A linguagem do Naturalismo no Brasil teve marco inicial com a obra O Mulato de Aluísio de Azevedo. O Naturalismo surgiu como uma ramificação do Realismo, e essas escolas literárias possuem muitas características similares.
Ambas linguagens possuem cunho crítico, têm o mesmo foco, porém voltado para públicos diferentes. Enquanto a linguagem do Realismo buscava criticar a burguesia, a linguagem do Naturalismo critica a classe baixa. Ambas fazem uma observação ao organismo social.
O Naturalismo trabalha também com a animalização do homem, no que diz respeito ao sentir, aos desejos, os cheiros e outros aspectos.
Principais características da linguagem naturalista
A linguagem do Naturalismo surgiu no Rio de Janeiro, paralelo a diversos acontecimentos sociais, o que influenciou diretamente a forma de se escrever do período. No contexto histórico ela vem junto com a Segunda Revolução Industrial, Segundo Reinado, com abolição da escravatura, e com a Proclamação da República.
A linguagem do Naturalismo fez parte de um momento de muitos acontecimentos, onde o capitalismo e o financeiro estavam em total evidência. Com isso, o aumento da mão de obra era cada vez mais crescente, o que exigia mais maquinário e mais pessoas trabalhando.
Os momentos influenciaram completamente a produção da época. Uma sociedade que caminhava no sentido de quebrar paradigmas, criando assim um momento de transição de costumes. Os autores se inclinaram à crítica e à observação dos acontecimentos marcantes na história do Brasil.
Na política, Dom Pedro II estava no final do império.
Pautada por esses movimentos, a linguagem Naturalista tem como principais características:
- Linguagem coloquial
- Observação da realidade
- Retrato objetivo da sociedade
- Evolucionismo, Cientificismo e Positivismo
- Forte descrição de ambientes e personagens
- Problemas humanos e sociais: patologias psíquicas e físicas
A linguagem do Naturalismo: obras
A linguagem do Naturalismo segue a mesma tendência de Portugal. Porém, nas obras, a questão dos instintos humanos são retratadas de forma mais acentuada no Brasil. As relações são expostas de forma mais erótica e animal. O autor que mais se destacou no período foi Aluísio de Azevedo.
As obras descrevem também a pobreza social, as doenças, e as mazelas da sociedade. Entre elas as mais famosas são: O Cortiço, Casa de Pensão e O Mulato, de Aluísio de Azevedo, Luzia-Homem de Domingos Olímpio, A Carne de Júlio Ribeiro e Bom Crioulo de Adolfo Caminha.
Para conhecer melhor o contexto histórico e as peculiaridades da linguagem do Naturalismo, seguem os resumos e trechos de O Cortiço e O Mulato:
O Cortiço: A obra gira em torno de diversos personagens, entre eles, João Romão que é um quitandeiro mesquinho que quer enriquecer a qualquer preço. Do lado da quitanda vive Bertoleza, dona de um pequeno e simples restaurante. Ela é uma escrava fugitiva.
Os dois tiveram um romance e começam a trabalhar no restaurante. Como ela é uma escrava ilegal, pede a Romão que compre a alforria dela. Ele compra uma alforria falsa, barata e rouba o restante do dinheiro que a escrava lhe deu.
Miranda é outro personagem da alta sociedade, rico, que briga por um pedaço de terra do com João Romão, que planeja construir um cortiço no local.
Romão consegue o pedaço de terra e constrói um cortiço de terceira linhagem, onde moram lavadeiras, prostitutas, trabalhadores industriais e pessoas comuns, como a Rita Baiana, uma brasileira que se casa com um português.
Outros personagens compõem a história, como a esposa do Miranda, dona Estela, que se envolve com um rapaz chamado Henrique, um estudante de medicina.
O cortiço mostra a realidade da sociedade pobre do Brasil, com características culturais, como música que se escuta: samba, e a linguagem naturalista dos personagens, direta e coloquial.
Trecho do livro: “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.”
O Mulato
Conta a história da escrava Dominga e seu filho Raimundo, fruto de uma relação com seu senhor José Pedro, dono da Fazenda São Brás. Dona Quitéria, esposa de José Pedro descobre a traição e manda esfolar a escrava.
José Pedro temendo que a esposa tramasse algo contra vida de seu filho Raimundo, leva o menino para casa do irmão Manoel Pescada, e pede que o tio mais tarde leve-o para estudar em Portugal.
Quando retorna para a fazenda, José Pedro encontra a esposa em ato sexual com o padre Diogo. Chocado com a cena, ele a mata. Ambos guardam o segredo e afirmam para sociedade que a mulher morreu de causas naturais. Mas o padre Diogo na verdade planejava vingança contra José Pedro, e acaba o mantando mais tarde.
Logo, o irmão cumpre o desejo de João Pedro, e leva Raimundo para estudar em Portugal. Em Lisboa, Raimundo enfrentou preconceito por ser o único negro da turma, mas se formou e virou advogado.
Anos mais tarde retorna ao Brasil e se apaixona por sua prima Ana Rosa, que também se apaixona por ele. O romance foi proibido pela família, que discriminava Raimundo.
Padre Diogo descobre que o casal planejava fugir juntos, e mata Raimundo. Ana Rosa casou-se com um homem de sociedade.
Trecho do livro: “O passeio à Europa não só lhe beneficiara o espírito, como o corpo. Estava muito mais forte bem exercitado e com uma saúde invejável. Gabava-se de ter adquirido grande experiência do mundo; conversava à vontade sobre qualquer assunto tão bem sabia entrar numa sala de primeira ordem como dar uma palestra entre rapazes numa redação de jornal ou na caixa de um teatro. E em pontos de honra e lealdade, não admitia, com todo o direito, que houvesse alguém mais escrupuloso do que ele.
Foi nessa bela disposição de espírito, feliz e cheio de esperanças no futuro que Raimundo tomou o “Cruzeiro” e partiu para a capital de São Luís do Maranhão.”
Autores que se destacaram
Principais autores do Brasil
- Aluísio de Azevedo (1857-1913)
- Raul Pompeia (1863-1895)
- Adolfo Ferreira Caminha (1867-1897)
- Júlio Ribeiro
Principais autores em Portugal
- Francisco Teixeira de Queirós (1848-1919)
- Júlio Lourenço Pinto (1842-1907)
- Abel Botelho (1854-1917)