Questão 39 do Concurso Prefeitura Municipal de Cândido de Abreu - Professor - Educação Básica - IBAM (2017)

TEXTO: SEM LIMITES

       Critica-se por aí a falta de limite das crianças. Reclama-se dos adolescentes criados sem limites. No quarto escuro do caos, esperamos que a luz do limite venha pôr a bagunça em ordem. Nem adultos escapam da exigência geral. Impõem-se leis rígidas contra o consumo do álcool, fecham-se as casas de jogos.

      Para muitos basta dar “limites” para realizar uma boa educação, como se a experiência do limite sozinha pudesse ser a salvação para alguém que se perdeu. Um “não” dito em tom solene aqui, ou acolá, e estaria feita a mágica. Sabemos que não funciona assim. Professores contam com soluções vindas de casa. Pais desatentos ou ocupados esperam que os limites sejam produzidos na escola, como se encontrar o “limite” fosse tarefa da educação formal. Nem uma coisa nem outra. Parece que o limite se tornou uma palavra a carregar a culpa para o lado oposto onde cada um está.

            A tarefa de dar limite é uma das tantas que esperamos dos outros. Todos sabemos que ela dá muito trabalho. Muitas vezes nem sabemos, os responsáveis, do que se trata. Talvez não confiemos na possibilidade de que limite seja a resposta para nossos problemas na educação, nos relacionamentos, pois nós mesmos não nos damos limites. Somos autoindulgentes, autopiedosos, sempre prontos a perdoar as nossas falhas. A revolta contra as leis é sinal de que não vemos vantagem dos limites para nós mesmos. A culpa – e o problema – é dos outros.

         O filósofo grego Aristóteles dizia que qualquer coisa não existe para além do limite. Tudo o que existe precisa de um limite para existir. Para saber o que algo é e onde está se usa a noção do limite. Limite é sinônimo de forma. Não podemos saber o que é uma casa se não reconhecemos seus limites concretos, arquiteturais, que são, afinal, formais. Se pensarmos bem, todo o nosso modo de ver o mundo, de pensar, de entender as coisas, depende deste conceito.

        Em termos éticos, os antigos entendiam o limite como autodomínio, capacidade de controlar as próprias paixões, de viver no meio-termo. Limite era tudo que tanto impedia como possibilitava movimentos. Qualquer ação dependia de limites no espaço e no tempo. Mas também dos limites externos ou internos de quem agia

      Todo limite é uma experiência que se formula na relação com o outro. Entre mim e o outro há sempre um espaço imponderável. Neste vazio entre “eu” e “tu”, a melhor coisa a ser colocada é o respeito. Se o limite é a experiência que permite saber até onde se pode chegar e, com sorte, a protetora dor de saber aonde não se deve ir, o respeito é a única de todas as experiências que não pode ter limite. Porque respeito é o modo de olhar para o outro como algo positivo, ver nele sua potência de ser, como alguém que, mesmo me sendo próximo, carrega em si algo que não pode dizer sobre si mesmo para mim, e, por isso mesmo, sempre será intocável.

Adaptado de marciatiburi.com.br.



Dentre os valores da palavra “se”, está o de indicar uma condição, o que é observado em:

  • A Muitas vezes nem sabemos, os responsáveis, do que se trata. (l. 26-28)
  • B Para saber o que algo é e onde está se usa a noção do limite. (l. 41-42)
  • C Não podemos saber o que é uma casa se não reconhecemos seus limites (l. 43-45)
  • D a protetora dor de saber aonde não se deve ir, (l. 66-67)