Resumo de Português - A Linguagem do Trovadorismo

A linguagem do Trovadorismo era literária, dialógica e cheia de poesia. As produções poéticas dos provadores envolviam vários tipos de textos e com uma variedade de temas. Elas sempre eram acompanhadas de melodias.

Os menestréis, nome dado aos cantores desse movimento, executavam as cantigas ao som de instrumentos musicais como a lira, os alaúdes, as flautas.

Como esse movimento surgiu no século XII, os registros mais comuns são as poesias e cantigas, porque elas foram transcritas e arquivadas em cancioneiros.  

Atualmente, são as produções que estavam guardadas que permitem aos pesquisadores e aos curiosos entenderem um pouco mais sobre a linguagem do Trovadorismo e todos os outros aspectos que envolvem a manifestação.

Para entender melhor a linguagem do Trovadorismo, é preciso saber o contexto em que esse movimento surgiu. Vamos estudá-lo?

O Trovadorismo

O Trovadorismo foi um movimento que marcou a história da literatura. Surgiu na Idade Média, mais precisamente no século XI, no antigo condado da Provença, sudeste da França.

O movimento teve aceitação em todos os países da Europa. Seu apogeu foi no século XII e declínio no século XIV, quando o Humanismo começou a expandir suas ideias.

A Idade Média compreendeu um período de aproximadamente dez séculos, e se dividiu em Alta Idade Média e Baixa Idade Média, época em que surgiu o Trovadorismo. Nesse ínterim, vários sistemas se altercaram.

Algumas culturas predominaram por mais tempo e resultaram nos elementos principais que configuram a época. São eles:

  • O feudalismo, uma estrutura socioeconômica que valorizava a posse da terra e se baseava nas relações servis;
  • O sistema monárquico em que o rei era uma autoridade instituída por Deus na terra;
  • Novas rotas comerciais;
  • As cruzadas, guerras santas, invasões no território da Palestina;
  • Peste Negra, que dizimou boa parte da população da Europa.

E em cada um desses aspectos havia a presença da Igreja Católica. Não somente como uma referência espiritual, a Igreja Medieval era soberana nos setores político e econômico também. Inclusive, a instituição era uma das que mais tinham terras e serviçais ao seu dispor.

Essa é uma das características mais marcantes desse período. Em praticamente todas as áreas sociais, como saúde, economia, cultura, educação e principalmente a religião, a instituição católica tinha o controle.

Foi justamente o comando católico sobre as instituições e a crença no teocentrismo (Deus no centro do universo) que influenciou os principais movimentos artísticos e literários que surgiram na época.

Alguns artistas eram mais críticos e com o passar do tempo, durante o desenvolvimento das ideias iluministas na Idade Moderna, as pessoas começaram a ter mais autonomia e a pensar livremente.

A Linguagem do Trovadorismo

A linguagem do Trovadorismo era constituída de um poema ou poesia cantada. Como a língua portuguesa ainda não estava bem definida, é muito comum ver nas cantigas a presença de uma mistura de galego português, arcaico e provençal do sul francês com um pouco de castelhano.

Na Idade Média poucas pessoas sabiam ler, a tradição oral era muito comum. A declamação, dramatizar com gestos e expressões os textos poéticos, configurava a linguagem do Trovadorismo. 

Elas tinham ritmo e eram acompanhadas por instrumentos musicais, como violas de arco, soalhas, pandeiros, cítaras, gaitas e tantos outros instrumentos medievais.

Os artistas do Trovadorismo eram classificados de acordo com a sua classe social. Eles eram divididos em:

  • Trovadores – Músicos da alta nobreza;
  • Segrel – Também era nobre, mas de classe inferior ao trovador. O Segrel também era poeta, cantor;
  • Jogral – Escreviam canções e também as interpretavam;
  • Menestrel – Cantor;
  • Soldadeira – Uma mulher que acompanhava o jogral.

Cantigas do Trovadorismo

A linguagem do Trovadorismo é feita principalmente de cantigas. Elas são divididas em:

  • Cantigas do tipo Lírica – Incluem as “cantigas de amor” e “cantigas de amigo”. São escritas para homenagear, fazer elogios, declarações.
  • Cantigas do tipo Satírica – Formadas por “cantigas de escárnio” e “cantigas de maldizer”. Produzidas para fazer críticas a sociedade, ao comportamento da nobreza e da população geral. 

Nas cantigas de amor o eu lírico é sempre masculino, esse tipo de cantiga tem origem provençal, no sul da França. Essas são as poesias que falam sobre o amor não correspondido e infelicidade.

Os autores também utilizavam a divisão de classes da época para exemplificar a relação entre o homem e a mulher. Nas trovas, eles eram os vassalos e as amadas eram as suseranas, ou seja, os homens eram inferiores e as mulheres superiores. Com esse exemplo, reconheciam que a correspondência era impossível.

Abaixo, um trecho da Cantiga da Ribeirinha escrita por Paio Soares de Taveirós no fim do século XII. O nome da cantiga é uma homenagem a D.Maria Pais Ribeira, a “Ribeirinha”, mulher para quem a composição foi dedicada.

No mundo non me sei parelha,
mentre me for’ como me vai,
ca ja moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

Por conta da mistura de línguas, a compreensão fica um pouco difícil. As palavras “mia senhor”, por exemplo, são na verdade “minha senhora”. Mas a língua portuguesa ainda não tinha o feminino para os pronomes e substantivos.

As cantigas de amigo são originárias da Península Ibérica, por isso eram mais populares. Aqui o amor é representado pelo eu lírico feminino. As mulheres não eram compositoras, os trovadores se passavam por mulheres.

Nessas cantigas, a relação amorosa dos camponeses era o tema central. Era através desse tipo de trova que a linguagem do Trovadorismo alcançava as classes mais baixas.

As canções eram dialógicas, paralelísticas, formadas por dois versos e um refrão. A visão feminina do amor tratava de um romance real, possível e saudosista. Eram poesias dedicadas a um falecido que faz falta, marido ou amigo que está longe.

A linguagem do Trovadorismo não era feita somente de afeto, tinha muita crítica também. Até porque essa literatura acompanhava o contexto em que estava inserida. 

Nas cantigas satíricas, as ironias e depreciações aconteciam em todo o tempo.

O escárnio era a linguagem do Trovadorismo que usava as palavras de duplo sentido, os trocadilhos, as indiretas.

Os trovadores que usavam essa estrutura ridicularizavam o comportamento da nobreza, falavam mal das mulheres que fugiam do padrão de conduta. Mas tudo isso era feito sem revelar a identidade. Diferente do que acontecia nas cantigas de maldizer.

Temos como exemplo a trova “Dona fea” de Joao Garcia de Guilhade, em que ele chama uma mulher de feia, velha e louca.

Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv’en meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

É provável que as cantigas de maldizer tenham sido a  a linguagem do Trovadorismo mais marcante. Aqui as críticas vinham de modo explícito. As pessoas eram identificadas nas poesias através dos nomes.

Os trovadores utilizavam palavrões para ofender e difamar as pessoas que seriam “malditas” nas cantigas.  Geralmente, a temática era a conduta duvidosa da nobreza e do clero.

Boa parte das obras se perderam ou foram queimadas. O que restou foi parar nos cancioneiros, um livro onde todas as obras dos trovadores estão reunidas.

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