A crônica narrativa é um modelo de crônica que narra as ações de um determinado personagem ou fatos históricos e cotidianos com uma linguagem simples, leve e direta, seguindo uma lógica cronológica. É também definido como um texto narrativo, dissertativo-argumentativo ou descritivo.
Muitos cronistas utilizam do humor para relatar determinados acontecimentos em suas crônicas narrativas e por essa razão, tendem a envolver, interessar e divertir mais o leitor.
É comum ver publicações de crônicas em jornais, rádios e revistas, onde geralmente o autor tem uma coluna semanal já que o público tende a gostar bastante deste estilo.
Uma crônica pode apresentar discurso direto e reprodução de falas dos personagens. O escritor de crônicas tem liberdade para trazer no seu texto a sua visão crítica e opinião de fatos, já que ele atua como um observador de uma determinada cena.
A crônica narrativa é por essência um estilo de texto bem flexível.
Como fazer uma crônica narrativa
Para produzir uma boa crônica narrativa é preciso, antes de tudo, observar bastante o cenário, cena ou fato que se deseja descrever. Confira na lista abaixo mais algumas dicas de como escrever uma boa crônica:
- Introdução: no início do texto o autor deve apresentar de forma breve e objetiva o cenário em que o texto vai ser desenvolvido, ou seja, o contexto do assunto para que o leitor consiga compreender a situação de maneira clara;
- Inspiração: o autor deve buscar uma situação cotidiana que lhe inspire, para que ele consiga desenrolar o texto de maneira leve e detalhar os impactos do tema na vida e cotidiano das pessoas;
- Personagens: o autor deve escolher os personagens principais e/ou secundários que estarão presentes no texto, lembrando que neste tipo de crônica, quanto menos personagens, melhor;
- Foco narrativo: é importante manter a fluidez na abordagem do tema escolhido, lembrando sempre que o assunto deve ser apresentado de forma leve;
- Conclusão: no final do texto deve estar a opinião ou visão principal do autor, de forma clara, sobre o tema escolhido.
Confira abaixo um exemplo de crônica em trecho escrito por Luís Fernando Veríssimo, intitulada “A Bola”.
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar sua primeira bola do pai. Uma número 5 oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola. O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “legal”, ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
– Como é que liga? – Perguntou.
– Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
– Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.
– Não precisa manual de instrução.
– O que é que ela faz?
– Ela não faz nada, você é que faz coisas com ela.
– O quê?
– Controla, chuta…
– Ah, então é uma bola.
Uma bola, bola. Uma bola mesmo. Você pensou que fosse o quê?
– Nada não.
O garoto agradeceu, disse “legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da TV, com a bola do seu lado, manejando os controles do vídeo game. Algo chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de Blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensinou algumas embaixadinhas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
– Filho, olha.
O garoto disse “legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e o cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro do couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês pra garotada se interessar.
Neste texto é possível observar algumas características de uma crônica narrativa, como por exemplo os diálogos entre os personagens e a apresentação de uma situação simples e cotidiana.
Outros tipos de crônicas
Além da crônica narrativa, existem outros tipos de crônica:
- Crônica argumentativa: tem o intuito de argumentar sobre determinado assunto, mostrando uma opinião favorável ou contra, e não apenas apresentar os fatos.
- Crônica literária: muito semelhante à narrativa, também tem o objetivo de contar uma história e externar o ponto de vista do autor sobre tal, porém de uma maneira mais literária. Uma escritora que se utilizou muito desse estilo foi Clarice Lispector.
- Crônica humorística: como o próprio nome diz, nesse caso o autor se utiliza do humor para abordar assuntos importantes.
Importantes cronistas brasileiros
Diversos nomes da literatura brasileira se destacaram ao longo da história como referência no estilo da crônica e seus tipos, incluindo a crônica narrativa, entre eles:
- Machado de Assis
- João do Rio
- Cecília Meireles
- Rubem Braga
- Lima Barreto
- Paulo Mendes de Campos
- Clarice Lispector
- Vinicius de Moraes
- Nelson Rodrigues
- Carlos Drummond de Andrade
- Mario Prata
- Millôr Fernandes
- Rachel de Queiróz
- Manuel da Fonseca
- Menotti del Picchia
- Marcelo Mirisola
- Martha Medeiros
- Carlos Heitor Cony