A imagem a seguir é a representação do globo terrestre, instrumento de grande importância nos estudos de geografia. A inclinação do eixo da Terra, demonstrada na imagem, é fundamental para o entendimento da(s):
Apesar da riqueza das florestas tropicais, elas estão geralmente baseadas em solos inférteis e improdutivos. Grande parte dos nutrientes é armazenada nas folhas que caem sobre o solo, não no solo propriamente dito. Quando esse ambiente é intensamente modificado pelo ser humano, a vegetação desaparece, o ciclo dos nutrientes é alterado e a terra se torna rapidamente infértil. No texto, pode parecer uma contradição a existência de florestas tropicais exuberantes sobre solos pobres; no entanto, esse fato é claramente explicado pela
Leia:
“... o saber e a informação são essenciais a cada um, para progredir ou ultrapassar a precariedade de uma condição que não se escolheu. Eles servem igualmente para criar e perenizar a dinâmica do 'viver e fazer juntos' numa sociedade confrontada por interesses particulares e dificuldades econômicas. É por isso que, longe de ser apenas um 'dado' a mais, a cultura é o coração de nossa ação a serviço dos habitantes de Lyon [França]”.
(Gérard Collomb - prefeito da cidade de Lyon In: Lyon Citoyen [Lyon cidadã], outubro de 2014. Ed. Ville de Lyon, p. 7)
O prefeito da cidade de Lyon, na França, está se referindo a políticas culturais urbanas. No que diz respeito a esse tópico, o que pode ser dito sobre as realidades urbanas brasileiras?
País emergente de industrialização tardia pelo modelo de substituição de importações, o Brasil ainda apresenta características do subdesenvolvimento, como grandes desigualdades sociais e dependência financeira e tecnológica. O processo de ocupação e organização econômica é o principal responsável por essa situação. O Brasil enfrentou vários obstáculos para a sua plena inserção na atual Terceira Revolução Industrial ou Tecnológica, que teve início a partir da Segunda Guerra Mundial e que se prolonga até os dias atuais. A respeito do assunto, dadas as afirmações abaixo,
I. O crescente e constante mau uso do dinheiro público, a corrupção e o superfaturamento de obras públicas comprometeram a fixação das prioridades nacionais, entre elas a educação, a ciência e a tecnologia.
II. A situação do Brasil, quanto às suas dívidas interna e externa, compromete a canalização de recursos para investimentos em educação e pesquisa científicas ou tecnológicas, agravando nossa dependência em relação ao exterior.
III. Se houvesse uma maior prática política do clientelismo, resultaria em garantia de financiamentos de projetos de interesse nacional, entre eles o desenvolvimento científico e tecnológico, pondo fim à concessão de privilégios apenas à classe agroexportadora.
verifica-se que
Considere as seguintes situações encontradas em grandes cidades como São Paulo.
I. Elevada concentração de superfícies urbanas como o asfalto, paredes de tijolo ou concreto, telhas de barro e de amianto, que absorvem calor.
II. Reduzido número de áreas verdes.
III. Concentração de edifícios, que interfere na circulação dos ventos.
IV. Poluição atmosférica provocada pelo uso de combustíveis como o petróleo.
A combinação dos fatores enumerados é responsável
Assinale a alternativa que identifica a Conferência da ONU que pretendeu aprofundar as discussões e propostas favoráveis ao novo mercado verde, com uso de energia limpa, e gerar soluções para a diminuição da poluição. Paralelo a essa Conferência ocorreu a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, evento da sociedade civil para debater temas relacionados às causas estruturais da crise ambiental e ecológica.
Milton Santos afirma sobre a globalização: “O mundo torna-se unificado – em virtude das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação humana mundializada. Esta, entretanto, impõe-se à maior parte da humanidade como uma globalização perversa” (Adaptado. Por uma nova globalização, 2000, p. 37). Quanto à perversidade da globalização, indique a opção incorreta.
Atuam com o objetivo específico de promover a conectividade entre fragmentos de áreas naturais, pois ligam unidades de conservação e possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquelas das unidades individuais. Também visam mitigar os efeitos da fragmentação dos ecossistemas promovendo a ligação entre diferentes áreas, com o objetivo de proporcionar o deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal.
(www.mma.gov.br. Adaptado.)
Enquanto um instrumento de gestão territorial, o texto discorre sobre a prática preservacionista denominada
Durante a realeza, e nos primeiros anos republicanos, as leis eram transmitidas oralmente de uma geração para outra. A ausência de uma legislação escrita permitia aos patrícios manipular a justiça conforme seus interesses. Em 451 a.C., porém, os plebeus conseguiram eleger uma comissão de dez pessoas — os decênviros — para escrever as leis. Dois deles viajaram a Atenas, na Grécia, para estudar a legislação de Sólon.
COULANGES. F. A cidade antiga São Paulo: Martins Fontes, 2000.
A superação da tradição jurídica oral no mundo antigo, descrita no texto, esteve relacionada à
À medida que as maneiras se refinam, tornam-se distintivas de uma superioridade: não é por acaso que o exemplo parece vir de cima e, logo, é retomado pelas camadas médias da sociedade, desejosas de ascender socialmente. É exibindo os gestos prestigiosos que os burgueses adquirem estatuto nobre. O ser de um homem se confunde com a sua aparência. Quem age como nobre é nobre.
(Adaptado de Renato Janine Ribeiro, A Etiqueta no Antigo Regime. São Paulo: Editora Moderna, 1998, p. 12.)
O texto faz referência à prática da etiqueta na França do século XVIII. Sobre o tema, é correto afirmar que:
O período compreendido entre 1964 a 1985, depois da deposição de Jango, o Brasil entra em uma nova trajetória onde o Trabalhismo de Getúlio Vargas e a era do Nacional-Desenvolvimento de Juscelino Kubitschek fica no passado e um novo período marcante da história surge, ou seja os anos de “Chumbo”. Em relação ao período pós 1964, marque a alternativa INCORRETA:
O índio era o único elemento então disponível para ajudar o colonizador como agricultor, pescador, guia, conhecedor da natureza tropical e, para tudo isso, deveria ser tratado como gente, ter reconhecidas sua inocência e alma na medida do possível. A discussão religiosa e jurídica em torno dos limites da liberdade dos índios se confundiu com uma disputa entre Jesuítas e colonos. Os padres se apresentavam como defensores da liberdade, enfrentando a cobiça desenfreada dos colonos.
CALDEIRA, J . A nação mercantilista. São Paulo: Editora 34, 1999 (adaptado).
Entre os séculos XVI e XVIII, os jesuítas buscaram a conversão dos indígenas ao catolicismo. Essa aproximação dos jesuítas em relação ao mundo indígena foi mediada pela
A República Brasileira começou com um Governo Provisório, encabeçado:
A emenda das “diretas já!”, criada pelo deputado Dante de Oliveira, foi um marco no fim do regime militar no Brasil e apresentou ao grande público as novas forças político-partidárias e seus lideres.
A opção em que aparece o partido e seu líder que NÃO participou da campanha das “diretas já!” é:
Em 509 a. C., Clístenes assumiu o poder em Atenas e implantou uma série de reformas que viriam a consolidar a democracia escravista naquela cidade-estado da Grécia Antiga. Dentre tais reformas, NÃO se pode apontar a
Ninguém desconhece a necessidade que todos os fazendeiros têm de aumentar o número de seus trabalhadores. E como até há pouco supriam-se os fazendeiros dos braços necessários? As fazendas eram alimentadas pela aquisição de escravos, sem o menor auxilio pecuniário do governo. Ora, se os fazendeiros se supriam de braços à sua custa, e se é possível obtê-los ainda, posto que de outra qualidade, por que motivo não hão de procurar alcançá-los pela mesma maneira, isto é, à sua custa?
Resposta de Manuel Felizardo de Sousa e Mello, diretor geral das Terras Públicas, ao Senador Vergueiro.
In: ALENCASTRO, L. F. (Org,). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1998 (adaptado).
O fragmento do discurso dirigido ao parlamentar do império refere-se às mudanças então em curso no campo brasileiro, que confrontaram o Estado e a elite agrária em torno do objetivo de
Em 2014, celebrou-se o centenário de nascimento do argentino Julio Cortázar. Cortázar foi
De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e quanto à regência verbal, assinale a alternativa incorreta.
A partir da leitura do texto, é correto concluir que
“Eu não só vi o Holocausto: eu o vivi. E sobrevivi para contar. Fui um dos poucos de uma família de 79 pessoas. Foi em julho de 1941 que os soldados alemães chegaram ao nosso povoado: Secureni, que ficava na então Bessarábia (hoje território da Ucrânia). Não demorou a vir pelos alto- falantes a ordem para que todos os judeus se reunissem na manhã seguinte, na praça próxima ao cemitério judaico. Devíamos levar nossos pertences e mantimentos. Quem não obedecesse seria fuzilado. Começou ali nossa marcha de 1.500 quilômetros - que fizemos sujos, doentes e famintos. Marchar longas distâncias era uma das formas que os nazistas usavam para exterminar os judeus. Aprendemos a aceitar a morte, de tão corriqueira.
Como sobrevivi? Graças aos valentes do povo ucraniano, que correram risco para salvar inocentes. Já em outubro daquele ano, na Ucrânia, minha mãe perdeu as forças em decorrência do tifo, uma doença comum durante a guerra. Conseguimos nos esconder numa vala. Com medo de que fôssemos descobertos, ela me pediu para abandoná-la. A decisão era complicada - me salvar, abandonando-a, ou ficar e correr o risco de ser capturado e morto. Eu fiquei. Ao anoitecer, vimos luzes em um povoado. Batemos numa porta, que foi aberta por uma mulher e sua filha, as duas cristãs. Comovidas com nossa história, elas nos acolheram e ficamos escondidos.
Em setembro de 1941, eu, minha mãe e meu pai passávamos perto de uma floresta. Lembro ainda das trincheiras cavadas e do cheiro de corpos em decomposição. Soldados convocavam homens mais velhos para ajudar na limpeza da estrada. Era mentira. Meu pai foi. Estava magro, com semblante abatido - lembro ainda que conversou alguns minutos com minha mãe. Beijou-me várias vezes e pediu que cuidasse dela. Nunca mais o vi. Foi fuzilado e jogado numa vala comum. Em 1944, depois de o Exército russo libertar os judeus, voltei ao lugar onde ele tinha morrido. Era primavera e tudo florescia na floresta - mas eu só me lembrava do dia cinza de anos atrás. Disse então um kadish, a prece milenar dos órfãos e enlutados judeus, com três anos de atraso.
Mas este não é um depoimento só de tristeza. Hitler quis construir um império de 1.000 anos. Não durou nem 15. Eu pude reconstruir minha vida no Brasil, esta terra abençoada. Minha história é prova de que é possível seguir em frente, mesmo que tenha lembranças tão terríveis como a do Holocausto. Como se faz isso? Vivendo um dia de cada vez, apoiando-se no amor que sentimos por nossa família. Não me esqueci do que passei. Ainda tenho pesadelos. Mas isso não encerrou minha vida. Encontrei o amor, tive meus filhos e reencontrei a alegria. Vim para o Brasil com minha mãe, quando eu tinha 20 anos. Parte de minha família já tinha se estabelecido no Recife e no Rio de Janeiro desde 1906. Escolhi o Rio. Quando cheguei, trabalhei como vendedor ambulante, batendo de porta em porta. Ainda me lembro da primeira venda: um cordão de ouro com uma medalha e um relógio. A dívida era registrada num cartão, com a data da cobrança. Passei 50 anos sem falar nesse assunto. Hoje, penso que tenho obrigação de divulgar as atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus, ciganos e outros povos. Histórias como a que vivi são uma bandeira para lutarmos por um mundo que respeite as diferenças.”
De acordo com o texto, podemos afirmar que:
Cafezinho
Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.
Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é exatamente esta frase:
— Ele foi tomar café.
A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um "cafezinho". Para quem espera nervosamente, esse "cafezinho" é qualquer coisa infinita e torturante. Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer:
— Bem, cavalheiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.
Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago:
— Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.
Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar:
— Ele está? - alguém dará o nosso recado sem endereço. Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo:
— Ele disse que ia tomar um cafezinho...
Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão:
— Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu
dele está aí...
Ah! fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar.
"Leio a reclamação de um repórter irritado...".
Tendo em vista o texto da crônica, entendemos por essa frase que o repórter
A pátria de chuteiras
O estilo de jogo e as celebrações dos torcedores são publicamente reconhecidos no Brasil como traços nacionais. Em um plano, temos o tão celebrado“futebol-arte” glorificado como a forma genuína de nosso suposto estilo de jogo, e o entusiasmo e os diversos modos de torcer como características típicas de ser brasileiro. Mas, no plano organizacional, não enaltecemos determinados aspectos, uma vez que eles falam de algo indesejado na resolução de obstáculos da vida cotidiana. Nesse sentido, tais traços do famoso “jeitinho” brasileiro não são considerados como representativos do Brasil que idealizamos.
Repetido diversas vezes e vendido para o exterior como uma das imagens que melhor retrata o nosso país, o epíteto “Brasil: país do futebol” merece uma investigação mais cuidadosa. Essa ideia foi uma“construção” histórica que teve um papel importante na formação da nossa identidade. Internamente a utilizamos,quase sempre, com um viés positivo, como uma maneira de nos sentirmos membros de uma nação singular, mais alegre.
Não negamos a sua força nem sua eficácia simbólica,mas começamos a questionar o papel dessa representação na virada do século, bem como a atual intensidade de seu impacto no cotidiano brasileiro.Se a paixão pelo futebol é um fenômeno que ocorre em diversos países do mundo, o que nos diferencia seria a forma como nos utilizamos dele para construirmos nossa identidade e conquistas em competições internacionais? Observemos, no entanto, que ser um aficionado não significa necessariamente se valer do futebol como metáfora do país.
A Copa do Mundo possui uma estrutura narrativa que estimula os nacionalismos. O encanto da competição encontra-se justamente no fato de “fingirmos”acreditar que as nações estão representadas por 11 jogadores. O futebol não é a nação, mas a crença de que ele o é move as paixões durante um Mundial.Mas, ao compararmos a situação atual com a carga emocional de 1950 e 1970, especulamos sobre a possibilidade de estarmos assistindo a um declínio do interesse pelo futebol como emblema da nação.
O jogador que veste a camisa nacional também representa clubes da Europa, além de empresas multinacionais. As marcas empresariais estão amalgamadas com o fenômeno esportivo. As camisas e os produtos associados a ele são vendidos em todas as partes do mundo. Esse processo de desterritorialização do ídolo e do futebol cria um novo processo e identidade cultural. Ao se enaltecer o futebol como um produto a ser consumido em um mercado de entretenimento cada vez mais diversificado, sem um projeto que o articule a instâncias mais inclusivas, oque se consegue é esgarçar cada vez mais o vínculo estabelecido em décadas passadas.
Se o futebol foi um dos fatores primordiais de integração nacional, sendo a seleção motivo de orgulho e identificação para os brasileiros, qual seria o seu papel no século 21? Continuar resgatando sentimentos nacionalistas por meio das atuações da seleção ou estimulá-los despertando a população para um olhar mais crítico sobre o papel desse esporte na vida do país?
No trecho “O estilo de jogo e as celebrações dos torcedores são publicamente reconhecidos no Brasil como traços nacionais" (l 1-3), o adjetivo reconhecidos concorda com o núcleo das expressões “estilo de jogo" e “celebrações dos torcedores", de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
A mesma justificativa pode ser identificada em
Desenredo
Do narrador seus ouvintes:
– Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém? Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.
Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas.
Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.
Até que deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro... Sem mais cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que a ferira, leviano modo.
[...]
Ela – longe – sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a aguentar-se, nas defeituosas emoções.
Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu, afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.
[...]
Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.
Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou leão. Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e homem. E viajou a mulher, a desconhecido destino.
Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova de remorsos.
Dedicou-se a endireitar-se.
[...]
Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com convicção manifesta. Haja o absoluto amar – e qualquer causa se irrefuta.
Pois produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim primeiro que todos.
Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao vento.
Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.
E pôs-se a fábula em ata.
ROSA, João Guimarães.Tutameia – Terceiras estórias . Rio de Janeiro: José Olympio, 1967. p. 38-40.
Vocabulário
frágio: neologismo criado a partir de naufrágio.
ufanático: neologismo: ufano+fanático.
Sobre o valor semântico da palavra destacada em “Era INFINITAMENTE maio.”, pode-se afirmar corretamente que:
A negação do meio ambiente
O século 20 conseguiu consolidar o apartheid entre a humanidade e as dinâmicas próprias dos ecossistemas e da biosfera. Até o final do século 19, quando nasceu meu avô, a vida na Terra, em qualquer que fosse o país, tinha estreitos laços com os produtos e serviços da natureza. O homem dependia de animais para a maior parte do trabalho, para locomoção e mal começava a dominar máquinas capazes de produzir força ou velocidade. Na maioria das casas, o clima era regulado ao abrir e fechar as janelas e, quando muito, acender lareiras, onde madeira era queimada para produzir calor.
Cem anos depois, a vida é completamente dominada pela tecnologia, pela mecânica, pela química e pela eletrônica, além de todas as outras ciências que tiveram um exponencial salto desde o final do século 19. Na maior parte dos escritórios das empresas que dominam a economia global, a temperatura é mantida estável por equipamentos de ar-condicionado, as comunicações são feitas através de telefones sem fio e satélites posicionados a milhares de quilômetros em órbita, as dores de cabeça são tratadas com comprimidos, e as comidas vêm em embalagens com códigos de barra.
Não se trata aqui de fazer uma negação dos benefícios do progresso científico, que claramente ajudou a melhorar a qualidade de vida de bilhões de pessoas, e também deixou à margem outros bilhões, mas de fazer uma reflexão sobre o quanto de tecnologia é realmente necessário e o que se pode e o que não se pode resolver a partir da engenharia. As distâncias foram encurtadas e hoje é possível ir a qualquer parte do mundo em questão de horas, e isso é fantástico. No entanto, nas cidades, as distâncias não se medem mais em quilômetros, mas sim em horas de trânsito. E isso se mostra um entrave para a qualidade de vida.
Há certo romantismo em pensar na vida em comunhão com a natureza, na qual as pessoas dedicam algum tempo para o contato com plantas, animais e ambientes naturais. Eu pessoalmente gosto e faço caminhadas regulares em praias e trilhas. Mas não é disso que se trata quando falo na ruptura entre a engenharia humana e as dinâmicas naturais.Há uma crença que está se generalizando de que a ciência, a engenharia e a tecnologia são capazes de resolver qualquer problema ambiental que surja. E esse é um engano que pode ser, em muitos casos, crítico para a manutenção do atual modelo econômico e cultural das economias centrais e, principalmente, dos países que agora consideramos “emergentes”.
Alguns exemplos de que choques entre a dinâmica natural e o engenho humano estão deixando fraturas expostas. A região metropolitana de São Paulo está enfrentando uma das maiores crises de abastecimento de água de sua história. As nascentes e áreas de preservação que deveriam proteger a água da cidade foram desmatadas e ocupadas, no entanto a mídia e as autoridades em geral apontam a necessidade de mais obras de infraestrutura para garantir o abastecimento, como se a produção de água pelo ecossistema não tivesse nenhum papel a desempenhar.
No caso da energia também existe uma demanda incessante por mais eletricidade, mais combustíveis e mais consumo. Isso exige o aumento incessante da exploração de recursos naturais e não renováveis. Pouco ou nada se fala na elaboração de programas generalizados de eficiência energética, de modo a economizar energia sem comprometer a qualidade de vida nas cidades.
Todos esses dilemas, porém, parecem alheios ao cotidiano das grandes cidades. A desconexão vai além da simples percepção, nas cidades as pessoas se recusam a mudar comportamentos negligentes como o descarte inadequado de resíduos ou desperdícios de água e energia. Há muito a mudar. Pessoas, empresas, governos e organizações sociais são os principais atores de transformação, mudanças desejáveis e possíveis, mas que precisam de uma reflexão de cada um sobre o papel do meio ambiente na vida moderna
Na conjugação do verbo surgir, alterna-se o uso da letra g e da letra j.
Outro verbo em cuja conjugação se observa a alternância dessas letras é: