O que os outros vão pensar?
Quando eu era pequena, não tinha medo nenhum de bicho-papão, mula-sem-cabeça, bruxa malvada ou o diabo a quatro. Quem me aterrorizava era outro tipo de monstro. Eles atacavam em bando. Chamavam-se “Os Outros”.
Nada podia ser mais danoso do que Os Outros. As crianças acordavam de manhã já pensando neles. Quer dizer, as crianças não: as mamães. Era com Os Outros que elas nos ameaçavam caso não nos comportássemos direito. Se não estudássemos, Os Outros nos chamariam de burros. Se não fôssemos amigos de toda a classe, Os Outros nos apelidariam de Bicho-do-Mato. Se não emprestássemos nossos brinquedos, Os Outros nunca mais brincariam conosco. E o pior é que as mães não mantinham a lógica do seu pensamento. “Mas mãe, todo mundo dorme na casa dos amigos.” “Eu lá quero saber dos Outros? Só me interessa você!” Era de pirar a cabeça de qualquer um. Não víamos a hora de crescer para nos ver livres daquela perseguição.
Veio a adolescência, e que desespero: descobrimos que Os Outros estavam mais fortes que nunca, ávidos por liquidar com nossa reputação.
“Você vai na festa com essa calça toda furada? O que Os Outros vão dizer?”
“Filha minha não viaja sozinha com o namorado, não vou deixar que vire comentário na boca dos Outros.”
Não tinha escapatória: aos poucos fomos descobrindo que Os Outros habitavam o planeta inteiro, estavam de olho em todas as nossas ações, prontos para criticar nossas atitudes e ferrar com nossa felicidade.
Hoje eles já não nos assustam tanto. Passamos por poucas e boas e , no final de contas, a opinião deles não mudou o rumo de nossa história. Mas ninguém em sã consciência pode se considerar totalmente indiferente a eles. Os Outros ainda dizem horrores de nós. Ainda têm o poder de nos etiquetar, de nos estigmatizar. A gente bem que tenta não dar bola, mas sempre que dá vontade de entregar os pontos ou de chorar no meio de uma discussão, pensamos: “Não vou dar esse gostinho para Os Outros”.
Está para existir monstro mais funesto do que aquele que poda nossa liberdade.
Segundo o texto, a autora.
- A condena veemente as mães que intimidam seus filhos diante do julgamento alheio.
- B sempre se viu nas mãos da opinião alheia e nunca conseguiu enfrentá-la completamente.
- C afirma que nunca vamos ser indiferentes ao olhar crítico dos que nos avaliam e julgam nossas ações.
- D afirma que se importar ou não com a opinião alheia é uma forma de cada um enfrentar o problema.
- E acha correto se importar com o julgamento alheio à medida que esse não afete tanto a vida em sociedade.