Resumo de História - Cangaço

O cangaço foi uma organização social que surgiu na região Nordeste, especificamente no sertão, ao final do século XIX e início do século XX, e tinha como principal objetivo lutar contra as desigualdades sociais.

O termo cangaço deriva da palavra “canga”, que era um objeto de madeira que ficava preso na cabeça do boi e prendia-o a carros ou arados para facilitar o transporte.

Os integrantes desse movimento social eram chamados de cangaceiros, uma forma pejorativa de identificação por conta do modo de vida, como também pelas vestimentas bem peculiares: roupas e chapéus confeccionados em couro, peças bem coloridas e enfeitadas com símbolos culturais da região nordestina.

Características dos cangaceiros

A roupa dos cangaceiros tinha um objetivo muito importante: a proteção do corpo. Isso porque no clima semiárido do sertão essas vestimentas os protegiam dos raios solares, dos espinhos da caatinga e, principalmente, nas lutas corpo a corpo.

Outro detalhe quanto aos trajes dos cangaceiros eram seus armamentos que, juntamente com a roupa, formavam um conjunto que tornou-se notório nessa parte do Brasil.

Os cangaceiros carregavam diversos tipos de armas penduradas na cintura, como carabinas – um tipo de espingarda curta – revólveres de vários calibres, o bacamarte (antiga arma de fogo com o cano largo), espingardas e muitas facas conhecidas como peixeiras.

Considerado uma das maiores autoridades acadêmicas sobre o cangaço no país, o historiador Frederico Pernambucano de Mello comparou a peculiaridade das vestimentas dos cangaceiros com a dos cavaleiros da Europa medieval e dos samurais do Japão.

De toda a indumentária recheada de símbolos culturais, os chapéus dos cangaceiros se destacava. Isso porque possuíam abas dobráveis e continham imagens que representavam proteção e poder.

Tempos depois, o chapéu dos cangaceiros passou a ser o elemento de identidade cultural do sertão nordestino.Inclusive, no período de campanha eleitoral alguns candidatos a cargos eletivos na região nordestina usam esse chapéu para obter a aproximação com o eleitorado.

Dessa maneira, os integrantes do cangaço conseguiram entrar para o imaginário nacional e inspiraram, inclusive, as estórias da literatura de cordel, roteiros para o cinema e criação de personagens com espírito aventureiro e corajoso.

Cangaço e banditismo rural no Nordeste

Os bandos do cangaço circulavam pelas cidades e vilarejos do Nordeste realizando diversas ações que ficaram marcadas na História do Brasil como banditismo rural.

Naquele período do Brasil Colônia, houve a mudança da capital para a cidade do Rio de janeiro, em 1763. Desde então, a região nordestina perdeu o prestígio econômico nacional da produção açucareira.

Essa nova realidade acarretou no aprofundamento das mazelas sociais da população, provocando ondas de rebeliões populares em anos seguintes, como a Balaiada e a Sabinada.

Mesmo depois da Proclamação da República, em 1889, a realidade social do sertão nordestino em nada mudou, pois imperava a fome, pobreza, desemprego e, sobretudo, a estrutura fundiária do Brasil concentrada nas mãos dos coronéis, que submetiam as pessoas a trabalho escravo e não deixavam que terras improdutivas fossem ocupadas.

Então, diante de uma sociedade essencialmente agrária, latifundiária e sem a presença do Estado, foi na ilegalidade do cangaço que os nordestinos buscaram seus próprios interesses.

Roubos, destruição, assassinatos e saques nas fazendas dos coronéis foram as formas que os cangaceiros encontraram para reagir à opressão do poder político e econômico que imperava na região nordestina.

Alguns deles protegiam e eram protegidos por pessoas de posses e cobravam por isso. Assim, havia uma relação de troca de favores com pessoas de alto poder aquisitivo.

Um determinado político, por exemplo, poderia dar proteção para os cangaceiros em troca de serviços de vingança a um inimigo seu, que poderia ser a encomenda da morte ou saque da propriedade.

Os protetores dos cangaceiros eram chamados de coiteiros. Certamente, por conta dessa proteção recebida de poderosos que o cangaço se fortaleceu e conseguiu permanecer por mais de uma década.

Casal ícone do cangaço: Lampião e Maria Bonita

O cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, e sua esposa Maria Gomes de Oliveira, vulgo Maria Bonita, tornaram-se o casal ícone do cangaço graças a bravura e representatividade que ganharam nos anos de lutas contra as injustiças sociais.

Lampião iniciou com o bando de cangaceiros em Pernambuco, onde nasceu, em 1919. Suas ações ganharam tanta notoriedade que passaram a ser noticiadas pela imprensa pernambucana.

No governo de Getúlio Vargas, as forças policias chamadas de volantes perseguiram freneticamente os cangaceiros. No dia 28 de julho de 1938, em uma emboscada, houve simbolicamente o fim do cangaço com a morte e decapitação de Lampião e demais componentes do bando, na região de Angico, no estado de Sergipe.

Principais cangaceiros

Além de Lampião e Maria Bonita, destacaram-se ainda os seguintes cangaceiros:

  • Anisio Marculino (Gasolina)
  • Antonio dos Santos (Cobra Verde)
  • Antônio Inácio (Moreno)
  • Ezequiel Ferreira da Silva (Beija-Flor)
  • Domingos dos Anjos (Serra do Uman)
  • Hermínio Xavier (Chumbinho)
  • Izaias Vieira (Zabêlê)
  • Januário Garcia Leal (Sete Orelhas)
  • Jesuíno Alves de Melo Calado (Jesuíno Brilhante)
  • Joaquim Mariano Antonio de Severia (Nevoeiro)
  • José de Souza (Tenente)
  • João Mariano (Andorinha)
  • Laurindo Virgolino (Mangueira)
  • Lucas Evangelista (Lucas da Feira)
  • Manoel Baptista de Morais (Antônio Silvino)

Cangaço na música

Até mesmo o compositor e importante cantor da Música Popular Brasileira, Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989), conhecido como o “Rei do Balão”, realizava seus shows com roupas dos cangaceiros.

Gonzagão, como era chamado, também escrevia ou cantava canções que relatavam a situação de pobreza do sertão nordestino e as ações do cangaço na região.

Confira abaixo o trecho da música “Lampião falou”, dos compositores Aparício Nascimento e Venâncio, e interpretada por Luiz Gonzaga, que fala do atual de cangaço brasileiro:

Aos 28 de julho
Eu passei por outro lado
Foi no ano 38
Dizem que fui baleado
E falam noutra versão
Que eu fui envenenado

Sergipe, Fazenda Angico
Meus crimes se terminaram
O criminoso era eu
E os santinhos me mataram
Um lampião se apagou
Outros lampiões ficaram } bis

O cangaço continua
De gravata e jaquetão
Sem usar chapéu de couro
Sem bacamarte na mão
E matando muito mais
Tá cheio de lampião
E matando muito mais
Tá assim de lampião
E matando muito mais

Na cidade e no sertão
E matando muito mais
Tá sobrando Lampião [grifos nossos]

Essa canção pode ser interpretada ainda como uma crítica à política brasileira, uma vez que o descaso dos representantes aprofundava ainda mais a situação de desigualdade social daquela região do país.

Foi justamente contra a política e o poder nas mãos de poucos que o cangaço lutou. Os cangaceiros agiam contra as leis e em prol da justiça social.