Resolver o Simulado Pedagogo - SELECON - Nível Superior

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Pedagogia

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o primeiro nível de concretização curricular e por sua natureza aberta configuram:

  • A um modelo curricular homogêneo e normativo que se sobrepõe à competência dos estados e municípios
  • B uma proposta flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e programas
  • C uma contraproposta federal com relação à diversidade sociocultural das diferentes regiões do país
  • D uma determinação do governo federal no sentido de tolher a autonomia de equipes pedagógicas
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Apesar da aprovação da Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que reconhece Libras como língua oficial do país, os alunos surdos ainda enfrentam muitos obstáculos no processo de aprendizagem da Geografia. Um dos procedimentos metodológicos que proporcionariam uma educação geográfica inclusiva é:

  • A a elaboração de slides com imagens, frases e textos curtos
  • B a tradução literal de materiais didáticos em português para a língua de sinais
  • C o uso de áudios, limitados aos conteúdo, e diversos recursos gráficos e visuais
  • D a utilização de pequenos filmes de animação acompanhados de slides com longos textos explicativos
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De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (2013), os conhecimentos escolares podem ser compreendidos como o conjunto de conhecimentos que a escola seleciona e transforma, no sentido de torná-los passíveis de serem ensinados. Esse processo tem sido chamado de:

  • A transmissão da ciência
  • B transposição didática
  • C integração curricular
  • D seleção de conteúdos
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De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (2013), e tendo em conta as situações, os perfis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto político-pedagógico e o regimento escolar viabilizarão um modelo pedagógico próprio para essa modalidade de ensino assegurando, dentre outros aspectos:

  • A a identificação e o reconhecimento das formas de aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização de seus conhecimentos e experiências
  • B seu ingresso precoce no mundo do trabalho por meio de programas de aceleração da aprendizagem e convênios com o comércio e a indústria locais
  • C a distribuição dos componentes curriculares de modo a proporcionar um patamar diferenciado de formação e disposição fixa nos tempos e espaços educativos
  • D que tanto os anos iniciais do Ensino Fundamental quanto os anos finais sejam obrigatoriamente presenciais e tenham 1.200 horas de duração
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Segundo Perrenoud (1999), o medo de alguns educadores de que desenvolver competências na escola levaria a renunciar às disciplinas é infundado porque:

  • A só se deve confiar em competências transversais e em uma formação pluridisciplinar
  • B o ensino por competência leva ao desenvolvimento de capacidades intelectuais muito gerais
  • C basta propor tarefas compostas de exercícios clássicos de consolidação das aprendizagens
  • D as competências mobilizam conhecimentos dos quais grande parte é de ordem disciplinar
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Segundo Goulart (2011), os conceitos de assimilação e acomodação, tomados da Biologia por Jean Piaget, podem tornar mais clara a compreensão do caráter dialético da construção do conhecimento pelos seres humanos. De acordo com essa teoria, a assimilação seria a:

  • A modificação de esquema adquiridos anteriormente, na tentativa de adaptar-se a uma nova situação
  • B adaptação ao mundo e uma consequente organização mental que se designa como equilibração das estruturas mentais
  • C incorporação de um novo objeto ou ideia ao que já é conhecido, ou seja, ao esquema que a criança já possui
  • D capacidade de realizar operações infralógicas derivadas de esquemas complexos e abstratos
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Segundo Fernandes e Freitas (2008), nos processos de avaliação é necessário adotar alguns critérios e princípios porque avaliar é uma atividade que envolve legitimidade técnica e política. Tais critérios e princípios devem ser refletidos coletivamente e estar referenciados:

  • A no projeto político-pedagógico, na proposta curricular e nas convicções sobre o papel social da educação escolar
  • B na ideia de que avaliar é medir e na classificação hierárquica de fracassados e bem-sucedidos e no direcionamento para o mercado
  • C no aspecto da seleção dos mais capazes, no alcance da equidade formal e na obediência a um currículo conservador e imobilista
  • D no ato de avaliar como o principal objetivo do saber, na definição de um aluno modelo e na estrita obediência a normas técnicas
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Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), no que se refere a alfabetização, leitura e escrita, as práticas pedagógicas devem garantir experiências que favoreçam:

  • A o atingimento do nível silábico-alfabético; a leitura de cartilhas com frases memorizadas; atividades centradas na repetição de narrativas orais
  • B a identificação de fonemas e grafemas; a memorização do alfabeto completo; a participação em situações comunicativas formais planejadas pelo professor
  • C o treinamento em atividades de caligrafia; as práticas centradas na decodificação do texto escrito; a dependência exclusiva de estímulos externos
  • D a inserção nas diferentes linguagens; o progressivo domínio de vários gêneros e formas de expressão; experiências de narrativas, apreciação e interação com a linguagem oral e escrita
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Na Lei nº 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a “valorização da experiência extra-escolar” apresenta-se como:

  • A um método da Educação Infantil
  • B uma técnica da Educação Inclusiva
  • C um princípio da Educação Nacional
  • D uma sugestão da Educação Profissional
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Vigotski, em Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico: livro para professores (2009), diferencia dois tipos principais de atividades no comportamento humano, a saber as atividades:

  • A operatória e simbólica
  • B recalcada e sublimada
  • C construtiva e desconstrutiva
  • D reconstituidora e combinatória
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A Lei nº 13.146/2015 incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar a oferta de profissionais de apoio escolar. Para fins de aplicação dessa Lei, considera-se profissional de apoio escolar pessoa que exerce atividades:

  • A de apoio pedagógico ao estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares na Educação Infantil e Educação Básica, em instituições públicas e privadas, excluídas as situações em que a família do estudante com deficiência possa substituir o poder público nessa responsabilidade
  • B pedagógicas e de apoio escolar ao estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas, excluídas as escolas técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas
  • C de alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as escolas técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas
  • D de higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas, excluídas as situações em que a família do estudante com deficiência possa substituir o poder público nessa responsabilidade
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Por vezes, crianças e adolescentes brasileiros estão sujeitos a uma série de questões que influenciam a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento, mas que extrapolam o âmbito das atividades escolares como violência doméstica, exploração sexual, entre outras questões. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (Brasília, 2013), há a orientação de que a escola:

  • A não deve estar atenta a essas questões e sim preocupar-se em transmitir os conteúdos
  • B deve agir isoladamente, já que é a única instituição responsável pelas crianças e adolescentes
  • C não deve agir em relação a essas questões, já que as famílias são as únicas responsáveis pelas crianças e adolescentes
  • D deve manter-se articulada com outras instituições capazes de ministrar os cuidados e os serviços de proteção social a que esses alunos têm direito
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A concepção de interdisciplinaridade se baseia na crítica ao processo de fragmentação do conhecimento. Nesse sentido, de acordo com os PCN (BRASIL, 1998), a interdisciplinaridade:

  • A fundamenta-se na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado
  • B assemelha-se à transversalidade, pois ambas dizem respeito principalmente à dimensão da didática
  • C além de desmembrar a aprendizagem, contribui para a formação de hábitos, atitudes e para a aquisição de princípios
  • D é um tema transversal permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo
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Por meio dos princípios democráticos apontados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, pode-se encontrar o aporte legal para a escola na elaboração da sua proposta pedagógica. De acordo com os Artigos 12, 13 e 14 dessa lei, a escola tem:

  • A por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
  • B acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um
  • C autonomia para elaborar e executar sua proposta pedagógica, porém, deve contar com a participação dos profissionais da educação e dos conselhos escolares ou equivalentes na sua elaboração
  • D forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar, podendo organizar-se em séries anuais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos seriados com base na idade, na competência e em outros critérios
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Moacir Gadotti, em seu livro Pedagogia da Práxis (1998), aponta que Paulo Freire trouxe grandes contribuições para a educação, sendo sua obra e suas ideias reconhecidas internacionalmente. Em relação ao papel do professor, Freire destaca que:

  • A o centro da atividade é o professor, pois nada pode acontecer sem sua contribuição e participação
  • B o papel do professor precisa ser repensado, pois a escola precisa ser vista como um espaço de hierarquia, construção do conhecimento e encontro dos educandos
  • C o profissional da educação tem uma função eminentemente política, educando para manter os padrões hierárquicos e disciplinares, tendo em vista uma educação com qualidade para todos
  • D o professor tem função eminentemente política a desempenhar, educando para a transformação da sociedade atual, tendo em vista uma educação igualitária
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O SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo caracteriza-se por ser:

  • A um programa de atendimento a organização e ao funcionamento, por unidade, das condições necessárias para o cumprimento das medidas socioeducativas
  • B uma equipe técnica interdisciplinar que compreende profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, de acordo com as normas de referência
  • C um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei
  • D um conjunto integrado pelos sistemas estaduais, distrital e municipais responsáveis pela implementação dos seus programas de atendimento à criança e ao adolescente em conflito com a lei, a quem seja aplicada medida socioeducativa
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Segundo Ilma Veiga, em seu livro, Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma construção possível (2004), o projeto político-pedagógico é a própria organização do trabalho pedagógico da escola e sua construção parte dos princípios de:

  • A igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do magistério
  • B administração, organização e funcionamento da escola em sua totalidade
  • C autonomia, estrutura organizacional, currículo e controle social
  • D ética, valores, moral e civismo
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A matrícula de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação é proposta na LDB, preferencialmente nas classes comuns do ensino regular e determina a existência, quando necessário, de serviços de apoio especializado. O Artigo 58º da LDB – Lei n° 9394/96 apresenta o entendimento da Educação Especial como:

  • A uma modalidade de ensino que visa o acolhimento de alunos portadores de deficiência e seu desenvolvimento social
  • B uma modalidade de educação escolar que visa uma organização diferenciada das práticas pedagógicas, a fim de promover a inclusão
  • C um dos níveis de ensino da educação nacional que visa a escolaridade de alunos portadores de necessidades especiais e seu tratamento
  • D uma forma de articulação prevista em Lei que visa o acolhimento de portadores de deficiência nas diferentes etapas da Educação Básica
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Leia a carta dos índios das Seis Nações em resposta à oferta dos governantes da Virgínia, Estados Unidos, para que alguns de seus jovens estudassem nas escolas de branco.
"...Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa.... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens." (BRANDÃO, C.R. O que é educação?).
Para Brandão (2007), de tudo o que se discute hoje sobre a educação, algumas das questões entre as mais importantes estão contidas nessa carta. De acordo com o autor:

  • A não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante.
  • B a educação pode ser definida como um processo onímodo; deve acontecer em estabelecimentos que cumpram as normas vigentes de funcionamento e os conselhos escolares ou equivalentes definem os profissionais que atuarão.
  • C só existe um modelo de educação, um processo instrutivo e com propostas normativas que visa o desenvolvimento acadêmico e a preparação para o trabalho.
  • D não há uma forma única nem um modelo de educação, existem muitos mecanismos sistêmicos para definir o estabelecimento de metas.
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A Lei nº 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases, da Educação Nacional, em seu Artigo 37, trata da educação de jovens e adultos, destacando que esta será destinada:

  • A a desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores
  • B à educação profissional técnica de nível médio articulada, prevista no inciso I do caput do Art. 36-B desta Lei
  • C a incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica , visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura
  • D àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida

Português

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Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

Na frase “A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça”, a expressão “a julgar pelo” é iniciada pela palavra “a”, que assume o valor de:

  • A condição
  • B explicação
  • C consequência
  • D temporalidade
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Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

Na perspectiva do autor, o século XX se caracteriza por:

  • A superação dos episódios de fome
  • B avanços na construção democrática
  • C ênfase em acontecimentos conflituosos
  • D defasagem na estrutura tecnológica industrial
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Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

De acordo com a argumentação do autor, um dos resultados dos eventos mencionados é:

  • A aprofundamento do processo civilizatório
  • B retrocesso a comportamentos violentos
  • C evolução das formas de solidariedade
  • D conquista em estratégia militar
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Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

No “estado natural hobbesiano” descrito, o autor atribui a adesão à ordem civilizada a:

  • A convencimento racional
  • B desejo de pertencimento
  • C submissão espontânea
  • D ameaça de punição
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Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“O civilizado sem máscara de civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa”. Considerando o sentido global do trecho, a palavra “senão” é equivalente à seguinte expressão:

  • A tanto quanto
  • B ainda mais
  • C a não ser
  • D apesar de
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Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“O modelo hobbesiano poderia ser tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento”. A ideia central da frase é apresentada por procedimento caracterizado como:

  • A contra-argumentação
  • B comparação
  • C autoridade
  • D indução
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Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”. No trecho, o travessão pode ser substituído por:

  • A enquanto que
  • B uma vez que
  • C a fim de que
  • D ainda que
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A crise da ecologia psíquica

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Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“Todo ato, por mais simples, extrapola em muito a intenção de quem o pratica”. A ideia presente na expressão “por mais”, no trecho, é equivalente a:

  • A uma vez que
  • B ainda que
  • C tanto que
  • D antes que
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A crise da ecologia psíquica

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Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“A crise ecológica é o resultado conjunto – imprevisto e indesejado – de uma infinidade de ações motivadas por escolhas e desejos que na sua origem, nada têm a ver com o problema criado: a fumaça tóxica das usinas chinesas movidas a carvão russo ilegalmente produzido torna-se chuva ácida e o câncer pulmonar dos coreanos; os gases emitidos por carros americanos movidos a petróleo venezuelano aceleram o derretimento das geleiras groenlandesas que provoca a elevação do nível dos oceanos”. O emprego dos dois-pontos introduz expressão que estabelece com a anterior o objetivo de:

  • A contrapor uma ideia
  • B referenciar autoridade
  • C demonstrar um argumento
  • D comparar duas situações
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A crise da ecologia psíquica

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Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

O emprego de adjetivos pátrios pelo autor tem o propósito de destacar o seguinte aspecto:

  • A localização dos maiores agressores ambientais
  • B indicação dos principais territórios de recuperação
  • C comparação entre espaços de ação positiva e negativa
  • D sustentação do caráter global dos processos descritos

Raciocínio Lógico

31

Considerando a seguinte proposição:
Se Antônia possui dois filhos, então Paulo possui quatro cachorros.
Dessa afirmação, é possível concluir que:

  • A Se Antônia possui quatro cachorros, então Paulo possui dois filhos.
  • B Se Antônia não possui dois filhos, então Paulo não possui quatro cachorros.
  • C Se Paulo possui quatro cachorros, então Antônia possui dois filhos.
  • D Se Paulo não possui quatro cachorros, então Antônia não possui dois filhos.
32

A tabela a seguir fornece, por sexo e por cargo pretendido, a quantidade total de candidatos inscritos em um concurso público.
Imagem relacionada à questão do Questões Estratégicas
Escolhendo-se ao acaso um dos candidatos inscritos nesse concurso, a probabilidade de a pessoa escolhida ser mulher ou pretender um cargo de contador é de:

  • A 62,5%
  • B 68,2%
  • C 72,5%
  • D 78,2%
33

Em um grupo de 20 analistas de projetos, todos falam inglês ou francês. Se 18 falam inglês e 16 falam francês, escolhendo-se ao acaso um desses analistas, a probabilidade de ele falar apenas um dos idiomas é igual a:

  • A 20%
  • B 30%
  • C 50%
  • D 70%
34

Admitem-se como verdadeiras as seguintes proposições:
Todo controlador interno é eficiente. Felipe é desatento. Quem é desatento não é eficiente.
Dessas proposições, conclui-se que , necessariamente:

  • A Felipe pode ser um controlador interno.
  • B Existem controladores internos desatentos.
  • C Felipe não é um controlador interno.
  • D Todas as pessoas eficientes são controladores internos.
35

Dizer que a afirmação “Todos os cuiabanos são contadores” é falsa, do ponto de vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira:

  • A Pelo menos um cuiabano não é contador.
  • B Nenhum cuiabano é contador.
  • C Nenhum contador é cuiabano.
  • D Pelo menos um contador não é cuiabano.
36

Considere-se a seguinte proposição:
Se Rodrigo é contador, então Isabel não é analista legislativa.
Uma proposição equivalente à proposição acima é:

  • A Se Rodrigo não é contador, então Isabel é analista legislativa.
  • B Se Rodrigo não é contador, então Isabel não é analista legislativa.
  • C Se Isabel é analista legislativa, então Rodrigo não é contador.
  • D Se Isabel é analista legislativa, então Rodrigo é contador.
37

Considerando três conjuntos A, B e C não vazios tais que: • A ⊂ B
• C - B = C
Portanto, necessariamente, é verdade que:

  • A algum elemento de A é elemento de C
  • B nenhum elemento de A é elemento de C
  • C algum elemento de B é elemento de C
  • D nenhum elemento de B é elemento de A
38

Considerando-se a proposição “Se 2 + 1 = x, então 3 - 4 = y”, a única opção que contém, respectivamente, valores de x e y os quais tornam a proposição falsa é:

  • A 3 e -1
  • B 4 e -1
  • C 4 e 1
  • D 3 e 1
39

Um funcionário resolveu criar senhas com uma sequência de 3 das 8 letras da sigla EMGEPRON. Por exemplo, MEE, GMN e EME são três diferentes senhas. O número máximo de senhas distintas que esse funcionário poderá criar é igual a:

  • A 318
  • B 336
  • C 384
  • D 392
40

Admite-se que a probabilidade de um candidato passar em um concurso seja 2%. Se dois irmãos fazem esse concurso, a probabilidade de apenas um passar é igual a:

  • A 2%
  • B 1%
  • C 1,96%
  • D 3,92%
41

Cerca de 38 funcionários de uma empresa responderam um questionário com três perguntas de múltipla escolha. O resultado obtido foi:
18 funcionários acertaram a questão número1; 25 acertaram a questão número 2; 30 acertaram a questão número 3; 10 acertaram as três questões; 13 acertaram somente uma das questões; nenhum errou as três questões.
Se n é o número de funcionários que acertaram somente duas questões desse teste, a soma dos algarismos de n é igual a:

  • A 6
  • B 7
  • C 8
  • D 9
42

Na proposição “André é analista de sistema e Raul é engenheiro”, o conectivo lógico utilizado denomina-se:

  • A condicional
  • B bicondicional
  • C disjunção
  • D conjunção
43

A negação de “Camila é advogada ou Bruno é analista técnico” está corretamente indicada na seguinte opção:

  • A Camila não é advogada ou Bruno não é analista técnico.
  • B Camila não é advogada e Bruno não é analista técnico.
  • C Camila não é advogada ou Bruno é analista técnico.
  • D Camila não é advogada e Bruno é analista técnico.
44

Um gerente de produção fez a seguinte declaração:


“Se o funcionário é bem remunerado, então a produção é alta.”


Uma proposição logicamente equivalente à do gerente está indicada na seguinte opção:
  • A Se a produção não é alta, então o funcionário não é bem remunerado.
  • B Se a produção não é alta, então o funcionário é bem remunerado.
  • C Se o funcionário não é bem remunerado, então a produção não é alta.
  • D Se o funcionário não é bem remunerado, então a produção é alta.
45

Sejam A, B e C três conjuntos distintos e não vazios tal que B ∩ C = A. Pode-se afirmar corretamente que C ∪ (B – A) é igual ao seguinte conjunto:

  • A Φ
  • B B ∪ C
  • C A ∪ C
  • D C
46

Considere as proposições:


p : O número de permutações simples de 5 elementos distintos é igual a 120.

q : O conjunto A={1;2;3;4;5} possui 20 subconjuntos distintos com 3 elementos.


Os valores lógicos verdade (V) e falsidade (F) das proposições p e q são, respectivamente:

  • A V e V
  • B F e F
  • C V e F
  • D F e V
47

Retira-se de uma caixa 2/3 do total de n bolas e em seguida 1/5 do restante. Se nessa caixa restaram exatamente 12 bolas, na primeira retirada saiu a seguinte quantidade de bolas:

  • A 5
  • B 15
  • C 30
  • D 45
48

Na proposição “André é analista de sistema e Raul é engenheiro”, o conectivo lógico utilizado denomina-se:

  • A condicional
  • B bicondicional
  • C disjunção
  • D conjunção
49

Um gerente de produção fez a seguinte declaração: “Se o funcionário é bem remunerado, então a produção é alta.” Uma proposição logicamente equivalente à do gerente está indicada na seguinte opção:

  • A Se a produção não é alta, então o funcionário não é bem remunerado.
  • B Se a produção não é alta, então o funcionário é bem remunerado.
  • C Se o funcionário não é bem remunerado, então a produção não é alta.
  • D Se o funcionário não é bem remunerado, então a produção é alta.
50

Sejam A, B e C três conjuntos distintos e não vazios tal que B ∩ C = A. Pode-se afirmar corretamente que C ∪ (B – A) é igual ao seguinte conjunto:

  • A Φ
  • B B ∪ C
  • C A ∪ C
  • D C