia aos países do Oriente.
  • D Dificultando o desenvolvimento de inovação.

Português

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Assinale a frase que apresenta um erro de concordância verbal.

  • A Basta de tantos processos e condenações injustas.
  • B Esqueceu-me as datas dos pagamentos das contas.
  • C Não me lembra dessas falhas em nosso sistema.
  • D No Rio Grande do Sul faz invernos intensos.
  • E Pouco me importam os desejos dela.
12

O outro marido


Era conferente da Alfândega — mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem.


Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de d. Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que d. Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era de fato objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.


Ao aparecerem nele as primeiras dores, d. Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal. Santos parecia comprazer-se em estar doente. Não propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a d. Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral, com certo orgulho de estar assim tão afetado.


– Quando você ficar bom…


– Não vou ficar. Tenho doença para o resto da vida.


Para d. Laurinha, a melhor maneira de curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma do padre Eustáquio, que vela por nós. Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito quando ele anunciou que ia internar-se no Hospital Gaffrée Guinle.


– Você não sentirá falta de nada, assegurou-lhe Santos. Tirei licença com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro.


(...) Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos. Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo, que nem melhorava nem matava. A visita não era de todo desagradável, desde que a doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distraída: os internados sabem de tudo cá de fora.


– Pelo rádio — explicou Santos. (...)


Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não veio. D. Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço.


Lá ele não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereço da viúva?


– Sou eu a viúva — disse d. Laurinha, espantada.


O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viúva do Santos, d. Crisália, fizera bons piqueniques com o casal na ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado.


E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo, a outra realidade de Santos era tão destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecível.


– Desculpe, foi engano. A pessoa a que me refiro não é essa — disse d. Laurinha, despedindo-se.


ANDRADE, Carlos Drummond. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/o-outromarido-cronica-de-carlos-drummond-deandrade/ (Adaptado)

Quanto à flexão verbal, assinale a alternativa que apresenta uma passagem do texto, retirada do 8º parágrafo, com verbo no pretérito maisque-perfeito do modo indicativo:

  • A “Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, (...)”.
  • B “(...) ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos.”.
  • C “Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo, (...)”.
  • D “A visita não era de todo desagradável, (...)”.
  • E “(...) desde que a doença deixara de ser assunto.”.
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O outro marido


Era conferente da Alfândega — mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem.


Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de d. Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que d. Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era de fato objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.


Ao aparecerem nele as primeiras dores, d. Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal. Santos parecia comprazer-se em estar doente. Não propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a d. Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral, com certo orgulho de estar assim tão afetado.


– Quando você ficar bom…


– Não vou ficar. Tenho doença para o resto da vida.


Para d. Laurinha, a melhor maneira de curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma do padre Eustáquio, que vela por nós. Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito quando ele anunciou que ia internar-se no Hospital Gaffrée Guinle.


– Você não sentirá falta de nada, assegurou-lhe Santos. Tirei licença com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro.


(...) Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos. Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo, que nem melhorava nem matava. A visita não era de todo desagradável, desde que a doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distraída: os internados sabem de tudo cá de fora.


– Pelo rádio — explicou Santos. (...)


Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não veio. D. Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço.


Lá ele não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereço da viúva?


– Sou eu a viúva — disse d. Laurinha, espantada.


O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viúva do Santos, d. Crisália, fizera bons piqueniques com o casal na ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado.


E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo, a outra realidade de Santos era tão destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecível.


– Desculpe, foi engano. A pessoa a que me refiro não é essa — disse d. Laurinha, despedindo-se.


ANDRADE, Carlos Drummond. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/o-outromarido-cronica-de-carlos-drummond-deandrade/ (Adaptado)

Há um uso adequado do acento grave indicativo de crase apenas na opção:

  • A Não me dirigi à ela nem à ninguém durante a reunião.
  • B Os viajantes chegaram bem àquele território inóspito.
  • C Não costumo comprar nada à prazo.
  • D Ela se referiu à uma heroína do século XIX.
  • E Por causa da promoção, os produtos estavam orçados à partir de 1,99.
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O outro marido


Era conferente da Alfândega — mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem.


Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de d. Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que d. Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era de fato objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.


Ao aparecerem nele as primeiras dores, d. Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal. Santos parecia comprazer-se em estar doente. Não propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a d. Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral, com certo orgulho de estar assim tão afetado.


– Quando você ficar bom…


– Não vou ficar. Tenho doença para o resto da vida.


Para d. Laurinha, a melhor maneira de curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma do padre Eustáquio, que vela por nós. Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito quando ele anunciou que ia internar-se no Hospital Gaffrée Guinle.


– Você não sentirá falta de nada, assegurou-lhe Santos. Tirei licença com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro.


(...) Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos. Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo, que nem melhorava nem matava. A visita não era de todo desagradável, desde que a doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distraída: os internados sabem de tudo cá de fora.


– Pelo rádio — explicou Santos. (...)


Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não veio. D. Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço.


Lá ele não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereço da viúva?


– Sou eu a viúva — disse d. Laurinha, espantada.


O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viúva do Santos, d. Crisália, fizera bons piqueniques com o casal na ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado.


E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo, a outra realidade de Santos era tão destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecível.


– Desculpe, foi engano. A pessoa a que me refiro não é essa — disse d. Laurinha, despedindo-se.


ANDRADE, Carlos Drummond. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/o-outromarido-cronica-de-carlos-drummond-deandrade/ (Adaptado)

Em relação aos aspectos de concordância nominal, assinale a alternativa correta:

  • A Era proibida entrada de menores no estabelecimento.
  • B Escolhemos estampas o mais belas possíveis.
  • C A porta estava meia aberta quando cheguei à sala de aula.
  • D Seguem anexas ao e-mail as propostas de compra e venda do imóvel.
  • E Compramos bastante livros na feira literária.
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O outro marido


Era conferente da Alfândega — mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem.


Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de d. Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que d. Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era de fato objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.


Ao aparecerem nele as primeiras dores, d. Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal. Santos parecia comprazer-se em estar doente. Não propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a d. Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral, com certo orgulho de estar assim tão afetado.


– Quando você ficar bom…


– Não vou ficar. Tenho doença para o resto da vida.


Para d. Laurinha, a melhor maneira de curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma do padre Eustáquio, que vela por nós. Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito quando ele anunciou que ia internar-se no Hospital Gaffrée Guinle.


– Você não sentirá falta de nada, assegurou-lhe Santos. Tirei licença com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro.


(...) Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos. Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo, que nem melhorava nem matava. A visita não era de todo desagradável, desde que a doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distraída: os internados sabem de tudo cá de fora.


– Pelo rádio — explicou Santos. (...)


Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não veio. D. Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço.


Lá ele não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereço da viúva?


– Sou eu a viúva — disse d. Laurinha, espantada.


O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viúva do Santos, d. Crisália, fizera bons piqueniques com o casal na ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado.


E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo, a outra realidade de Santos era tão destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecível.


– Desculpe, foi engano. A pessoa a que me refiro não é essa — disse d. Laurinha, despedindo-se.


ANDRADE, Carlos Drummond. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/o-outromarido-cronica-de-carlos-drummond-deandrade/ (Adaptado)

O vocábulo corretamente grafado está presente na alternativa:

  • A Pretencioso.
  • B Inadmiscível.
  • C Sisudez.
  • D Enxarcado.
  • E Xávena.
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O outro marido


Era conferente da Alfândega — mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem.


Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de d. Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que d. Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era de fato objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.


Ao aparecerem nele as primeiras dores, d. Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal. Santos parecia comprazer-se em estar doente. Não propriamente em queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de uma planta delicada. E mostrou a d. Laurinha a nevoenta radiografia da coluna vertebral, com certo orgulho de estar assim tão afetado.


– Quando você ficar bom…


– Não vou ficar. Tenho doença para o resto da vida.


Para d. Laurinha, a melhor maneira de curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma do padre Eustáquio, que vela por nós. Começou a fatigar-se com a importância que o reumatismo assumira na vida do marido. E não se amolou muito quando ele anunciou que ia internar-se no Hospital Gaffrée Guinle.


– Você não sentirá falta de nada, assegurou-lhe Santos. Tirei licença com ordenado integral. Eu mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro.


(...) Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa, ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a longos intervalos. Ele chegava e saía curvado, sob a garra do reumatismo, que nem melhorava nem matava. A visita não era de todo desagradável, desde que a doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida de hospital pode ser distraída: os internados sabem de tudo cá de fora.


– Pelo rádio — explicou Santos. (...)


Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não veio. D. Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço.


Lá ele não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o endereço da viúva?


– Sou eu a viúva — disse d. Laurinha, espantada.


O informante olhou-a com incredulidade. Conhecia muito bem a viúva do Santos, d. Crisália, fizera bons piqueniques com o casal na ilha do Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado.


E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. Contudo, a outra realidade de Santos era tão destacada da sua, que o tornava outro homem, completamente desconhecido, irreconhecível.


– Desculpe, foi engano. A pessoa a que me refiro não é essa — disse d. Laurinha, despedindo-se.


ANDRADE, Carlos Drummond. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/o-outromarido-cronica-de-carlos-drummond-deandrade/ (Adaptado)

O processo de formação da palavra “esfarelar” está corretamente apontado em:

  • A Sufixação.
  • B Prefixação.
  • C Aglutinação.
  • D Parassíntese.
  • E Conversão.
17
Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas:

Prefiro trem ______ ônibus. Informe ______ passageiros que os preços aumentaram.
Lembrei ______ todos que o voo estaria lotado. Sempre acabo concordando ______ eles.
  • A do que / os / de / por.
  • B a / aos / em / por.
  • C a / aos / a / com.
  • D aos / os / de / com.
18

O adjetivo pode ser substituído por algumas outras palavras ou estruturas de valor equivalente. Assinale a frase em que a adjetivação é realizada por meio de uma preposição mais um advérbio.

  • A Os bois ouviam de longe o grito dos boiadeiros.
  • B Todos os viajantes vinham de perto.
  • C As meninas se posicionaram de lado na carroça.
  • D As rodas de trás estavam com os pneus vazios.
19

Observe a seguinte fábula de Esopo:
“Um burro atravessava um rio carregando sal. Como escorregou e caiu na água, o sal derreteu e a carga tornou-se mais leve. Feliz com isso, quando certa vez passava novamente perto do rio carregando esponjas, acreditou que, se caísse de novo, também aquela carga se tornaria mais leve. Então, escorregou de propósito, mas aconteceu-lhe que, como as esponjas absorveram a água, ele não pôde mais levantar-se e ali morreu afogado”.
A característica básica de um texto narrativo é a sucessão cronológica de ações ou acontecimentos. Assinale a opção em que os verbos destacados não mostram sucessão cronológica.

  • A atravessava um rio / escorregou.
  • B escorregou / caiu na água.
  • C caiu na água / o sal derreteu.
  • D o sal derreteu / a carga tornou-se mais leve.
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Há emprego correto do acento grave, indicativo de crase, em:

  • A “O carteiro enviou mensagem à cidadãs do interior.”
  • B “Ele entregou o presente à Antônio.”
  • C “No final da rua, vire à direita”.
  • D “O carro é movido à gás.”
  • E “A venda é à prazo.”